O povo da cidade de Sucupira está de luto. Seu amado prefeito foi assassinado por um matador de aluguel. Esse mesmo povo agora de luto, momentos antes arrombava a porta da prefeitura para destronar seu amado governante por roubo do dinheiro público. A cidade de Sucupira situada no nordeste brasileiro nos anos 60 não é diferente de tantas outras até hoje e sua população volátil e de curta memória não foge muito do que se vê vez ou outra por aí.
“O Bem Amado”, a obra de Dias Gomes que fez sucesso na televisão brasileira, ganha uma versão repaginada e muito divertida nas mãos do diretor Guel Arraes (“O Auto da Compadecida”). A história começa no momento descrito no parágrafo acima dentro da disputa entre Odorico Paraguaçu (Marco Nanini) e Vladimir (Tonico Pereira) pela cadeira maior do governo municipal. A dupla que dá show em “A Grande Família” mantém o nível elevado aqui.
Ao ganhar a eleição, Odorico Paraguaçu foca seu maior objetivo na construção de um cemitério na cidade, pois Sucupira tem que enterrar seus mortos na localidade vizinha, o que é inadmissível. Marco Nanini interpreta com maestria esse político tão característico, repleto de neologismos e abusos do poder, que não mede esforços para gastar a verba pública do jeito que lhe convém, colocando evidentemente, uma boa parte diretamente no seu próprio bolso.
Desde o ínicio da construção do cemitério, Vladimir, dono do único jornal do município (“A Trombeta”) faz ferrenha oposição. Também sem quaisquer escrúpulos, inventa até noticias para causar mal ao governo, o que na sua lógica destorcida não importa muito, já que se vê como um defensor do povo. O roteiro é atualizado para fazer menção a alguns escândalos recentes da política nacional, como o mensalão praticado pelo PT, e acerta a mão no tom das críticas.
“O Bem Amado” só erra por tentar amarrar Sucupira com o momento do ínicio da ditadura em 1964. A intenção é fazer um paralelo divertido, mas fica forçado. No mais, a trilha sonora comandada por Caetano Veloso é boa, Matheus Nachtergaele e José Wilker são competentes como o assessor da prefeitura Dirceu Borboleta e o matador Zeca Diabo. As Cajazeiras (Andréa Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa) também estão muito bem. O ingresso vale boas risadas. Confira.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
"Eu Sou Ozzy" - Ozzy Osbourne com Chris Ayres
- Sabia que o Ozzy lançou uma biografia?
- Foi? Não me diga. As ações vão subir por causa disso então. - Sério, Mané. Chegou aqui esse ano por um selo da Editora Saraiva, o Benvirá. Tem mais ou menos umas 400 páginas e ficou na lista dos mais vendidos nos USA. - 400 páginas de Ozzy. Sinceramente não dá. Haja saco. - Que nada, é bem bacana. Ele botou lá o que se lembra desde o ínicio da vida e olha que ele já deve ter esquecido um monte de coisa. Um cara chamado Chris Ayres ajudou a organizar as loucuras dele. Não deve ter sido muito fácil. - Não sei se gastaria minha grana em um livro do Ozzy. Nunca fui fã do Black Sabbath ou da carreira solo dele. Nem o programa da MTV que todo mundo via e adorava, eu assistia muito. - Ah cara, dá para rir muito. O cara é louco mesmo, completamente insano e demente, cometeu doideiras de todos os tipos e espécies. Além é claro do farto consumo de álcool, drogas e tudo o mais que lhe aparecesse na frente. Ele estar vivo até hoje, com sessenta e poucos anos é um mistério da natureza, vou te falar. - E essas coisas são algum mérito por acaso? Desde quando isso são qualidades? Me poupa cara. - Não é que seja mérito, mas diante de tanta chatice hoje em dia, da porcaria desses rockstars de meia tigela, de tanto politicamente incorreto por aí, ler as merdas do Ozzy, mostrando um cara que foi totalmente contra tudo isso e se deu bem, é diferente. E não tem como negar a influência do Black Sabbath no rock, por mais que na época os caras fossem esculachados pela imprensa. A carreira solo é que foi meio uma repetição, mas foi isso que deu o sucesso dele. - Tá bom, mas tirando a história de comer um morcego no palco, o que tem mais de interessante? - Muita coisa, primeiro ele se avacalha e auto deprecia, o que acaba sendo mais engraçado ainda. E revela que essas historias fantásticas como o envolvimento do Sabbath com satanismo não passava de uma chance publicitária que eles exploravam. Morriam era de medo dessas coisas. E a onda do morcego é verdade, mas ele pensava que era de borracha!! Tomou um baita susto quando viu que estava vivo. Até se internou por isso e ficou paranóico tomando injeção contra raiva um tempão. - Eu sabia que isso era meio encenação mesmo. Depois do programa da MTV, essa imagem de oportunismo ficava mais claro. - Mas não era forçado cara. E grana afinal de contas não faz mal para ninguém. O “Eu Sou Ozzy” parece mais uma comédia do que uma biografia, de tanto surrealismo. Tem casos ali que você imagina ser brincadeira e talvez até sejam, sei lá, a mente dele não deve estar mais 100%. Mas são casos que poderiam muito bem fazer parte de um filme que tirasse sarro dessa historia de rockstar. - Sei. - Outra parte boa é que ele faz muita mea culpa das suas merdas. Por exemplo, da forma que tratava os animais, da falta de atenção aos filhos e da relação com as esposas. Na maioria das vezes ele parecia ser o maior filho da mãe do mundo mesmo. Não tenta só mostrar o lado bom. É o típico caso de duas personalidades. O médico e o monstro total. - Tá! Então tu viraste fã do Ozzy agora? Vai botar camisa, entrar na comunidade do Orkut, etc e tal... - Pô, não é isso. Só tô dizendo que é divertido pacas. Não tem pompa de ser completo ou histórico. É apenas a vida dele como ele se lembra. Tu devia ler. Diversão garantida, além é claro da farta gama de outros músicos envolvidos pelo meio. Te confesso que até puxei algumas coisas do Sabbath para ouvir de novo e o som ainda impressiona, apesar de nunca ter sido tão fã assim da música dos caras. - Sei não, comprar eu não compro, mas se tu me emprestar o teu, eu vou tentar ler. - Ah, nem sonhando, pô. Livro não se empresta. Larga de ser muquirana e compra um para ti. Aproveita e paga mais uma cerveja também. - Paga tu. - Vou começar a cantar “Iron Man” aqui na mesa... - Beleza. Eu pago a cerveja. - “Has he lost his mind? Can he see or is he blind? Can he walk at all, or if he moves will he fall?"
domingo, 25 de julho de 2010
"Kick-Ass - Quebrando Tudo" - 2010
Mark Millar conseguiu imprimir um estilo próprio nas suas histórias em quadrinhos. A frente da Marvel fez ótimos trabalhos em “Os Supremos” e na “Guerra Civil”, que revirou de cabeça para baixo a editora. Também criou obras próprias como “Wanted”, dona de uma adaptação cinematográfica muito ruinzinha e principalmente “Kick-Ass”, essa ao lado de John Romita Jr., tendo a primeira fase compreendida em oito edições entre os anos de 2008 e 2010.
“Kick-Ass - Quebrando Tudo” chega aos cinemas baseado nessa obra do escocês. A adaptação tem bons méritos, é divertida, politicamente incorreta, violenta e cheia de ação, mas mesmo assim foi bem “amansada” em relação aos quadrinhos. Muito da violência ficou fora (apesar de ainda existir em fartas doses) e algumas mudanças no destino dos personagens deixou o roteiro mais simples e palatável, com o intuito de fazer funcionar em todos os públicos.
No filme, Dave Lizewski é vivido por Aaron Johnson (“O Ilusionista”) e fica mais atlético que o original. Dave é um nerd de carteirinha. Ninguém dá bola para ele a não ser alguns poucos amigos. Passa invisível caminhando entre todos, inclusive pela menina que é apaixonado. Para ter uma chance com a garota dos seus sonhos, embarca até em um arriscado jogo de se mostrar gay para virar seu amigo. Essa relação é a que fica pior em relação aos quadrinhos.
Como perdeu a mãe por conta de um aneurisma e a relação com o pai não é das mais comunicativas, encontra consolo no mundo dos heróis retratados nas suas revistas. Certo dia tem uma incrível e idiota idéia: Resolve ser um. Bota uma roupa de mergulho como uniforme e sai para as ruas. Mesmo apanhando muito na primeira investida, acaba virando celebridade na sua próxima ação, tendo as maiores visualizações do Youtube e vastos amigos no My Space.
Mas Kick-Ass não está sozinho na sua jornada. Logo aparecem Big Daddy (Nicolas Cage em boa atuação) e Hit Girl, pai e filha que buscam uma vingança. Aliás, dar motivos mais nobres para a violência dessa vingança é outra pequena mancada do longa. E é em Hit Girl, a garotinha que prefere facas a bichinhos de estimação no aniversário e manuseia armas como ninguém, que o filme se faz melhor. Chloe Moretz (“500 Dias Com Ela”) está fantástica no papel.
As ações dos “heróis” desperta a atenção do mafioso Frank D’Amico (Mark Strong de “Sherlock Holmes”) que vê suas operações em risco. Seu filho, também aficionado por quadrinhos, bola um plano para ajudar e faz nascer o ótimo Red Mist, um Christopher Mintz-Plasse (“Superbad”) muito engraçado. “O filme é divertido e não convencional, além de bem dirigido por Matthew Vaughn. Honra de modo competente a HQ, mesmo sendo uma obra menor que ela.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
"Vivo Na Cena" - Nasi - 2010
Marcos Valadão Rodolfo, mais conhecido como Nasi, caminha para os 50 anos (está com 48), sem perder um pingo que seja da sua integridade. Não tem como não associar sua voz ao Ira!, uma das melhores bandas do rock brazuca de todos os tempos. Depois da sua saída do grupo que culminou em trocas de farpas e acusações, Nasi coloca mais um trabalho no mercado. “Vivo na Cena”, foi gravado ao vivo em estúdio e ganha também um DVD bacana.
Lançado pela Coqueiro Verde Records, “Vivo na Cena” esbanja aquilo que nunca faltou a Nasi, a tão falada “atitude”. Com uma banda de apoio que esbanja qualidade, incluindo Johnny Boy (guitarra), Nivaldo Campopiano (guitarra), André Youssef (tecladista) e Evaristo Pádua (bateria), além de convidados como o saxofonista Manito e um naipe de metais de respeito, o vocalista faz um álbum de rock n’ roll clássico com pitadas generosas de blues.
O disco é uma amálgama de várias épocas. Da sua ex-banda são recriadas “Tarde Vazia”, “Por Amor” e “Milhas e Milhas”, onde dispara versos que agora parecem mais fortes: “Tenho gás/Tenho mais/Tenho Instinto (...) Tenho marcas/Tenho facas/Abro trilhas/Milhas e milhas”. Da nova geração do rock nacional são sacadas “Não Caio Mais” do River Raid, além de “Desequilíbrio” e “Eu Só Poderia Crer” (música do Fred 04) gravadas pelo Eddie.
Nasi participa com três faixas inéditas, “Ogun” e ‘Aqui Não É o Meu Lugar”, ambas em parceria com Nivaldo Campopiano e “Me Dê Sangue” feita com Johnny Boy. Da geração nos 80 vem “Carne e Osso”, grande canção do Picassos Falsos de Humerto Effe . Ainda há o resgate da genial “Rockixe” do Raul Seixas em que canta junto com Marcelo Nova e “Bala Com Bala”, música de João Bosco e Aldir Blanc, que ganha aqui uma versão interessantíssima e fluente.
A gravação ao vivo do álbum funciona bem, mas em algumas faixas deixa a desejar como em “Por Amor” em que o vocal dele e da Vanessa Krongold (Ludov) estão meio soterrados. Nada demais. Aliás o primeiro verso dessa música composta pelo Zé Rodrix e que ganhou vida no “Acústico MTV” do Ira!, serve bem para resumir a atual fase do vocalista: “Movido apenas por amor vou em frente...”. Movido por amor e regado com muito rock n’ roll.
Site oficial: http://nasioficial.uol.com.br/vivonacena
quarta-feira, 21 de julho de 2010
"Summer House" - Gold Motel - 2010
O exercício do devaneio pode ser mais ou menos esse: O Cardigans encontrou o Camera Obscura em algum dia de verão na Califórnia contemplando o sol e o mar. Se apaixonaram. Amor de verão a primeira vista, se é que você acredita nisso. Como fruto desse enlace tiveram uma linda filha chamada Gold Motel, que resolveu não só seguir o caminho dos pais, como também dos avôs chamados Beach Boys, The Kinks e The Monkees.
Devaneios a parte, o quinteto Gold Motel que estréia em 2010 com o disco “Summer House”, parece realmente o resultado dessa mistura. Sua vocalista e tecladista Greta Morgan deixou de lado sua banda The Hush Sound e partiu para viagens mais pop’s e ensolaradas junto com E. Hehr (guitarra), Dan D. (guitarra e vocais), Matt Minx (baixo) e Adam Coldhouse (bateria). O resultado é um trabalho deliciosamente alegre e descompromissado.
São apenas 10 faixas e a metade já era conhecida do EP lançado ano passado, mas ganharam uma roupagem um pouco melhor. Com exceção de “Who Will I Be Tonight?”, todo o registro é para cima, ideal para começar bem o dia. As letras, quase todas de autoria de Greta Morgan, não destacam muitos temas e tratam basicamente do cotidiano e de amores em geral. Nada muito complexo para uma proposta musical que não pede isso.
Em “Make Me Stay” que abre com um teclado pulsando, por exemplo, a vocalista canta: “Eu não sei fugir do amor (...) Você não vai mudar meu coração? (...) Você não vai me fazer ficar?”. Em “The Cruel One”, outra que vem puxada por teclados, o tom já é meio melancólico, com versos como “Eu estava usando a solidão e agora ela está me usando”. As letras acabam não importando muito, já que as melodias sessentistas tomam maior relevância.
“Summer House” é para colocar no player e deixar canções como “We're On The Run”, “Perfect In My Mind”, “Safe In L.A.” e “Don't Send The Searchlights” dar um toque mais alegre ao dia. Tudo é bem leve, casual e às vezes até mesmo juvenil. Encanta de maneira simples e doce (sem ser açucarado demais), caracterizado pelo competente vocal de Greta Morgan. Se por acaso passar por frente desse “Gold Motel”, entre e se hospede um pouco.
Site oficial: http://www.goldmotel.com
My Space: http://www.myspace.com/goldmotel
segunda-feira, 19 de julho de 2010
"Shadows" - Teenage Fanclub - 2010
“O Teenage Fanclub lançou disco novo!”. A notícia que era esperada pelos fãs do grupo escocês finalmente virou verdade em 2010. O último lançamento da banda tinha sido o “Man-Made” em 2005 que carregava além das fantásticas e habituais melodias do grupo, uma temática um pouco mais triste. “Shadows”, apesar do nome, mostra Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGuinley, a trinca esplêndida de compositores, olhando para os dias com mais alegria.
Com o guitarrista David McGowan e o baterista Francis MacDonald completando o time, o Teenage Fanclub concebe mais um álbum para fazer do mundo um lugar melhor de se estar. Lembrando discos seus como “Songs From Nothern Britain” de 1997 e o ótimo “Howdy!” de 2000, não deixa de lado as sempre citadas influências de The Byrds e Big Star, mas adiciona um pouco mais de Crosby, Stills, Nash & Young na mistura, além do próprio bardo canadense.
Já na faixa de abertura o ouvinte é fisgado pela isca e pelos versos “Às vezes eu não preciso acreditar em nada.” “Baby Lee” (que na introdução lembra “Island In The Sun” do Weezer), liberada mais cedo e o primeiro single do trabalho é para estar em qualquer coletânea que seja feita. O botão de voltar será utilizado algumas vezes. Nas próximas 10 faixas ouvimos violões, guitarras, teclados, pianos e arranjos de cordas trabalhando sempre em prol da melodia.
O clima meio desesperançoso ainda aparece vez ou outra, como em “The Fall”, porém é rebatido mais lá na frente na faixa “Live With The Seasons”, que canta sobre sentimentos para arrematar com felicidade juvenil em certo momento: “Eu vou viver sem razões/Quando eu estou aqui com você”. “Dark Clouds” é outro bom exemplo dessa assertiva com versos como: “Nuvens negras estão seguindo você/Mas elas vão se afastar/Eu vi a noite se transformando em um dia”.
A aura de certa juventude alongada está espalhada nas canções. Esses senhores que já passaram dos 40 anos são craques em parecer uma banda nova despontando no cenário, mesmo soando como se estivessem vivendo nos anos 60 e 70. Como o poeta Samuel Ullman escreveu um dia: “A juventude não é uma época da vida, é um estado de espírito”. Faixas como “Into The City”, “Shock And Awe”, When I Still Have Thee” e “The Back Of My Mind” comprovam isso.
“Shadows” não pode ser comparado com os clássicos “Bandwagonesque” de 1991 ou “Grand Prix” de 1995, mas consegue produzir brilho próprio e honrar com méritos a (excelente) discografia da banda. Quando “Today Never Ends” passa com sua melancolia bucólica e o disco chega ao final, a sensação é de extrema admiração por esses escoceses. Ter mais de 20 anos de estrada e ainda parecer vivo e querendo é uma tarefa complicadíssima. E eles tiram de letra.
Site oficial: http://www.teenagefanclub.com
My Space: http://www.myspace.com/theteenagefanclub
sexta-feira, 16 de julho de 2010
"A Humilhação" - 2010
Simon Axler tem sessenta e poucos anos. É um respeitado ator de teatro nos Estados Unidos, além de também ser conhecido por alguns filmes pequenos. Convidado a interpretar Próspero e MacBeth em uma nova adaptação das obras de Shakespeare, ele tem uma queda vertiginosa de produção e interpreta os papéis de maneira ridícula. O público se assusta, a imprensa não perdoa e principalmente ele fica desconsolado. O que aconteceu? Onde está seu talento?
Esse é o ponto de partida de “A Humilhação”, novo romance de Philip Roth lançado aqui pela Companhia das Letras com 104 páginas. Como um conto extenso ou uma pequena novela o autor explora temas como envelhecimento, desejo, perda da vontade de viver e morte, para construir mais um livro, que mesmo sem ser evidente, para ele está interligado com outros como “Homem Comum”, “Indignação” e “Nemesis” que será lançado em outubro lá fora.
No seu trigésimo livro, Philip Roth não tem como escapar de olhar mais para seus próprios pés quando fala de envelhecer, afinal ele já está caminhando para os oitenta anos, no entanto, ainda mantêm a boa forma que o consagrou. Simon Axler é um pouco inspirado na história do ator britânico Ralph Richardson, como o escritor relatou em entrevista recente. Esse ator foi contemporâneo de Laurence Olivier e John Gielgud (ambos citados por ele no livro).
O Simon Axler de “A Humilhação”, entretanto, diverge muito da vida do ator que o inspirou. No livro, depois de perder completamente o dom de interpretar seus personagens, sua vida entra em uma espiral descendente que inclui ser largado pela mulher e ser internado em uma clínica psiquiátrica por 26 dias, para controlar a ânsia e o desejo de se matar. A ameaça de suicídio (mais uma vez o tema da morte que Roth tanto gosta) está sempre presente.
Ao fechar esse primeiro “ato”, o agora ex-ator, visto que está desempregado e tem pânico de voltar a atuar por mais que seu agente pressione, ainda é envolvido em mais dois atos. No segundo, começa uma relação com a filha de uma amiga, vinte e cinco anos mais nova, que lhe dá novo ânimo e alegria para seguir em frente. Essa relação é repleta de nuances bem próprias e está a olhos nus fadada ao fracasso, o que se complementa no terceiro ato do livro.
Em “A Humilhação”, Simon Axler apesar de ter uma história de desespero a sua volta, não representa o ponto alto. Este fica para Pegeen Mike, a mulher que deixa o lesbianismo de lado para entrar na sua vida. Com intenções dúbias por todo tempo que se faz presente e beirando o niilismo, rouba os holofotes da trama. Por enquanto o criador pode ficar tranqüilo, continua relevante e não tem que se preocupar com seguir os rumos da sua criatura mais recente.
Sobre “Indignação”, passe aqui.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
"Muito Pouco" - Moska - 2010
O carioca Paulinho Moska retorna com um trabalho de inéditas depois de seis anos do lançamento do ótimo “Tudo Novo de Novo” em 2004. “Muito Pouco” é um disco duplo, lançado de maneira independente e dividido em duas partes, assim definido pelo músico: “Um é um grito. O outro é um sussurro. Um é cheio. O outro é vazio. Um explode. O outro implode”. São 18 faixas divididas igualitariamente em cada “lado” do trabalho, por assim dizer.
Em “Muito” as canções são mais agitadas, com teor mais pop e agradam mais. Já começa muito bem com “Devagar, Divagar ou De vagar?” com tecladão dando um charme todo anos 60. “Muito Pouco” vem em seguida, já regravada com sucesso por Maria Rita, fica bem melhor na versão do autor. “Deve Ser o Amor” traz versos bonitos enquanto “Canção Prisão” olha novamente para os anos 60 e canta sobre erros e arrependimentos, sobre ir embora.
“Soneto do Teu Corpo”, parceria com Leoni, já foi gravada por Mart’nália no seu disco “Menino do Rio” de 2006, e também fica superior na versão de Moska, com direito até a scratches. “Ainda” é mais intimista, com o grupo argentino Bajofondo Tango Club tomando conta do instrumental. “Pêndulo” é outra boa faixa e vêm antes da conhecida “Quantas Vidas Você Tem?”, que fez parte de trilha de novela global. “Antes de Começar” fecha esse lado.
Em “Pouco”, Moska abre com os violões dedilhados de “Semicoisas”, para passar pela sonhadora e quase pueril “O Tom do Amor”, parceria com Zélia Duncan, assim como “Sinto Encanto” e “Não”, também presentes nesse lado do trabalho. “Nuvem” conta com a participação de Pedro Aznar e “Waiting For The Sun To Shine” e “Oh My Love, My Love” com o argentino/americano Kevin Johansen, canções simples, mas extremamente cativantes.
“Provavelmente Você” traz Moska quase falando a letra, enquanto “Saudade” parceria com Chico César e que conta com a participação dele aqui, vem em versão razoável e menor que do que a concebida por Maria Bethânia anteriormente. Com “Muito Pouco”, Paulinho Moska mostra a habitual categoria na construção das letras e na formatação das suas canções. Nada fantástico ou extraordinário, mas ainda sim um compêndio musical bonito e bem realizado.
Site Oficial: http://www.paulinhomoska.com.br
segunda-feira, 12 de julho de 2010
"A Culpa é Do Fidel" - 2006
Anna de la Mesa tem nove anos no começo dos anos 70. Vive na França em uma casa grande e na escola católica onde estuda aprende o que entende como bons modos. Seus avôs de um lado são produtores de vinho da região de Bordeaux e do outro amigos e entusiastas do regime do ditador Franco na Espanha. Seus pais seguem a cartilha dos avôs, até que uma tia aparece junto com a filha vinda da Espanha, onde o marido foi assassinado pelo governo.
Anna de la Mesa, interpretada notavelmente por Nina Kervel-Bey é o ponto central do filme francês de 2006, “A Culpa é do Fidel”, primeiro trabalho da diretora Julie Gravas, filha do cineasta grego Costa-Gravas. Esse conturbado período histórico onde a briga política estava acirradíssima é demonstrado pelos olhos de uma garotinha, que de repente vê seu mundo e suas crenças ruírem sem qualquer aviso, o que lhe deixa emburrada e perdida.
Quando seus pais resolvem virar comunistas, que na visão da garotinha são “barbudos e vermelhos”, pois a empregada refugiada de Cuba assim o disse, o mundo fica chato, sem mais tempo para brincadeiras e com várias mudanças, incluindo da grande casa para um apartamento pequeno, que vive abarrotado de gente. Seu irmão mais novo François (Benjamin Feulliet) não sente tanto e se demonstra como um contraponto mais cômico no longa.
Julie Gravas se baseou livremente em livro de Domitilla Calamai para escrever “A Culpa é do Fidel”, mas ela própria deve ter passado por muitas situações parecidas, já que seu pai é um socialista famoso. O mundo planejado na época pelos comunistas é extremamente chato para uma criança e em cima disso a diretora cria um filme divertido, mas não menos crítico. As perguntas de Anna de la Mesa põem em cheque partes da doutrina dos seus pais e amigos.
Enquanto os pais se preocupam em ajudar tanto na França quanto em viagens, Salvador Allende a ganhar as eleições e se manter no poder no Chile, Anna vai se adequando ao novo mundo, abrindo sua cabeça. Quando Augusto Pinochet dá o golpe que o manterá no poder por 17 anos, Anna sofre tanto quanto o pai. “A Culpa é do Fidel”, critica a política da época de maneira inteligente e versa sobre mudanças e recondicionamentos para agradar bastante.
sábado, 10 de julho de 2010
"Shrek Para Sempre" - 2010
“Shrek Para Sempre” chega aos cinemas carregando a expectativa de uma sessão com boas risadas, diante não só de “gags” visuais e piadas fáceis, como também por toques de humor politicamente incorreto. Pelo menos foi isso que a franquia que chega ao quarto e anunciado último filme propôs desde o início. Principalmente nos dois primeiros, “Shrek” desvirginava os contos de fadas e inundava a tela com o cotidiano pouco convencional do amado Ogro.
“Shrek Para Sempre” parece que perdeu parte do tesão de viver. É como aquele velho amigo que durante a juventude divertia a todos com seu olhar irreverente e anárquico, suas frases curtas e certeiras, mas que depois de um tempo, já caminhando pelo terreno da meia idade, passa a repetir causos do passado e contar piadas mais fáceis, mais tranqüilas. Ele ainda continua sendo gente boa e faz a mesa rir vez ou outra, mas é visível que algo ficou para trás.
O último filme (será mesmo?) da série encerra a trajetória em versão acústica e adocicada. Retorna ao primeiro longa, antes do Shrek salvar a Fiona do Dragão e começar a sua própria saga, quando os pais da moça estão prestes a fechar um acordo mágico com o perigoso Rumpelstiltiskin. São salvos pelo gongo e Rumpelstiltiskin amarga uma vida chinfrim na qual não consegue passar mais nenhum de seus contratos mágicos adiante. Até que tudo muda.
Shrek anda confuso, está domesticado e não gosta disso. Não afugenta mais os humanos, virou uma espécie de celebridade. Isso o está matando. No aniversários dos filhos, finalmente explode e briga com Fiona. Rumpelstiltiskin vê tudo e cria uma armadilha para que o Ogro assine um contrato mágico, que lhe dará por um dia a chance de ser a criatura temida de antes em troca de um dia qualquer da sua vida. Claro que ele se dá extremamente mal na troca.
Arremessado a um mundo onde Rumpelstiltiskin está no comando e em luta com um monte de Ogros sobre o comando de Fiona, Shrek se vê em maus lençóis. Seus amigos são fantoches sem vida e nenhum lembra dele. Nem o Burro, nem o Gato de Botas, que está gordo e também domesticado. Ele precisa se redescobrir para ter toda a felicidade de antes, felicidade que não reconhecia, mas agora que perdeu tudo, vê o quanto gostava e amava essa vida.
O roteiro clichêzaço de Josh Klausner e Darren Lemke não incomodaria tanto se as piadas valessem a pena. Dá para rir? Claro que dá, mas em intensidade bem menor que antes. O diretor Mike Mitchell busca acomodar todos os personagens anteriores e deixa a maioria sem função. O afetado Rumpelstiltiskin é o que mais se salva, mas “Shrek Para Sempre” deixa a impressão de saudade do passado não só na trama, mas também dentro da própria franquia.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
"Amigo do Tempo" - Mombojó - 2010
“Almejo ser amigo do tempo...” deseja o Mombojó na música que dá nome ao seu terceiro trabalho, disponibilizado gratuitamente para download no site oficial. Manter uma relação amiga com o tempo é sempre complicado, principalmente no campo da música. Como manter a chama acesa, o mesmo amor pelas músicas, quando os anos passam, as cabeças mudam, os fãs querem sempre o mesmo disco, as relações se estremecem e amigos se vão?
Já passou algum tempo desde que a banda mostrou em 2004, o arrebatador “Nadadenovo”. Fizeram mais um (ótimo) disco pela Trama, o “Homem Espuma” em 2006, viram um amigo falecer, outro sair da banda, se mudaram para São Paulo e engataram uma longa temporada de sucesso com o projeto Del Rey, na qual tocam versões de canções do Roberto Carlos. O tempo passava e o novo disco cozinhava com paciência no forno das idéias.
“Amigo do Tempo” é o resultado disso. O Mombojó agora um quinteto, conta com Felipe S. (vocal e guitarra), Marcelo Machado (guitarra), Chiquinho Moreira (teclado), Samuel Vieira (baixo) e Vicente Machado (bateria), exercendo novas funções que passam por outros instrumentos até a produção do álbum e da carreira. Conseguem a façanha de olhar para os discos anteriores com carinho, mas sem se prender a eles, procuram sempre algo novo.
Financiado inteiramente pela banda, “Amigo do Tempo” teve produtores diferentes, o que não prejudica a unidade do trabalho. Das 11 faixas, mais da metade já era conhecida do público, como “Casa Caiada”, que aparece melhor ainda com efeitos diversos e a melancólica e melódica “Triste Demais”. O grupo explora mais o poder das eletronices, mas sem deixar de lado as frases certeiras, a malemolência preguiçosa do vocal e o ritmo peculiar.
Em “Antimonotonia” o clima é tão tenso que parece a trilha sonora de um filme dramático. Em outras como “Papapa” (com direito a clipe hilariante da banda vestida como heróis de desenhos japoneses), o Mombojó aparece mais pop que nunca e convida discretamente para dançar. “Aumenta o Volume” tem a bateria característica do grupo, mesmo que mascarada. “Praia da Solidão” é mais um bonito exemplo do lado melancólico da banda.
“Amigo do Tempo” talvez não agrade de entrada alguns fãs que esperam novas “Deixe-se Acreditar” ou “Merda”, mas é uma extensão perfeitamente entendida de “Homem Espuma”. Como diria Chico Science: “Um passo a frente e você não está no mesmo lugar”. O Mombojó segue habilmente essa trilha, mostrando ser um dos mais importantes nomes da música nacional dos últimos anos. Sem alardes ou histrionices, apenas fazendo música como arte.
Sobre o “Homem Espuma”, passe aqui.
Site oficial onde o disco está disponível gratuitamente para download:
terça-feira, 6 de julho de 2010
"O Segredo Dos Seus Olhos" - 2010
“O Segredo Dos Seus Olhos” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro desse ano. O filme argentino também abocanhou indicações em várias outras premiações e fez uma imensa bilheteria no seu país. O diretor Juan José Campanella reedita novamente a parceria com o ator Ricardo Dárin que já brilhou em trabalhos como “O Filho da Noiva” de 2001 e “Clube da Lua” de 2004. E consegue brilhar de novo. Naquele que talvez seja o melhor longa da carreira.
Ricardo Dárin vive Benjamin Espósito, um funcionário público do Tribunal de Justiça portenho que recentemente se aposentou. Procurando preencher suas horas vagas, resolve escrever um romance. Como tema escolhe um caso antigo, iniciado em 1974 e que além de ser responsável por algumas guinadas na sua vida, ficou durante muito tempo na memória. Depois de todo esse tempo, Benjamin resolve rever o caso e aproveita para analisar o rumo da sua vida.
Ao entrecortar passado e presente, Juan José Campanella mostra não somente um hábil suspense policial, como também uma Argentina em épocas bem distintas. Pincela ainda a tela com amores sufocados, dramas pessoais e comédia cotidiana. O caso que é o centro da trama trata-se de um estupro seguido de assassinato de uma jovem casada. Entre fechamento e reaberturas de processo, brigas no tribunal e ultrapassagens da lei, o culpado é procurado.
No fundo disso, Benjamin lida sem muita habilidade com a paixão pela sua chefa imediata, Irene Menéndez Hastings, interpretada muito bem por Soledad Villamil e tenta salvar seu melhor amigo e subordinado no Tribunal, Pablo Sandoval (um fantástico Guillermo Francella), da bebedeira que está ruindo com a sua família. E acima de tudo ainda se desespera para ajudar o viúvo da jovem assassinada (vivido por Pablo Rago), que fica destroçado com a perda.
“O Segredo Dos Seus Olhos” constrói um caminho que inicialmente parece fácil e sem muitos percalços, para na segunda metade até o final desembarcar em lugares inesperados e surpreendentes. A direção de Juan José Campanella se mostra mais uma vez repleta de classe e o roteiro adaptado do livro “A Pergunta Dos Seus Olhos” de Eduardo Sacheri (e escrito a quatro mãos com este) não deixa quaisquer buracos. Tarefa que não é lá das mais fáceis.
Ricardo Dárin é o ponto central, sua sobriedade faz desencadear o trabalho dos outros atores. A relação de amor utópico do seu Benjamin com Irene Menéndez é uma estrofe bonita e dilacerada de uma canção para marejar os olhos. Em certo momento o espectador se rende e pergunta a si mesmo: “Onde tudo isso vai dar?”. “O Segredo Dos Seus Olhos” merece todas as honras que conquistou, mais uma ótima prova do que o cinema argentino é capaz.
sábado, 3 de julho de 2010
"Os Excluídos" - Yiyun Li
A Revolução Cultural Chinesa aconteceu entre 1966 e 1976, comandada pelo mesmo Mao Tsé-tung, que liderava o país desde que subiu ao poder no final dos anos 40. Descontente com o modelo comunista que havia implantado, o governante comandou nesses dez anos através dos Guardas Vermelhos (grupos paramilitares de jovens), um massacre a cultura tradicional do país. O que era para ser um avanço no começo se mostrou mais um retrocesso despótico.
Depois de sua morte em 1976, as cartas do baralho mudaram de mãos novamente e o comunismo voltou ao poder, revertendo tudo ao seu jeito. Esse processo que passou ainda pela esperança da "Primavera de Pequim" culminou no massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial em 1989. É após esse momento histórico, mais precisamente em 21 de março de 1979, que a escritora chinesa Yiyun Li começa seu livro “Os Excluídos”, lançado esse ano aqui.
Originalmente publicado ano passado lá fora, chega pelas mãos da Editora Nova Fronteira com 400 páginas. Segundo trabalho de Yiyun Li (o primeiro permanece inédito no país), a obra equilibra tensão e desejos no meio de um país cercado por política por todos os lados e onde seus moradores são meros fantoches dos donos do poder. Retrata uma nação que apesar da potência que é hoje, cometeu (e ainda comete) barbaridades contra o seu povo.
A trama começa com a execução de uma jovem de menos de 30 anos, acusada de ser contrarevolucionária. Sua execução pública movimenta uma província fictícia mediana do país. O evento serve sempre para enaltecer o regime e manter os cidadãos obedientes e sem pensar. Várias histórias aparecem, primeiramente de modo particular e isolado, para depois serem costuradas com surpreendente categoria, dosando voracidade e sensibilidade.
Por trás da cortina que nublava a visão de todos, Yiyun Li mostra necessidades básicas do ser humano como comer, elevadas em níveis viscerais. Os personagens criados são extremamente dúbios na sua maioria e mesmo os que hoje em dia podemos julgar como “escrotos”, tem seus motivos bem entendidos. “Os Excluídos” é um romance forte, denso e ao mesmo tempo delicado. Uma homenagem emocionante a todos que perderam suas vidas na época.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
"Ladrão de Cadáveres" - Patrícia Melo
Corumbá, Mato Grosso do Sul. Cidade situada na margem esquerda do Rio Paraguai e que faz fronteira com a Bolívia. O clima pantaneiro toma conta do lugar. O calor invade tudo. É nessa cidade que Patrícia Melo desenvolve o mais recente trabalho. “Ladrão de Cadáveres” marca a estréia da escritora na Editora Rocco, depois de um bom tempo na Companhia das Letras. Lançado esse ano com 220 páginas, traz uma trama rápida e envolvente.
O narrador, que ao mesmo tempo protagoniza o livro, é ex-gerente de uma empresa de telemarketing de São Paulo, que em um dia como outro qualquer explodiu e estapeou uma funcionária. Pouco tempo depois, essa mesma funcionária se suicida e a vida se torna insuportável. Ele então recebe a visita de Carlão, um primo que mora em Corumbá e depois de um convite ruma para a cidade, sem saber o que fazer da vida, sem saber de nada.
Tenta se acostumar com a nova moradia e com o convívio social da cidade, mas na verdade não está a fim de fazer muita coisa. Ao mesmo tempo um pequeno drama começa a se desenvolver com outras pessoas. Uma das famílias mais ricas do local perde inexplicavelmente o filho único em um fatídico acidente aéreo. De uma maneira perspicaz, Patrícia Melo consegue unir esses dois pontos, união que vai servir de base para tudo que virá.
“Ladrão de Cadáveres” é um livro sem esperança no poder da bondade, das boas ações. Até as pessoas mais corretas vão quebrando seu caráter pouco a pouco, sempre olhando o que é melhor para suas conveniências, em vão tentando provar a si mesmo que os meios justificam os fins. Retrato fiel de grande parte de um país em que a lama não para de jorrar. A autora não dispensa ninguém. Polícia, família, amores. Tudo está no mesmo saco.
Patrícia Melo continua no gramado onde joga melhor. Amarra suas tramas policiais como poucos escritores no país hoje em dia. Sem personagens ou tramas óbvias, consegue criar mesmo assim cenários plenamente reais. “Ladrão de Cadáveres” pode até falar sobre perdas da vida, como a autora afirmou em entrevista recente, mas traz consigo também em tons fortes, uma imensa lista de imoralidades que as pessoas podem ser capazes de fazer.
O livro tem um blog relacionado a história. Para olhar depois ou enquanto ler: http://dodecimoandar.wordpress.com
Sobre o livro anterior, passe aqui.
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