O povo da cidade de Sucupira está de luto. Seu amado prefeito foi assassinado por um matador de aluguel. Esse mesmo povo agora de luto, momentos antes arrombava a porta da prefeitura para destronar seu amado governante por roubo do dinheiro público. A cidade de Sucupira situada no nordeste brasileiro nos anos 60 não é diferente de tantas outras até hoje e sua população volátil e de curta memória não foge muito do que se vê vez ou outra por aí.
“O Bem Amado”, a obra de Dias Gomes que fez sucesso na televisão brasileira, ganha uma versão repaginada e muito divertida nas mãos do diretor Guel Arraes (“O Auto da Compadecida”). A história começa no momento descrito no parágrafo acima dentro da disputa entre Odorico Paraguaçu (Marco Nanini) e Vladimir (Tonico Pereira) pela cadeira maior do governo municipal. A dupla que dá show em “A Grande Família” mantém o nível elevado aqui.
Ao ganhar a eleição, Odorico Paraguaçu foca seu maior objetivo na construção de um cemitério na cidade, pois Sucupira tem que enterrar seus mortos na localidade vizinha, o que é inadmissível. Marco Nanini interpreta com maestria esse político tão característico, repleto de neologismos e abusos do poder, que não mede esforços para gastar a verba pública do jeito que lhe convém, colocando evidentemente, uma boa parte diretamente no seu próprio bolso.
Desde o ínicio da construção do cemitério, Vladimir, dono do único jornal do município (“A Trombeta”) faz ferrenha oposição. Também sem quaisquer escrúpulos, inventa até noticias para causar mal ao governo, o que na sua lógica destorcida não importa muito, já que se vê como um defensor do povo. O roteiro é atualizado para fazer menção a alguns escândalos recentes da política nacional, como o mensalão praticado pelo PT, e acerta a mão no tom das críticas.
“O Bem Amado” só erra por tentar amarrar Sucupira com o momento do ínicio da ditadura em 1964. A intenção é fazer um paralelo divertido, mas fica forçado. No mais, a trilha sonora comandada por Caetano Veloso é boa, Matheus Nachtergaele e José Wilker são competentes como o assessor da prefeitura Dirceu Borboleta e o matador Zeca Diabo. As Cajazeiras (Andréa Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa) também estão muito bem. O ingresso vale boas risadas. Confira.
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