Simon Axler tem sessenta e poucos anos. É um respeitado ator de teatro nos Estados Unidos, além de também ser conhecido por alguns filmes pequenos. Convidado a interpretar Próspero e MacBeth em uma nova adaptação das obras de Shakespeare, ele tem uma queda vertiginosa de produção e interpreta os papéis de maneira ridícula. O público se assusta, a imprensa não perdoa e principalmente ele fica desconsolado. O que aconteceu? Onde está seu talento?
Esse é o ponto de partida de “A Humilhação”, novo romance de Philip Roth lançado aqui pela Companhia das Letras com 104 páginas. Como um conto extenso ou uma pequena novela o autor explora temas como envelhecimento, desejo, perda da vontade de viver e morte, para construir mais um livro, que mesmo sem ser evidente, para ele está interligado com outros como “Homem Comum”, “Indignação” e “Nemesis” que será lançado em outubro lá fora.
No seu trigésimo livro, Philip Roth não tem como escapar de olhar mais para seus próprios pés quando fala de envelhecer, afinal ele já está caminhando para os oitenta anos, no entanto, ainda mantêm a boa forma que o consagrou. Simon Axler é um pouco inspirado na história do ator britânico Ralph Richardson, como o escritor relatou em entrevista recente. Esse ator foi contemporâneo de Laurence Olivier e John Gielgud (ambos citados por ele no livro).
O Simon Axler de “A Humilhação”, entretanto, diverge muito da vida do ator que o inspirou. No livro, depois de perder completamente o dom de interpretar seus personagens, sua vida entra em uma espiral descendente que inclui ser largado pela mulher e ser internado em uma clínica psiquiátrica por 26 dias, para controlar a ânsia e o desejo de se matar. A ameaça de suicídio (mais uma vez o tema da morte que Roth tanto gosta) está sempre presente.
Ao fechar esse primeiro “ato”, o agora ex-ator, visto que está desempregado e tem pânico de voltar a atuar por mais que seu agente pressione, ainda é envolvido em mais dois atos. No segundo, começa uma relação com a filha de uma amiga, vinte e cinco anos mais nova, que lhe dá novo ânimo e alegria para seguir em frente. Essa relação é repleta de nuances bem próprias e está a olhos nus fadada ao fracasso, o que se complementa no terceiro ato do livro.
Em “A Humilhação”, Simon Axler apesar de ter uma história de desespero a sua volta, não representa o ponto alto. Este fica para Pegeen Mike, a mulher que deixa o lesbianismo de lado para entrar na sua vida. Com intenções dúbias por todo tempo que se faz presente e beirando o niilismo, rouba os holofotes da trama. Por enquanto o criador pode ficar tranqüilo, continua relevante e não tem que se preocupar com seguir os rumos da sua criatura mais recente.
Sobre “Indignação”, passe aqui.
Um comentário:
Fantástico!:
http://numadeletra.com/29061.html
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