Com “Chicago” de 2002, Rob Marshall elevou novamente o musical como cinema e arrebatou seis Oscar. Por mais que um ano antes “Moulin Rouge” tenha iniciado o caminho para essa façanha foi com “Chicago” que o gênero foi devidamente ressuscitado. O diretor volta para esse estilo em “Nine”, filme do ano passado que chega agora em DVD e que traz no roteiro Michael Tolkin (de “O Jogador”) e o falecido Anthony Minghella (de “O Paciente Inglês”).
A ótima dupla de roteiristas tinha nas mãos um trabalho nada fácil. Precisava criar a história se baseando tanto no musical da Broadway que dá nome ao filme e estreou em 1982 com Raul Julia no papel principal, como também olhar para o clássico “8 ½” de Federico Fellini que trazia o grande Marcello Mastroianni como o cineasta em crise criativa. Depois de quase duas horas de duração percebe-se que esse objetivo foi alcançado, mesmo que não totalmente.
Em “Nine”, um Daniel Day-Lewis magistral dá vida a Guido Contini, cineasta que é um popstar na Itália dos anos 60. Seus primeiros filmes foram arrebatadores sucessos de crítica e público, mas os últimos não tiveram a mesma intensidade. Pressionado por seus produtores e o próprio circuito que está envolvido, Guido está destroçado e ao anunciar seu novo trabalho, não tem ainda nem uma linha sequer de roteiro escrito, para desespero seu e dos mais próximos.
O Guido Contini de Daniel Day-Lewis é uma frágil criatura, mas que não deixa de ser um filho da mãe com a grande maioria dos que estão na sua vida. Ao seu redor transitam sete mulheres maravilhosas que vão servindo de refúgio para seus devaneios e busca por uma redenção fictícia. Lá estão sua amada esposa (Mario Cotillard), a amante deslumbrante (Penélope Cruz), a atriz e musa atual (Nicole Kidman, sempre bela) e a jornalista Stephanie (Kate Hudson).
Sua figurinista e amiga Lilli (Judi Dench, fantástica) é o ponto maior de apoio para equacionar parte das perdas, mas ele também busca alento na falecida mãe (Sophia Loren) e na recordação da primeira experiência feminina com a prostituta da cidade (Fergie). As canções que permeiam “Nine” são bem feitas por Maury Yeston que conduz a trilha encaixando bem a todo o momento, com direito a uma linda execução de “Casa Sulitaria” de Roberto Murolo no final.
“Nine” não é extraordinário, apesar de exibir passagens que podem merecer esse elogio e isso simplesmente não lhe atrapalha. Com uma direção extremamente forte, fotografia exuberante e atuações muito convincentes, consegue atingir um resultado excelente. Tem algumas falhas no roteiro e pequenos problemas de ritmo, mas agrada bem na sua maioria. Para quem gosta de musicais é uma diversão mais que garantida. Rob Marshall acertou a mão de novo.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
domingo, 29 de agosto de 2010
“Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” - 2010
Zeca está na casa dos 30 anos e ainda não fez nada de relevante nesse tempo. Desde pequeno seus pais alardeavam o talento para escrever, no entanto isso não se concretizou em nada. Seu primeiro romance encharcado de influências de Rubem Fonseca empacou na página 50 e não consegue ir além disso. Enquanto vive da herança da falecida mãe e administrada pelo pai que cobra uma postura melhor sua, Zeca se envolve em uma perigosa aventura amorosa.
“Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” é o primeiro trabalho de Paulo Halm como diretor de um longa metragem, já que como roteirista tem vasta experiência (“Pequeno Dicionário Amoroso” e “Guerra de Canudos”, por exemplo). Nele seu personagem principal Zeca, interpretado por Caio Blat de maneira satisfatória, narra sua história direto da poltrona que o ócio e a preguiça lhe colocaram. Uma vida ordinária e plenamente banal.
Zeca mora junto com Julia (Maria Ribeiro) há cinco anos e os dois vão vivendo apesar das personalidades opostas. Enquanto ele acha estupendo sua vida sem realizações, Julia é ambiciosa e visa melhorar cada vez mais. A relação entre os dois dá uma azedada quando Carol (a bela atriz argentina Luiz Cipriota) entra no cenário. Zeca visualiza a relação entre sua esposa e Carol como uma traição e fica obcecado pela segunda, se submetendo a situações patéticas.
O filme mostra algumas cenas de sexo, o que acabou gerando um pequeno estardalhaço sobre o tema, mas elas não são gratuitas ou forçadas, pois se relacionam diretamente com Zeca, já que sexo parece ser a única coisa que realmente lhe interessa. Outros bons pontos do trabalho são o pai de Zeca vivido por Daniel Dantas e o Rio de Janeiro como cenário de fundo, que mesmo não sendo explorado na proporção que poderia ser, rende pontos positivos no final.
Mas é no triângulo amoroso que a trama realmente se conduz, tanto nos momentos de humor quanto no próprio drama existencial que toma conta da segunda metade. Paulo Halm faz uma direção sem maiores surpresas mais que funciona bem em conjunto com os devaneios de Zeca. O maior pecado de “Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” no entanto, por mais estranho que possa parecer é o roteiro, que acaba caminhando e indo para lugar nenhum.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
“Do Fundo do Poço Se Vê a Lua” - Joca Reiners Terron
“Do Fundo do Poço Se Vê a Lua” do escritor Joca Reiners Terron é mais um livro enquadrado no projeto “Amores Expressos”, onde a Companhia das Letras leva os autores para passar um período em cidades estrangeiras a fim de utilizá-las como localidade para o romance. No caso específico de Joca Terron, a cidade escolhida foi o Cairo no Egito e pelo que se lê as impressões por ele retiradas e transpostas não foram as melhores nem as mais lisonjeiras.
A nova história do autor de “Hotel Hell” e “Sonho Interrompido por Guilhotina” é fundamentada nos gêmeos William e Wilson, que apesar de idênticos guardam todas as diferenças do mundo dentro dos genes. Ambientado tanto na São Paulo do começo dos anos 80 quanto atualmente na cidade do Cairo, o livro traça uma trama de cumplicidade, intolerância, duplicidade e mistérios. O próprio nome só faz algum sentido nas páginas finais.
Criados dentro de casa pelo pai, os gêmeos não tinham contato com o restante do mundo até os 17 anos e uma tragédia. Seu pai, um ator de teatro que já vivera bons momentos optou por criar os filhos assim, depois que a esposa morreu. Como ela era procurada pelo regime de ditadura que reinava no país, o medo de se expor era real e plausível. A infância e a adolescência dos gêmeos foi constantemente entrecortada por textos clássicos e filmes antigos.
Depois da tragédia citada, os gêmeos se separam e vamos conhecendo sua história pouco a pouco. Um deles se envolve no submundo da prostituição paulista, vivendo e embelezando travestis como se fossem atrizes de Hollywood, até que devido a uma fixação pela Cleópatra interpretada por Elizabeth Taylor no filme de 1963, ruma para o Egito e outras aventuras. O outro gêmeo fica esquecido e só aparece quando chega ao Cairo para resgatar seu irmão.
Nas 280 páginas da história, Joca Reiners Terron mesmo com um ritmo lento extrai bons momentos e explora situações que por sua estranheza própria rendem um resultado interessante. No entanto, “Do Fundo do Poço Se Vê a Lua" sofre de inconstância. Ao mesmo tempo em que emenda uma ótima sacada emoldurando “Walk On The Wild Side” do Lou Reed pelo meio, se perde em devaneios pouco interessantes e reflexões desnecessárias.
Blog do escritor: http://jocareinersterron.wordpress.com
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
"Coisapop Apresenta - 4ª Edição" - Caverna Club (PA) - 11.09.2010
Salve, Salve...
O “Coisapop Apresenta” chega para a sua 4º Edição no dia 11 de setembro. Nossa festa feita em parceria com o chapa Elder Effe, ganha mais uma etapa logo após o feriado da independência.
Longe das coincidências da data, as explosões no Caverna Club serão apenas sonoras e ficarão por conta do Suzana Flag (já com o novo e excelente disco “Souvenir” nas mãos), Eletrola (sempre um dos shows mais empolgantes do circuito) e La Orchestra Invisível (projeto interessantíssimo que merece ser conhecido).
Comigo e com o J. Mattos como DJ’s, a festa novamente será no Caverna Club, na 14 de março próximo a Magalhães Barata e o ingresso é somente 10 reais.
Apareçam!
Paz Sempre!!
terça-feira, 24 de agosto de 2010
"In My Tribe" - 10.000 Maniacs - 1987
Durante os anos 80 muitas bandas lançaram discos que com o tempo receberam a alcunha de “clássico”, alguns merecidamente e outros nem tanto. O 10.000 Maniacs, banda de Nova York está no primeiro grupo. Formada em 1981, lançaram seis discos de inéditas durante sua primeira fase com a excelente Natalie Merchant como vocalista. Depois da sua saída, por mais que o núcleo criativo permanecesse o mesmo por um tempão, os álbuns ficaram apenas razoáveis.
Além de Natalie Merchant, o 10.000 Maniacs tinha o já falecido Robert Buck (guitarra), John Lombardo (guitarra), Steven Gustafson (baixo), Dennis Drew (teclado) e Jerome Augustyniak (bateria). Com um rol de fãs famosos como o DJ John Pell e Michael Stipe do R.E.M o grupo trilhava uma carreira de relativo sucesso até que “In My Tribe”, seu quarto álbum de estúdio chegou em 1987. Venderam mais de um milhão de cópias e ganharam um respeito bem maior.
Todo esse sucesso foi merecido. “In My Tribe” é um discaço. Nele a banda dosou de maneira brilhante suas influências de rock clássico americano, college rock, folk e pop. Os instrumentos estão tão bem encaixados que parece que levaram anos para chegar a esse resultado. Natalie Merchant com sua voz de um timbre peculiar e alcançando notas que a maioria das cantoras da época não conseguia chegar, interpretava as letras encharcadas de poesia da banda.
O álbum já começa com uma trinca de respeito: “What's The Matter Here?”, “Hey Jack Kerouac” e “Like The Weather”. Nelas temos impotência perante o mundo, busca de um lugar e uma felicidade disfarçada se diluindo nos arranjos de Robert Buck e John Lombardo. Em “Cherry Tree” invoca livros que não são suficientes para salvar sua vida, destronando a intelectualidade tão vigente e pretensiosa do seu circuito pessoal. Nada de Messias ou salvadores.
Em “Dont’t Talk” com as guitarras duelando em uma das melhores músicas da banda, Natalie canta “não fale(...)eu prefiro ouvir alguma verdade esta noite do que entreter suas mentiras” e vai derrubando em versos bem construídos, tijolo por tijolo, um amor falsificado. Em “Gun Shy” aponta sua voz em quase um conto contra o exército e garotos que se vão em guerras imbecis. E tinha mais pérolas como “A Campfire Song”, com direito a Michael Stipe nos vocais.
Em 1992 com “Our Time In Eden” o 10.000 Maniacs construiu outro ótimo disco com músicas como “These Are Days” e “Candy Everybody Wants”, mas foi em “In My Tribe” que alcançaram a perfeição. Natalie Merchant saiu em 1993 depois do “MTV Unplugged” e talvez esse seja o disco mais conhecido no Brasil, pois vendeu muito e trazia uma versão de “Because The Night” da Patti Smith e Bruce Springsteen, sendo essa uma injustiça que requer reparação.
domingo, 22 de agosto de 2010
"100 Miles From Memphis" - Sheryl Crow - 2010
Sheryl Crow nasceu perto de Memphis, Tennessee, tendo sua infância e adolescência envolvida pela música de gravadoras como a Stax e a Hi Records. Desde que iniciou a carreira como vocal de apoio de nomes como Michael Jackson, costumava citar esse detalhe. Quando iniciou o trabalho solo e emplacou hits como “Al I Wanna Do”, “If It Makes You Happy” e “My Favorite Mistake”, suas canções indicavam que esse envolvimento ficara para trás.
Anos depois, perto de chegar aos 50 de idade, a artista finalmente fez um disco inteiramente dedicado para essa época sonora. “100 Miles From Memphis” (alusão a distância da cidade citada com a que nasceu) é resultado desse, podemos dizer, amor. Sheryl Crow se uniu com os competentes produtores Doyle Bramhall II e Justin Stanley para fazer um disco que remete completamente para os anos 60 e 70, sem esquecer as suas características próprias.
O álbum é recheado de R&B e soul por todos os lados. Longe de parecer oportunista, pois quem conhece sua história sabe do relacionamento com esses estilos, Sheryl Crow talvez tenha criado o melhor trabalho da sua carreira artística. Em “100 Miles From Memphis” encontramos pedaços de Sam & Dave, Otis Redding e The MG’s junto com outros de Aretha Franklin, Al Green e até mesmo de Eric Clapton da fase de “461 Ocean Boulevard”, lançado em 1974.
Começando com o soul de “Our Love Is Fading” onde os metais entram e ditam o ritmo saborosamente, o álbum se estende por mais 10 canções. Em “Eye To Eye” que ostenta um groove reggueiro já visto antes no seu trabalho, conta com Keith Richards incluindo seus riffs a malemolência. Em “Sign Your Name” recria um sucesso de Terence Trent D’arby (lembra dele?) com a ajuda de um pouco afetado e surpreendente Justin Timberlake nos vocais de apoio.
Em “Summer Day” cria aquele pop perfeito sessentista, cheio de “na-na-na-na”, para em “Long Road Home” convidar ainda que timidamente o velho amigo country para a festa. Sheryl Crow levou tão a sério a concepção do disco que lutou por deixar até as letras adequadas para a atmosfera, elas são leves, alegres e sensuais, bem longe do nível crítico e pessoal de “Detours” de 2008. Ela faz de tudo para que o clima soul consiga invadir o espaço que cabe nas músicas.
“100 Miles From Memphis” tem vários outros bons momentos como “Peaceful Felling”, “Stop” e “Roses And Moonlight”. Para finalizar tudo com o clima lá em cima, ainda aparece um bônus com “I Want You Back” do Jackson Five, aqui recriada longe da canalhice e mais perto da homenagem sincera. Mais um registro desse ano que acerta a mão em cheio ao mirar no passado, mostrando que a música americana se veste melhor com roupas mais antigas.
Site Oficial: http://www.sherylcrow.com
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Séries - "The Middle"
No meio do turbilhão de séries que a tv por assinatura despeja diariamente nos seus canais, fica até complicado conseguir tempo para acompanhar a maioria. Mas no meio disso, uma novidade chama a atenção. Trata-se de “The Middle”, que estreou na ABC ano passado e a Warner Chanell começou a passar por aqui. Mesmo sem ser muito original, a sitcom consegue extrair ótimas risadas ao mostrar o seio de uma família média americana e suas parcas vidas.
Concebida pela dupla Eileen Heisler e DeAnnHeline que já haviam trabalhado em parceria em “Lipstick Jungle”, a série acerta ao mostrar uma família desajustada de Indiana, USA. Famílias desajustadas não são lá uma novidade, o tema já foi explorado antes (e continua sendo), mas muitas vezes o resultado era apenas mediano. Em “The Middle” não. As risadas são espontâneas e as situações exploradas soam totalmente críveis por tratarem de assuntos banais.
Patricia Heaton conhecida por seu trabalho em “Everbody Loves Raymond” é Frankie Heck, a mãe que comanda as ações do dia a dia. Tendo que lidar com três filhos ao mesmo tempo em que procura vender algum carro na concessionária onde trabalha, Frankie vive repetindo aos anseios dos seus rebentos com frases ora desperançosas, ora bem irônicas. Dentro de toda a correria é lógico que reside uma mãe, que a sua maneira tenta incentivar e proteger a prole.
Seu marido Mike trabalha em uma pedreira e no auge dos seus quase dois metros (o que dá mais um contraste cômico a série, pois Frankie é bem baixinha) é uma espécie de super sincero. Fala o que der na telha não importa para quem. Seus filhos são Axl, um desligado adolescente de 15 anos, Sue que não consegue se dar bem em nada que se proponha e Brick, o mais novo dos três e o mais engraçado. Interpretado por Atticus Shaffer dá um banho nos demais.
“The Middle” não é uma série repleta de mistérios ou questionamentos ou até mesmo de ações mais fortes. Seus episódios de mais ou menos 22 minutos, seguem a cartilha de outras como “My Name Is Earl”, até mesmo na própria formatação, que consiste sempre ao final do episódio em exibir uma moral por mais que escrita por linhas bem tortas, o que acaba sendo a falha mais gritante. Mas mesmo assim vale a pena. Se tiver a chance de ver, não deixe passar.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
"RPA & The United Nations of Sound" - RPA & The United Nations of Sound - 2010
O que é preciso para renascer? Lugares novos, amigos inspiradores, força de vontade? Tudo isso e mais um pouco de um monte de outras coisas. Renascer é para poucos e o inglês Richard Ashcroft tenta ser um desses. O músico que a frente do The Verve lançou um discaço em 1997 chamado “Urban Hymns”, incluindo no rol dos clássicos a canção “Bittersweet Symphony" se perdeu no meio do caminho. Drogas, bebidas, brigas e até certa loucura desandaram a mistura.
Depois do The Verve, lançou um bom disco solo em 2000, que antecedeu algumas tentativas desastrosas posteriores. Até a antiga banda voltou com o razoável “Forth” em 2008, mas não durou muito. Dono de uma voz daquelas que são reconhecidas em qualquer lugar, Richard Ashcroft teve seu talento destacado várias vezes, por mais que este sucumbisse a sua desgrenhada vida e cabeça. Prestes a completar 39 anos, tenta novamente mostrar isso ao mundo.
Se mandou para os Estados Unidos e desenhou seu retorno que acontece com o disco “RPA & The United Nations of Sound”, trazendo o mesmo nome do novo projeto. Nele explora o soul como fez anteriormente em menor escala no primeiro trabalho da sua banda e em momentos da carreira solo, adicionando a ele rock, R&B e até hip-hop, ainda que timidamente. O resultado passa longe de decepcionar e por mais que não seja uma obra prima, merece ser escutado.
Richard Ashcroft juntou alguns nomes importantes nesse álbum. A produção ficou por conta de No ID (que trabalhou com Jay Z e é conhecido como o “Goodfather do Hip-Hop”) e Benjamim Wright (Michael Jackson) e Reggie Dozer (Stevie Wonder) se envolveram também na engenharia e masterização. Para a banda recrutou músicos competentes da nova cena soul como o guitarrista Steve Wyreman, o baixista Dwayne “DW” Wright e o tecladista Rico Petrillo.
“Are You Ready” começa o trabalho remetendo ao The Verve, perguntando logo no ínicio: “Você está pronto?”. A temática meio gospel da canção, que tem versos como: “Jesus, doce Jesus, você não pode ouvir?/Por favor, não nos deixe sozinhos” está presente em outras partes do trabalho como “Glory”. Na sequência com “Born Again”, Richard Ashcroft grita no meio das batidas e vocais cortados sua vontade de renascer, afirmando: “Eu nasci de novo sim”.
A primeira metade do disco é mais consistente mostrando ainda a modernice de “America”, a balada “This Thing Called Life”, as batidas popzaças de “Beatitudes” (apesar de uma letra bem ruinzinha) e o soul carregado de Motown e psicodelia de “Good Loving”. Da segunda parte destacam-se “How Deep Is Your Man” e “Let My Soul Rest”, sendo que o ponto negativo fica com “Royal Highness”, que rouba descaradamente “Sweet Jane” do Velvet Underground.
É difícil afirmar se o RPA & The United Nations of Sound terá a competência quase mágica de elevar novamente ao topo a carreira do seu comandante, é difícil prever até se vai durar mais que um disco, se analisarmos todo o histórico. No entanto, porém e, todavia, o álbum traz um pouco da competência de Richard Ashcroft novamente para o mundo da música. Uma faixa como “Are You Ready”, por exemplo, faz até acreditar de verdade nesse renascimento.
Site do músico: http://www.richardashcroft.co.uk
Site do projeto: http://www.unofficialunitednationsofsound.co.uk
sábado, 14 de agosto de 2010
"Os Perdedores" - 2010
Uma equipe de agentes da CIA está em missão, quando descobrem algo que não deveriam saber. Automaticamente o comando da operação traça um plano para que isso acabe lá mesmo. O helicóptero de resgate explode no ar e a CIA entende que seus tripulantes estão todos mortos. Só que por uma sorte do destino, a equipe não estava no helicóptero e continuam vivos com um imenso gosto de vingança transbordando de todos os poros dos seus corpos.
“Os Perdedores” adapta para a grande tela mais uma história em quadrinhos. Trata-se de “Losers” muito bem escrita por Andy Diggle e desenhada por Jock, responsável por capas magistrais para a série que ganhou 32 edições lá fora pelo selo Vertigo da Editora DC e só esse ano começou a ser publicada no Brasil pela Panini. A HQ conhecida no mundo alternativo dos scans e downloads na internet é consistente e cheia de vigor, ação e diálogos inteligentes.
O filme, no entanto, passa bem longe da visceralidade da série original. A equipe dos perdedores ganha no cinema as seguintes caras: O chefe da bagaça Clay é Jeffrey Dean Morgan, o mestre em veículos Pooch é Columbus Short, o nerd Jensen é Chris Evans, Roque é Idris Elba e o atirador Cougar é Oscar Jaenada. O papel de Aisha, a assassina que não perdoa ninguém e se mete na vida dos perdedores é interpretada por Zoe Saldana, que não convence.
A trama de vingança que nos quadrinhos é tratada como uma espécie de justiça selvagem, como diria Francis Bacon, é amansada por Hollywood. As razões que levaram a CIA a detonar a equipe e que de tão fortes serves como matriz para a serie, aqui são desagravadas. O enigmático Max perde todo o charme e aura de mistério para ganhar um tom paspalhão que não funciona, por mais que Jason Patric até se esforce no papel. Um amaranhado de erros consecutivos.
Para quem não conhece o original, “Os Perdedores” passa tranquilamente por um filme comum de ação hollywoodiano, com explosões, tiroteios e cenas de ações bem feitas e é nisso que está seu grande problema. Se o inexperiente diretor Sylvian White e os roteiristas Peter Berg e James Vanderbilt atentassem mais para os quadrinhos poderiam ter construído um filme diferenciado nesse setor, pois a matéria prima era generosa. Para esquecer e ir atrás da HQ.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
“Brian Wilson Reimagines Gershwin” - Brian Wilson - 2010
George Gershwin morreu em 1937 com apenas 38 anos, deixando para trás uma coleção de canções que marcaram a música norte americana para sempre. Junto com seu irmão Ira Gershwin, responsável por adicionar as letras em algumas dessas canções criou clássico atrás de clássico. Centenas de artistas das mais diversas esferas musicais já regravaram músicas suas como “Summertime”, “'S Wonderful” ou “They Can't Take That Away from Me”.
Brian Wilson, o homem por trás dos Beach Boys nos anos 60 sempre se mostrou fã de Gershwin, por mais que seus universos musicais não fossem basicamente os mesmos. Diz inclusive que a primeira canção que guarda na memória é “Rhapsody in Blue”, que não por acaso é a responsável por abrir e encerrar o seu mais recente trabalho “Brian Wilson Reimagines Gershwin”, um tributo elegante e repleto de classe para a obra de Gershwin.
Longe de ser somente uma homenagem vazia como tantas outras feitas, o álbum em questão traz Brian Wilson recriando esses clássicos para sua própria atmosfera que ganha aqui uma exclusiva e surpreendente roupagem de jazz e Rhythm and Blues em várias passagens. Os arranjos e orquestrações concebidos mostram a habitual categoria de Brian Wilson que explode com beleza nas harmonias vocais perfeitas, construídas minuciosamente.
O disco passa pelo jazz e pelo clássico com “The Like In I Love You”, “Summertime” e “I Loves You, Porgy”, embarca no tradicionalismo americano em “I Got Plenty O' Nuttin'”, encharca-se de blues em “It Ain't Necessarily So”, veste-se de domingo nas ensolaradas “'S Wonderful” e “They Can't Take That Away from Me”, invoca Frank Sinatra em “Love Is Here To Stay” e entra de cabeça no R&B em “I've Got a Crush on You” e “I Got Rhythm”.
Também encontra tempo para curtir o folk em “Someone to Watch Over Me” e cravar um delicioso rock sessentista em “Nothing But Love”, com aquele clima de Beach Boys fazendo as honras da casa. Não existe uma palavra mais certa para definir “Brian Wilson Reimagines Gershwin” do que classe. Classe absoluta. Um gênio brincando e prestando homenagem a outro gênio. O negócio é aproveitar, pois não é todo dia que se tem isso no cardápio.
Site oficial: http://www.brianwilson.com
terça-feira, 10 de agosto de 2010
"A Origem" - 2010
Quando sonhamos nossa mente se diverte criando mundos impossíveis de serem concebidos, une pessoas de vidas totalmente desconexas e nos mostra e revela desejos adormecidos, segredos profundos ou mesmo quimeras banais. Muitos tentam decifrar seus sonhos para aplicar na vida real ou mesmo para tentar a vida em jogos de azar. Em “A Origem” (“Inception”), Christopher Nolan cria o roteiro e dirige uma aventura fantástica que toma os sonhos como cerne.
O diretor habituado a obras em que brinca com a psique humana como “Amnésia” e “Insônia” ou até mesmo quando recria personagens clássicos como Batman e Coringa em “O Cavaleiro das Trevas”, invade novamente o assunto no novo filme. “A Origem” é difícil de classificar, pois é ficção científica, trama policial e drama pessoal na mesma intensidade, com direção de arte, efeitos especiais e montagem sacudindo mais ainda o telespectador perante o roteiro.
Usando um mundo onde é possível entrar na mente humana através de aparelhos durante o sono, Nolan apresenta Cobb, muito bem interpretado por um Leonardo DiCaprio cada vez mais ator. Cobb é expert em entrar nos sonhos de outras pessoas e retirar segredos íntimos que valem milhões de doláres no mundo da espionagem industrial. Ladrão de classe, tem um passado lhe atormentando a todo o momento, envolvendo a família e a impossibilidade de rever os filhos.
Quando uma tentativa de assalto fracassa no empresário Saito (Ken Watanabe), Cobb recebe deste uma chance única: um trabalho que permitirá seu retorno aos USA. O trabalho sugere que ao invés de extrair um segredo, é preciso plantar uma idéia na cabeça de Maurice Fisher (Cillian Murphy), fazendo assim que ele divida seu império de energia, o maior concorrente de Saito no planeta. Cobb aceita e recruta alguns amigos para o difícil serviço que terá que realizar.
O time comandado por Leonardo DiCaprio traz ótimos e surpreendentes nomes como Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page e Tom Hardy, que esbanjam aquela cumplicidade necessária para qualquer grupo de ladrões. O plano assim como uma boneca russa exibe várias camadas, um sonho dentro de outro e joga na tela além de idéias exuberantes, a complementação visual delas. Até a maneira que os sonhadores acordam é elegante, pois envolve uma canção de Edith Piaf.
Em “A Origem”, Christopher Nolan flutua nos sonhos com todos os absurdos que eles produzem. Como cria um mundo onde realidade e irreal se confundem remete diretamente a obras como Matrix, mas guarda a devida distância. Edgar Cayce, espécie de profeta norte americano do começo do século passado, disse que “Sonhos são as respostas de hoje às perguntas de amanhã”, Christopher Nolan pareceu acreditar nessa premissa para criar outro filme extraordinário.
sábado, 7 de agosto de 2010
"O Solista" - 2009
Jamie Foxx e Robert Downey Jr. são atores competentes com alguns papéis marcantes na carreira. Os dois contracenando no mesmo filme, pode ser entendido como prenúncio de um bom trabalho. “O Solista”, filme do ano passado que chegou em DVD recentemente carrega essa premissa inicial, mas por mais que os dois atores se esforcem e tenham atuações convincentes, não conseguem livrar o novo longa do diretor Joe Wright da alcunha de mediano.
Baseado em fatos reais, o que na maioria das vezes mais atrapalha do que ajuda, “O Solista” conta a história do jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.). Colunista do Los Angeles Times, ele sofre um acidente meio sem sentido quando andava de bicicleta e a vida que já andava meio sem sentido, desanda de vez para aqueles dias (ou meses) sem graça. Quando volta ao trabalho e busca novas matérias, ele se depara com Nathaniel Ayers tocando violino na rua.
Em uma praça, embaixo de uma estátua de Beethoven, Nathaniel (Jamie Foxx) toca seu violino com apenas duas cordas, o que impressiona o colunista, bastando para ser a matéria que tanto procurava. Aí temos aquele chavão máximo da transformação da vida tanto de quem ajuda quanto de quem é ajudado. Não cair no sentimentalismo barato ou no paternalismo fácil é um obstáculo a ser contornado nesses casos e por mais que se esforce o longa não consegue a proeza.
A relação de Lopez com Nathaniel ganha uma dimensão que sai das páginas no jornal e leva até o prefeito a rever investimentos na área de assistência pública, já que só em Los Angeles existem mais de 90.000 sem teto e abrigos como o LAMP que aparece no filme, não são suficientes para controlar a demanda. Aí é onde o longa erra mais, aloprando nas licenças poéticas da música e sua relação com a cidade, como também na procura de redenção de Steve Lopez.
“O Solista” conta uma história bonita, isso não pode ser negado em nenhum momento. Histórias como essa é que fazem do mundo um lugar que ainda merece crenças de um futuro melhor e por conseqüência merecem ser contadas, no entanto contá-las em um tom sentimentalista demais acaba deixando essas histórias menores. Optar por um caminho em que o telespectador não seja tão facilmente abordado, infelizmente hoje é artigo raro no mundo do cinema.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
"Música de Brinquedo" - Pato Fu - 2010
Em quase vinte anos de carreira, pode-se perguntar o que o Pato Fu ainda não fez. Por seus discos já passaram os mais diversos ritmos isoladamente ou misturados todos ao mesmo tempo. Entre as coisas que a banda ainda não havia feito até hoje, um disco inteiramente de covers poderia ser citado. Então a banda resolveu fazer. Mas como se trata do Pato Fu isso não vem de maneira comum. O referido disco vem tocado totalmente em instrumentos de brinquedo.
“Música de Brinquedo” é o décimo trabalho do grupo e traz o inusitado novamente para o campo de jogo. Fernanda Takai e John Ulhoa influenciados pela criação de sua filha Nina (de seis anos) fizeram junto com Ricardo Koctus, Xande Tamietti e Lulu Carmago, uma homenagem não somente a músicas que marcaram suas vidas, como também a obras infantis como Os Saltimbancos, Muppets, Os Trapalhões e Balão Mágico, para ficar somente em alguns exemplos.
O resultado é que canções extremamente batidas como “Sonífera Ilha” dos Titãs e “Love Me Tender”, da fase canhestra do Elvis Presley, ressurgem como se fossem novas. O Pato Fu reuniu as mais diversas bugigangas sonoras para recriar essas canções de modo cativante. Sem lançar nada desde 2007 com “Daqui Pro Futuro”, a banda parou, alguns dos seus se aventuraram em trabalhos solos e “Música de Brinquedo” parece mais um passo de rejuvenescimento interno.
Das músicas do álbum, destacam-se as versões de “Rock and Roll Lullaby” de Cynthia Well e Barry Mann, “Ovelha Negra” da Rita Lee, “Live And Let Die” de Paul McCartney, “Twiggy Twiggy” do Pizzicato Five e “My Girl” dos Temptations, aqui em versão doce e bonita. Na panela do Pato Fu tudo se converte e recria, misturando idéias, épocas e sentimentos. O coral infantil de Nina e mais dois amiguinhos serve para dar um charme todo especial ao trabalho.
A banda sairá em turnê tocando no palco só com instrumentos de brinquedo, demonstrando que realmente estão se divertindo bastante com o projeto. Mais importante ainda, o guitarrista John Ulhoa destaca que não estão em crise criativa, o que quer dizer que tem reservado muita coisa boa para o futuro. E enquanto esse futuro não vem o negócio é repassar esse “Música de Brinquedo” para que os filhos, sobrinhos e amigos possam se divertir e cantar junto.
Sobre o "Daqui Pro Futuro", passe aqui.
Site oficial: http://www.patofu.com.br
terça-feira, 3 de agosto de 2010
"Salt" - 2010
Ter Angelina Jolie distribuindo socos e pontapés com extrema categoria em um filme já é um passo e tanto para qualquer produção. Se as cenas de ações são bem feitas, daquelas impossíveis e frenéticas, melhor ainda. “Salt” que estreou no final de semana aqui no Brasil tem essas duas coisas, o que pode-se dizer que vale mais ou menos a metade de um filme. O problema de “Salt” reside justamente na outra metade, que é previsível e com roteiro mal construído.
Philip Noyce tem no currículo trabalhos como “Jogos Patrióticos” de 1993, “O Colecionador de Ossos” de 1999 e “O Americano Tranqüilo” de 2002 e acerta a mão na maior parte da sua direção com câmeras rápidas e cenas de perseguições e pancadaria de prender o telespectador na cadeira. No entanto, o roteiro de Kurt Wimmer não ajuda em nada, pois as cartas estão na mesa muito cedo e o final se desenvolve sem criatividade para uma continuação.
Algumas ações dos personagens são difíceis de engolir, pois são colocadas na tela como se fossem a única saída possível, sendo que existem outras bem mais claras. A trama também é extremamente forçada, mas poderia ser perdoada se o roteiro ajudasse mais. Nela, Evelyn Salt (Angelina Jolie) é uma agente da CIA que está prestes a partir para o serviço burocrático quando um espião russo se entrega e a acusa no interrogatório de ser uma espiã do país infiltrada.
Orlov (Daniel Olbrychski) conta que os russos começaram um projeto nos anos 70 no qual treinavam crianças para substituir norte americanos ainda jovens, não levantando quaisquer suspeitas até que o plano fosse desencadeado anos depois, o que resultaria na derrocada do inimigo. A história que parece retirada de um gibi da Marvel, só não é mais absurda pois recentemente foram descobertos alguns espiões russos (meio loucos) ainda trabalhando nos USA.
Angelina Jolie como sempre está ótima no papel principal. Sabe dosar de maneira correta o feminino com o agressivo como poucas hoje em dia nos filmes de ação. Liev Schreiber (“Wolverine”) também é convincente no papel do supervisor dela na CIA. Mas fica por aí. No mais “Salt” é um filme bem mediano, que tinha tudo para ser mais interessante, mas escorrega feio na maneira que a trama é conduzida e nas próprias idéias. Indicado para um dia sem maiores opções.
domingo, 1 de agosto de 2010
“Butcher Holler: A Tribute to Loretta Lynn” - Eilen Jewell - 2010
Loreta Lynn nasceu em 14 de abril de 1934 em uma comunidade de mineração de carvão chamada Butch Holler no condado de Johnson no Kentucky, USA. Gravou inúmeros discos desde os anos 60, tendo como fã nomes como Jack White do White Stripes. Já Eilen Jewell nasceu em 06 de abril de 1979 em Boise, Idaho, USA e tem uma discografia menor, iniciada somente em 2005. Apesar da carreira curta já angaria críticas positivas sobre seus álbuns.
Essas duas mulheres com 45 anos de diferença de idade são as responsáveis pelo excelente “Butcher Holler: A Tribute to Loretta Lynn”. A mais velha por servir de inspiração para o tributo e a mais nova por executar de maneira forte e cheia de personalidade as 12 canções que o compõem. Apoiada por uma banda entrosada, ela recria sua homenageada em versões rápidas e consistentes de um country rock com um pé no folk e outro no rockabilly.
Loreta Lynn compôs a maioria das músicas que estão nesse tributo. Suas letras sempre foram consideradas avançadas por tratarem de temas que mulheres não costumavam falar na época. Já na abertura em “Fist City”, com a guitarra soando na entrada como saída de uma jukebox do final dos anos 50, versos exaltam uma mulher forte que não vai aceitar desmandos do seu homem por mais que o ame. Impressiona a maneira que Eilen Jewell conduz tudo.
Essa temática de mulher independente que talvez seja o grande ponto da carreira de Loreta Lynn se faz presente novamente em “A Man I Hardly Know” e mesmo quando essa personalidade forte desaba como em “I'm A Honky Tonk Girl” não faz isso sem antes encher a cara em um bar qualquer. Eilen Jewell segue adiante interpretando essas canções como se ela mesmo tivesse vivido cada caso e ainda por cima vivido isso há várias décadas atrás.
São 12 canções, em média com dois minutos e meio, que transportam o ouvinte para um filme antigo caminhando por uma estrada qualquer com a poeira saltando nos olhos ou tomando uma dose de whisky num bar onde alguém esmurra uma guitarra na entrada sentado em uma cadeira de balanço. “Deep As Your Pocket”, “This Haunted House” ou “You're Lookin' At Country” é só escolher quem vai completar a pintura do quadro e embarcar na viagem.
Site oficial: http://www.eilenjewell.com
My Space: http://www.myspace.com/eilenjewell
Assinar:
Postagens (Atom)