“Funciona assim: Pegue qualquer melodia seja ela qual for, Beethoven ou música havaiana, toque na guitarra, adicione baixo e bateria e as pessoas chamarão de Rock 'n' Roll." A frase cunhada por Frank Zappa, ao mesmo tempo em que transmite ironia crítica, dá uma noção de quão grande o rock n’ roll se tornou. A música que começou com ares de maldita (e carregou isso por um bom tempo) se tornou mainstream no decorrer dos anos e invadiu milhões de vidas.
Uma dessas vidas foi a do francês Hervé Bourhis nascido em 1974. Apaixonado por quadrinhos, este francês teve o rock sempre presente no seu caminho, mesmo que nunca tenha tido talento para tocar qualquer instrumento. Em “O Pequeno Livro do Rock” que a Editora Conrad lança esse ano aqui com 224 páginas, Hervé Bourhis promove um bonito depoimento sobre essa paixão, usando os quadrinhos para expressa-la de modo criativo e bem humorado.
O livro é uma colcha de retalhos com fatos relacionados ao estilo, assim como outros, vide hip hop, reggae, eletrônico, disco, etc. Indo de 1915 até 2009 é traçado um panorama aleatório de acordo com as impressões do autor, mas montado em ordem cronológica. A partir de um determinado momento, o autor narra em um plano de fundo sua relação com a música. “O Pequeno Livro do Rock” vem em formato bacanudo, com um vinil estampado dentro.
Os comentários trazem sempre um toque bem humorado (e devotado às vezes) para o nascimento do estilo, das gravadoras, dos álbuns, artistas e grupos. Passa-se por Elvis Presley, The Beatles, The Rolling Stones, Bob Marley, Metallica, Prince, Elvis Costello, R.E.M, U2, Pixies e Nirvana, entre tantos outros. Há piadas embutidas como com Brian Wilson e o seu “Smile”, Frank Sinatra e o rock e Elvis Presley encontrando Richard Nixon na Casa Branca.
Capas de discos clássicos são redesenhadas em quadros a cada página. Discos como “Astral Weeks”(1968) de Van Morrison, “Zen Arcade”(1984) do Husker Dü, “Rumours”(1977) do Fleetwood Mac, “Entertainment!”(1979) do Gang Of Four, “The Who Sell Out”(1967) do The Who, “Goo”(1990) do Sonic Youth, “Automatic For The People”(1992) do R.E.M ou “Yankee Hotel Foxtrot” (2002) do Wilco. Dá uma imensa vontade de sacar todos para escutar na mesma hora.
Outras culturas associadas ao rock vão aparecendo, como a literatura (Beatniks, Alta Fidelidade), Cinema (Laranja Mecânica, Pulp Fiction) e Quadrinhos (Freak Brothers). O autor cria divertidas “batalhas” discográficas entre Chuck Berry e Litlle Richard, The Who e Kinks, David Bowie e Lou Reed, Michael Jackson e Prince, Nirvana e Pixies, Radiohead e Gandaddy (esta última digna de levantar um protesto histérico tão característico dos fãs do grupo de Thom Yorke).
Até o Brasil dá as caras. Vem com a Bossa Nova, Tropicália, Sepultura e Cansei de Ser Sexy. Há também “Top’s Five” espalhados por todo lado, para dar mais um charme. É claro que faltam muitas bandas, mas se trata de um visão pessoal e abrange na verdade grande parte do que consagrou o estilo. É interessante ver como no decorrer dos anos a música foi ficando sem um maior apelo de nomes fortes, com carreiras construídas. A efemeridade tomou conta.
“O Pequeno Livro do Rock” é um tributo divertido, desleixado e anárquico de um cara sobre uma música que faz parte da sua vida. O tão amado e odiado rock n’ roll. Como diria Pete Townshend: "O Rock 'n' Roll é uma das chaves, uma das muitas, muitas chaves de uma vida complexa. Não fique se matando tentando todas as outras chaves. Sinta o Rock 'n' Roll, e então provavelmente você vai descobrir a melhor chave de todas." Esse cara sabe das coisas. Fique com ele.
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