“Do Fundo do Poço Se Vê a Lua” do escritor Joca Reiners Terron é mais um livro enquadrado no projeto “Amores Expressos”, onde a Companhia das Letras leva os autores para passar um período em cidades estrangeiras a fim de utilizá-las como localidade para o romance. No caso específico de Joca Terron, a cidade escolhida foi o Cairo no Egito e pelo que se lê as impressões por ele retiradas e transpostas não foram as melhores nem as mais lisonjeiras.
A nova história do autor de “Hotel Hell” e “Sonho Interrompido por Guilhotina” é fundamentada nos gêmeos William e Wilson, que apesar de idênticos guardam todas as diferenças do mundo dentro dos genes. Ambientado tanto na São Paulo do começo dos anos 80 quanto atualmente na cidade do Cairo, o livro traça uma trama de cumplicidade, intolerância, duplicidade e mistérios. O próprio nome só faz algum sentido nas páginas finais.
Criados dentro de casa pelo pai, os gêmeos não tinham contato com o restante do mundo até os 17 anos e uma tragédia. Seu pai, um ator de teatro que já vivera bons momentos optou por criar os filhos assim, depois que a esposa morreu. Como ela era procurada pelo regime de ditadura que reinava no país, o medo de se expor era real e plausível. A infância e a adolescência dos gêmeos foi constantemente entrecortada por textos clássicos e filmes antigos.
Depois da tragédia citada, os gêmeos se separam e vamos conhecendo sua história pouco a pouco. Um deles se envolve no submundo da prostituição paulista, vivendo e embelezando travestis como se fossem atrizes de Hollywood, até que devido a uma fixação pela Cleópatra interpretada por Elizabeth Taylor no filme de 1963, ruma para o Egito e outras aventuras. O outro gêmeo fica esquecido e só aparece quando chega ao Cairo para resgatar seu irmão.
Nas 280 páginas da história, Joca Reiners Terron mesmo com um ritmo lento extrai bons momentos e explora situações que por sua estranheza própria rendem um resultado interessante. No entanto, “Do Fundo do Poço Se Vê a Lua" sofre de inconstância. Ao mesmo tempo em que emenda uma ótima sacada emoldurando “Walk On The Wild Side” do Lou Reed pelo meio, se perde em devaneios pouco interessantes e reflexões desnecessárias.
Blog do escritor: http://jocareinersterron.wordpress.com
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