Corria o ano de 1976 na Inglaterra e o movimento punk estava em plena ascensão, principalmente na capital Londres. Próximo dali na cidade de Manchester se formava o embrião de uma das bandas mais enigmáticas e importantes da história do rock. Dessa cidade cinzenta e industrial surgia o grupo que seria a partir de 1977 conhecido como Joy Division. Apesar de uma carreira curta e trágica, os ingleses deixariam seu nome gravado.
O Joy Division tinha em Ian Curtis um vocalista problemático e brilhante, que desfiava sua verve poética e desesperadora em cima de uma base forte, construída por Bernard Summer (guitarra e teclado), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria). A sonoridade era influenciada pelo movimento punk e por Velvet Underground e David Bowie, conjuntamente com as eletronices dos alemães do Kraftwerk. O resultado era estranho e poderoso.
“Closer” chegou as lojas em julho de 1980 e se tornou um álbum póstumo, pois por problemas na sua distribuição acabou saindo após o suicídio de Ian Curtis em 18 de maio do mesmo ano. Tudo isso serviu mais ainda para aumentar a aura sobre o registro. As letras do vocalista parecem mais sombrias e tristes por conta disso e refletem a personalidade conflitante deste, que foi tão bem retratada no filme “Control” do diretor Anton Corbijn.
O disco abre com a bateria meio tribal de “Atrocity Exhibition” até a entrada de um baixo vigoroso comandar o cenário. Ian canta em determinado momento: “você verá os horrores de um lugar distante/conhecerá os arquitetos da lei frente a frente/verá chacinas numa escala que nunca viu/e todos que dão duro pra suceder/este é o caminho, entre”. O convite para entrar nesse mundo nas próximas faixas é tanto assustador quanto irresistível.
Em “Isolation” (uma das melhores músicas da banda), a insatisfação chega com versos como “mãe eu tentei, por favor acredite em mim/estou fazendo o melhor que posso/me envergonha as coisas que tenho feito/me envergonha a pessoa que sou”, para depois o nome da canção ser repetido. “Passover” e “Colony”, as duas que vem a seguir são de uma tremenda falta de fé na humanidade e no mundo, via os olhos da religião e até mesmo do amor.
“A Means To An End” (onde a Legião Urbana se “inspirou” na introdução de “Ainda é Cedo”) traz talvez o Ian Curtis mais despido do disco ao cantar “eu depositei minha confiança em ti”, enquanto Bernard Summer corta a canção com fraseados fulminantes de guitarra. “Heart And Soul” é outra cacetada que até hoje bandas e bandas se influenciam. “O presente está bem fora de controle. Coração e alma, um irá quebrar.” A resposta já se sabe.
“Twenty Four Hours” trata poeticamente sobre “aquilo que uma vez foi amor”, alternando momentos de caos sonoro com texturas mais calmas. Em “The Eternal” o Joy Division soturnamente reflete sobre o tempo e a morte inevitável, para depois fechar com mais descrença e questionamentos em meio aos teclados de “Decades”. E assim depois de 44 minutos se encerra a viagem conturbada e repleta de momentos grandiosos de “Closer”.
Depois do suicídio de Ian Curtis, os remanescentes do quarteto montaram o New Order e construíram uma carreira preciosa e duradoura. Os desdobramentos da música do Joy Division ecoaram em bandas como Legião Urbana, Radiohead e Franz Ferdinand, só para ficar em alguns de muitos e muitos outros casos. “Closer” faz 30 anos em 2010 e permanece demonstrando uma força incrível nas suas canções. Discoteca bem mais do que básica.
Sobre o filme “Control”, passe aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário