“Meu papel no mundo é fazer canções cantando o amor que trago do berço...”, escreve Erasmo Carlos em determinado momento no seu livro “Minha Fama de Mau”, que recentemente ganhou vida através da Editora Objetiva, com 368 páginas. O Tremendão abre seu coração no que ele mesmo define como um apanhado de memórias e não uma autobiografia da sua vida. Com muito bom humor e amor no coração conta alguns “causos” da sua história.
“Minha Fama de Mau” realmente se apresenta como um apanhado de memórias do cantor e compositor, vindo desde a infância no Bairro da Tijuca, passando pelo estrelato e fama na Jovem Guarda, pela eterna parceria e amizade com Roberto Carlos e a seqüência da sua carreira. Em muitos momentos parece que estamos diante de uma conversa de bar, com trocas de passagens e acontecimentos, tudo sempre preenchido com muita leveza e descompromisso.
O livro adota uma postura completamente light e superficial de tudo que o Tremendão passou. Usa e abusa somente da devoção de Erasmo para com as mulheres e toda a aura de sexo que envolvia a doce e meiga Jovem Guarda. Momentos difíceis da sua vida passam longe de ser comentados com muita profundidade, como o suicídio da esposa e eterna paixão Narinha e a doença da sua mãe por quem sempre devotou um amor intenso e admirável.
Algumas vezes essa postura leve cansa um pouco, pois traz histórias tão cotidianas da vida em família que não levantam interesse algum. Mas esse é o Erasmo. O eterno gente boa, tranqüilo, o amigo de todo mundo. Talvez por essa imagem ele nunca coloque diretamente o pé na porta, como por exemplo Eric Clapton fez na sua excelente autobiografia. Descontando essas passagens que não valem assim tanto a pena, existem outras engraçadíssimas na mesma quantidade para compensar.
As passagens com Tim Maia são sempre as mais surreais, como a que fecha o livro de maneira lírica e fantástica. Amigos de infância (foi Tim que ensinou a Erasmo os primeiros acordes), Tim não cansou de pregar peças no velho parceiro. Carlos Imperial é outra figura com grandes momentos. A farsa que foi montada para a divulgação do clássico “Vem Quente Que Estou Fervendo”, além de ser uma sacada de marketing genial, beira a fantasia.
O eterno amigo Roberto Carlos não aparece tanto, mas quando isso ocorre é citado com imenso carinho e dedicação. Mais casos vão preenchendo as páginas. Rita Lee, Jorge Ben e Gilberto Gil, entre tantos outros dão a cara nas conversas de botequim do Tremendão. “Minha Fama de Mau” não traz nenhuma revelação bombástica ou dramas pessoais terríveis. Isso até certo ponto pode pesar contra, mas as risadas que aparecem regularmente acabam valendo bem mais. Afinal, sorrir faz bem a saúde.
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