“O Segredo Dos Seus Olhos” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro desse ano. O filme argentino também abocanhou indicações em várias outras premiações e fez uma imensa bilheteria no seu país. O diretor Juan José Campanella reedita novamente a parceria com o ator Ricardo Dárin que já brilhou em trabalhos como “O Filho da Noiva” de 2001 e “Clube da Lua” de 2004. E consegue brilhar de novo. Naquele que talvez seja o melhor longa da carreira.
Ricardo Dárin vive Benjamin Espósito, um funcionário público do Tribunal de Justiça portenho que recentemente se aposentou. Procurando preencher suas horas vagas, resolve escrever um romance. Como tema escolhe um caso antigo, iniciado em 1974 e que além de ser responsável por algumas guinadas na sua vida, ficou durante muito tempo na memória. Depois de todo esse tempo, Benjamin resolve rever o caso e aproveita para analisar o rumo da sua vida.
Ao entrecortar passado e presente, Juan José Campanella mostra não somente um hábil suspense policial, como também uma Argentina em épocas bem distintas. Pincela ainda a tela com amores sufocados, dramas pessoais e comédia cotidiana. O caso que é o centro da trama trata-se de um estupro seguido de assassinato de uma jovem casada. Entre fechamento e reaberturas de processo, brigas no tribunal e ultrapassagens da lei, o culpado é procurado.
No fundo disso, Benjamin lida sem muita habilidade com a paixão pela sua chefa imediata, Irene Menéndez Hastings, interpretada muito bem por Soledad Villamil e tenta salvar seu melhor amigo e subordinado no Tribunal, Pablo Sandoval (um fantástico Guillermo Francella), da bebedeira que está ruindo com a sua família. E acima de tudo ainda se desespera para ajudar o viúvo da jovem assassinada (vivido por Pablo Rago), que fica destroçado com a perda.
“O Segredo Dos Seus Olhos” constrói um caminho que inicialmente parece fácil e sem muitos percalços, para na segunda metade até o final desembarcar em lugares inesperados e surpreendentes. A direção de Juan José Campanella se mostra mais uma vez repleta de classe e o roteiro adaptado do livro “A Pergunta Dos Seus Olhos” de Eduardo Sacheri (e escrito a quatro mãos com este) não deixa quaisquer buracos. Tarefa que não é lá das mais fáceis.
Ricardo Dárin é o ponto central, sua sobriedade faz desencadear o trabalho dos outros atores. A relação de amor utópico do seu Benjamin com Irene Menéndez é uma estrofe bonita e dilacerada de uma canção para marejar os olhos. Em certo momento o espectador se rende e pergunta a si mesmo: “Onde tudo isso vai dar?”. “O Segredo Dos Seus Olhos” merece todas as honras que conquistou, mais uma ótima prova do que o cinema argentino é capaz.
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