“Shrek Para Sempre” chega aos cinemas carregando a expectativa de uma sessão com boas risadas, diante não só de “gags” visuais e piadas fáceis, como também por toques de humor politicamente incorreto. Pelo menos foi isso que a franquia que chega ao quarto e anunciado último filme propôs desde o início. Principalmente nos dois primeiros, “Shrek” desvirginava os contos de fadas e inundava a tela com o cotidiano pouco convencional do amado Ogro.
“Shrek Para Sempre” parece que perdeu parte do tesão de viver. É como aquele velho amigo que durante a juventude divertia a todos com seu olhar irreverente e anárquico, suas frases curtas e certeiras, mas que depois de um tempo, já caminhando pelo terreno da meia idade, passa a repetir causos do passado e contar piadas mais fáceis, mais tranqüilas. Ele ainda continua sendo gente boa e faz a mesa rir vez ou outra, mas é visível que algo ficou para trás.
O último filme (será mesmo?) da série encerra a trajetória em versão acústica e adocicada. Retorna ao primeiro longa, antes do Shrek salvar a Fiona do Dragão e começar a sua própria saga, quando os pais da moça estão prestes a fechar um acordo mágico com o perigoso Rumpelstiltiskin. São salvos pelo gongo e Rumpelstiltiskin amarga uma vida chinfrim na qual não consegue passar mais nenhum de seus contratos mágicos adiante. Até que tudo muda.
Shrek anda confuso, está domesticado e não gosta disso. Não afugenta mais os humanos, virou uma espécie de celebridade. Isso o está matando. No aniversários dos filhos, finalmente explode e briga com Fiona. Rumpelstiltiskin vê tudo e cria uma armadilha para que o Ogro assine um contrato mágico, que lhe dará por um dia a chance de ser a criatura temida de antes em troca de um dia qualquer da sua vida. Claro que ele se dá extremamente mal na troca.
Arremessado a um mundo onde Rumpelstiltiskin está no comando e em luta com um monte de Ogros sobre o comando de Fiona, Shrek se vê em maus lençóis. Seus amigos são fantoches sem vida e nenhum lembra dele. Nem o Burro, nem o Gato de Botas, que está gordo e também domesticado. Ele precisa se redescobrir para ter toda a felicidade de antes, felicidade que não reconhecia, mas agora que perdeu tudo, vê o quanto gostava e amava essa vida.
O roteiro clichêzaço de Josh Klausner e Darren Lemke não incomodaria tanto se as piadas valessem a pena. Dá para rir? Claro que dá, mas em intensidade bem menor que antes. O diretor Mike Mitchell busca acomodar todos os personagens anteriores e deixa a maioria sem função. O afetado Rumpelstiltiskin é o que mais se salva, mas “Shrek Para Sempre” deixa a impressão de saudade do passado não só na trama, mas também dentro da própria franquia.
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