Dentre os filmes já produzidos sobre a destruição do mundo como conhecemos e a posterior sobrevivência nele, apenas uma pequena parcela se direciona sobre a ótica das pessoas e as dificuldades de viver nesse apocalíptico novo cotidiano. A maioria se preocupa em jogar na tela imagens sensacionais de monumentos e cidades importantes sendo quebradas, alagadas e destruídas, enquanto um pequeno grupo procura a salvação para o caos.
“A Estrada”, novo trabalho do diretor John Hillcoat se enquadra nessa pequena parcela descrita acima. O roteiro assinado por Joe Penhall é baseado no livro de Cormac McCarthy, vencedor do Pullitzer em 2007 e autor de “Onde Os Velhos Não Tem Vez”. O filme opta por contar um drama sobre pai e filho tentando sobreviver em um mundo que foi destruído, sem que eles mesmos saibam as causas disso, o que na verdade pouco importa.
Ao excluir da trama as divagações sobre possíveis causas do fim do mundo, tão comuns nos nossos dias atuais, John Hilcoat constrói um filme intenso e cheio de ótimos momentos. Em meio a paisagens desertas e um céu de costumeiro cinza, um homem (Viggo Mortensen) tenta ir para o sul, mais para a costa do EUA, onde acredita ser mais fácil proteger seu filho (Kodi Smit-McPhee) dos ataques canibalistas das gangues predominantes.
Aos poucos vão sendo apresentados alguns outros detalhes, como a esposa falecida (Charlize Theron). Na caminhada para o sul, pai e filho se deparam com um mundo destroçado, em busca de comida e abrigo, sendo que tudo o mais se torna supérfluo. Nessa caminhada não há tempo de distinguir entre bons e maus, todos são possíveis perigos a sobrevivência. O encontro com um velho (Robert Duvall) torna essa premissa mais acentuada.
Embaixo das imagens visuais muito fortes que a fotografia do filme distribui, o drama retrata de maneira intensa a relação entre pai e filho, com a proteção sempre em primeiro plano do primeiro e o reconhecimento e respeito (por mais que nem sempre concordem) que o filho vai demonstrando para o pai. Também versa sobre a perda da nossa pretensa humanidade quando o desespero bate, mostrando o quanto animalescos podemos ser se necessário.
“A Estrada” traz instrumentos que transformam um filme em algo mais. Direção precisa, atores inspirados, roteiro forte e bem costurado, ambientação brilhante e figurino impecável. A trilha sonora (a cargo de Nick Cave) é outro destaque, conduzida levemente, de maneira subliminar, como a história requisita. “A Estrada” aponta que se o fim do mundo realmente acontecer, não será muito diferente do caos social e cotidiano que ela retrata.
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