O diretor dinamarquês Lars Von Trier sempre causa barulho com seus filmes. Com “Anticristo”, o seu mais novo rebento não foi diferente. O longa já recebeu vaias e aplausos e foi bastante comentado e discutido. Particularmente gosto muito do trabalho do diretor. Filmes como “Dançando no Escuro” de 2000 e principalmente a dobradinha “Dogville” (2003) e “Manderlay” (2005), tem um mérito indiscutível, não sendo obras de fácil acesso, mas de uma incrível inteligência no que tange ao seu conteúdo e forma.
No entanto, nem esse gosto pessoal pelo trabalho do diretor é capaz de fazer “Anticristo” agradar. No seu novo filme, Lars Von Trier parece perdido em um roteiro falho e pretensioso e tenta se ancorar em cenas fortes de violência, sexo e mutilação, que por mais que causem extremo desconforto, só agravam o problema, pois é um desconforto que não nasce de uma arte que instiga e perturba, mas sim de um acúmulo de equívocos. Somente em poucos momentos as cenas se sobressaem e o talento retorna.
A trama gira em torno de um casal sem nome interpretado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg. Os atores são o único ponto positivo. As duas atuações são intensas e repletas de coragem e força. Ela é uma escritora famosa e ele é um psicanalista. Enquanto os dois estão fazendo sexo, seu pequeno filho acaba por cair (ou se jogar) de uma janela direto para a morte. Desse ponto em diante cria-se uma história em que o drama psicológico pela culpa vai consumindo pouco a pouco, até ganhar contornos de desespero, medo e loucura.
Para conseguir superar o problema os dois viajam para uma cabana no meio de uma floresta, onde ele tenta ajudá-la a superar a morte do filho. Ela na verdade culpa tanto ele quanto a si mesma pelo acontecido e só consegue achar algum conforto no sexo, que está longe de ser algo natural para os dois nessa fase. O clima fica cada vez mais pesado, ganha em tensão e o roteiro passa a adicionar diversos pontos subjetivos, que além de não possuir explicação aparente, ajudam e muito para o tremendo desencontro que acaba sendo o filme.
A culpa realmente corrói se não for bem administrada e que se siga em frente apesar dela. Citando Shakespeare: “não há culpados, o que há são desgraçados”. A vida do casal de “Anticristo” se resume mesmo a isso: uma desgraça. Tremenda e infernal desgraça. Nas entrevistas sobre o filme, o próprio Lars Von Trier acha que as coisas não saíram muito bem em certos aspectos. “Anticristo” é o tipo de filme para ser esquecido. Suas idéias (ou a falta delas) e pretensões devem ser colocadas em uma caixa para ser jogada fora sem nenhuma pena.
Sobre "Manderlay", passe aqui.
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