Por mais que a traição em um relacionamento amoroso tenha ganhado ares de banalidade e normalidade nos dias de hoje, ainda é uma situação que destrói casais e mais casais mundo afora. No seu novo livro, “Nada a Dizer”, a escritora carioca Elvira Vigna remonta um ano da vida de um casal já com mais de sessenta anos, narrando pelo lado da mulher traída. O adultério serve então como impulsionador para cair a máscara do cansaço das rotinas do dia a dia.
Lançado este ano pela Companhia das Letras com 168 páginas, “Nada a Dizer” é lento, com um ritmo sincopado, sem se dar ao direito de maiores aventuras. Os personagens principais viveram todas as liberdades e agruras dos anos 60 e 70 no nosso país e se vêem em uma situação que atestam, por mais duro que possa ser, que estão devidamente adequados a boa parte do que criticavam, inclusive naquilo que entendiam sobre liberdade e amor.
Ao decidir se mudar para São Paulo junto com os filhos depois de morar por vários anos no Rio de Janeiro, Paulo e a sua esposa (o nome não é mencionado), ambicionam novamente dar uma guinada no tédio da própria vida, com outra cidade e porque não novos desafios. No meio dessa mudança, Paulo resolve ter um caso que nem ele mesmo parece entender com uma mulher 20 anos mais nova, o que acaba abalando a estrutura do que chama de lar.
A narração da esposa traída tenta ao mesmo tempo entender os motivos que levaram seu marido a executar tal idéia, como também serve para analisar toda uma vida de sonhos deixados para trás e outros tantos realizados. Nesse cenário Elvira Vigna demonstra uma grande vantagem. Ela consegue vestir a personagem principal com todos os trejeitos clichês das mulheres traídas, mas sem exagerar em momento algum, deixando uma personalidade forte delineada.
“Nada a Dizer” tem poucos deslizes na sua narrativa, como por exemplo, trazer nas entrelinhas a velha mania de julgar a geração de 60 e 70 como fundamental e coisa e tal, aquela tradicional ladainha, que por mais que tenha (grande) fundamento, já cansou. No mais, a sua autora tem o dom de escrever muito bem e conduz uma história que permeada de vírgulas e paradas, consegue repassar o clima de cansaço, dúvidas e arrependimentos pretendido.
Site oficial da escritora: http://vigna.com.br
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