Não gosto muito de livros que me passam com o adendo “esse você tem que ler”. Geralmente acabo não gostando tanto quanto quem me indica, parece que já vou com uma predisposição contrária. Isso aconteceu com “O Melhor Que Pode Acontecer a Um Croissant” do espanhol Pablo Tusset. Vez ou outra alguém me indicava o livro até que comprei. No entanto, levei mais de dois anos para começar a leitura, não sei se por causa do que disse acima.
Originalmente lançado em 2001 na Espanha, o livro ganhou edição nacional em 2004 pela W11 Editores. A estréia de Pablo Tusset envereda pelo caminho do romance policial e causou certo alvoroço no seu país natal vendendo milhares de cópias e ganhando elogios importantes como o do falecido escritor Manuel Vázquez Montalbán e de jornais como o Le Figaro de Paris. Aqui pelo Brasil acabou passando meio despercebido, não chegando a um alarde maior.
Nos três primeiros capítulos, “O Melhor Que Pode Acontecer a Um Croissant” quase que pede para deixar de ser lido. O autor se preocupa demais em enxertar fragmentos de cultura pop nas conversas e nas observações do personagem principal, que além de deixar um resultado confuso, parece bastante forçado. As próprias excentricidades da trama que lá na frente resultam em um ponto positivo, aqui servem ainda mais para aumentar a narrativa perdida e esquálida.
Se conseguir sobreviver a esse início, o leitor acaba por se deparar com uma história que passa a ser bem construída e começa a revelar certo charme especial. A trama é travada por Pablo Miralles, que com seus trinta e poucos anos só se preocupa com as coisas principais da vida na sua concepção, que são dormir bastante, encher a cara sempre que possível, fumar um baseado todo dia, transar com uma puta ocasionalmente e filosofar na frente do computador.
Pablo vem de uma família extremamente rica, mas acabou por renegar tudo para viver na contramão do senso comum. Na verdade o personagem tem uma inquietação perante o restante do mundo que não seja uma amiga, o pessoal que filosofa no computador no seu chat e os pés rapados que bebem no mesmo boteco imundo que ele. Quando seu irmão some sem explicação, acaba se vendo no meio de um caso que envolve seqüestros, crimes e uma seita milenar.
Com um humor cínico e repleto de sarcasmo, Pablo Tusset cria em “O Melhor Que Pode Acontecer a Um Croissant” uma narrativa envolvente, divertida e anárquica. Os excessos iniciais que enfraquecem um pouco a obra, passam a caber na medida certa em boa parte das 318 páginas do romance. O livro não chega a merecer a frase “esse você tem que ler” com tanta força como me indicaram, mas se tiver a oportunidade na sua frente, agarre e se divirta. Vale a pena.
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