Em um futuro não muito distante a humanidade caminhou para um nível maior de segurança pessoal, por mais que isso tenha tido influência direta na própria condição de ser humano. Em 2054, a grande maioria da população vive através de substitutos, andróides moldados com qualquer aparência física desejada e dotados de inteligência artificial para serem comandados por seus donos direto do conforto das suas casas, sem riscos e sem perigos.
Esse é o cenário de “Substitutos”, HQ escrita por Robert Venditti e desenhada magistralmente por Brett Weldele. Publicada pela Top Shelf nos USA, a obra foi lançada aqui ano passado pela Devir em uma caprichada e bonita edição de luxo com 192 páginas, contendo não somente a história original, como também vários extras. O lançamento surfou na onda da estréia da adaptação cinematográfica que traz Bruce Willis no papel principal.
Esqueça o desastroso filme que não faz jus em momento algum ao clima e a crítica comportamental dos quadrinhos. Na grande tela o roteiro foi modificado imensamente, resultando em confusão e repetição de clichês, além de vergonhosas atuações como a de Ving Rhames (“Missão Impossível”). O roteiro da HQ é bem amarrado, com tensão e desespero na medida certa e influência de mestres da ficção científica como Isaac Asimov e Philip K. Dick.
Nessa cidade futurista, o que em um primeiro momento seria uma solução para melhorar a segurança e facilitar serviços pesados ou perigosos, torna-se um vício que almeja poder e beleza física acima de tudo, gerando lucros milionários para a Virtual Self, fabricante dos substitutos. Quando uma espécie de assassino serial começa a detonar os andróides, uma trama bem revestida se apresenta e cai no colo dos detetives Harvey Greer e Pete Ford para ser resolvida.
Tudo indica o envolvimento de Zaire Powel III, o “Profeta”, que lidera uma parte da população que opta por viver como antes. No meio da trama onde as coisas não são bem o que parecem ser, a crítica da sociedade que Robert Venditti faz é muito contundente e faz pensar sobre para onde estamos caminhando nesse culto a beleza e ao superficial. Com o raro poder de fazer um universo fictício parecer possível e plenamente real, “Substitutos” merece a leitura.
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