Sexta feira, 13 de novembro de 2009. Por volta das 20:00hs chegava ao complexo do African Bar, situado no centro de Belém, para mais uma edição do Festival Se Rasgum, a quarta sendo mais exato. A escalação do ano trazia nomes de diversas vertentes e musicalidades, o que gerava uma expectativa interessante. Logo no primeiro passeio a estrutura chamou a atenção, com uma praça de alimentação mais diversificada e internet disponibilizada para os presentes através de um dos patrocinadores do festival. Boa sacada.
A programação de sexta começou com atraso. Devido a problemas com a chuva que caiu mais cedo isso acabou por alterar a ordem das apresentações e gerar certo desconforto. No entanto a superstição da data do dia acabou por aí. Quando a banda de Belém, The Baudelaires, subiu ao palco, as coisas começaram a engrenar. Abrindo o festival, a banda trouxe um powerpop bem bacana. Poderia funcionar melhor se optassem em cantar mais em português.
Em seguida o Ataque Fantasma tomava conta do palco principal. Com pouca gente ainda presente, o show não foi tão empolgante, no entanto, instrumentalmente deve ter sido a melhor das várias apresentações que já vi. O som estava limpo e permitia escutar tudo nitidamente. E é sempre bom escutar canções como “Central”. Com a seqüência dos shows quebrada pelos imprevistos, o Gork apareceu logo cedo no segundo palco e carregou a primeira grande apresentação do festival.
André Abujamra toca o projeto junto com o baterista Loco Sosa e o baixista Jesus Sanchez. A brincadeira com o rock mais pesado rendeu ótimos momentos. As letras cheias de maluquices de André funcionaram bem, o público endossou e o show foi divertidíssimo. Os mineiros do Dead Lover’s Twisted Hearts, que eu não conhecia antes, subiram logo após e foram discretíssimos. Talvez funcione em um lugar mais fechado, mas no Festival Se Rasgum não deu liga. Pausa para tomar mais uma cerveja.
O Pro.EFX com Arcanjo Ras trouxe uma proposta interessante de se ver. Reggae, Rap e Dub servido em boas doses. Não foi espetacular mas rendeu bons momentos. Saí no meio para o Espaço Laboratório, onde o Eletrola, banda seminal dessa nova geração do rock paraense e que rendeu bandas como Johny Rockstar, Turbo e Clube da Vanguarda Celestial posteriormente, fazia o primeiro show depois de anos da separação. O Espaço Laboratório foi pequeno. Show Impecável. “Revel” e “Não Olhe Para Mim” emocionaram muito.
A Nação Zumbi que ia fechar a noite, subiu antes para alegria dos muitos fãs presentes. O grupo mesclou momentos de discos mais recentes como “Fome de Tudo” com clássicos da época que Chico Science ainda comandava o barco. Tiro certeiro, apesar de eu já ter visto shows bem melhores anteriormente. Mas a Nação traz esse grande mérito, mesmo quando não está tão inspirada, consegue ser bem acima da média. “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada” foi o grande destaque.
O Cérebro Eletrônico veio depois e fez um show extremamente competente e divertido. Canções como “Dê” foram fortemente cantadas. Quando o Juca Culatra & Power Trio iniciavam seu show, o cansaço já era tão intenso que não deu para agüentar. Sai antes do fim e ainda perdi o Tecnoshow e o Bonde do Rolê, que muitos amigos elogiaram no dia seguinte. Para ser bem honesto, acabo por acreditar que não perdi tanta coisa assim, mas...o sábado viria pela frente.
Dos três dias de festival, a escalação de sábado era a mais versátil. Começou novamente atrasada por alguns motivos técnicos e as duas primeiras bandas, duas paraenses, Aeroplano e Dharma Burns, mostraram um som correto, mas nada que chamasse mais a atenção. O primeiro bom show da noite viria com o Radiotape, banda mineira que após uma elogiada estréia trouxe seu powerpop para Belém. Show bem executado, com canções para cantar junto e com direito a uma versão matadora de “Rock n’Roll Star” do Oasis.
O Johny Rockstar entrou no segundo palco e fez até aquele momento, o melhor show do festival. Eliezer, Natanael, Elder e Ivan (um monstro na bateria), tocaram um espetáculo irrepreensível. Forte, pop, enérgico. E lá vai o público cantar faixas como “Alcalina” e “Vingança Dos Chatos”. Muito bom. Os paulistas do Milocovik que tocaram depois, foram responsáveis pelo pior show da noite. Tudo inverso ao Johny Rockstar. Fraco e insosso. Perdi as duas últimas músicas, enquanto pegava mais uma cerveja e me posicionava para o Marku Ribas.
Instrumentalmente falando, talvez o Marku Ribas tenha sido o grande nome do festival. Banda cheia de classe. O baterista Esdras Nenén Ferreira abusava da sua qualidade. O queixo as vezes ficava meio caído. Com suas histórias e seu samba remodelado, convenceu e ganhou o público que sem preconceito foi assistir. O que veio a seguir foi um momento único. A apresentação de Pinduca, um ícone do carimbó e da música regional paraense foi apoteótica. Nunca fui lá muito fã do cara, mais o que ele fez no Se Rasgum é digno de respeito.
As músicas de Pinduca estão gravadas no inconsciente da esmagadora maioria dos paraenses. Foi hit atrás de hit. Todo mundo querendo dançar e se sacudir ao som do carimbó. Em músicas como “A Marcha do Vestibular” e a versão de “La Bamba”, a catarse foi geral. Totalmente fora da sua habitual praia, Pinduca fez o melhor show do 4º Festival Se Rasgum. O Digital Dubs com o B Negão e o Ras Bernado subiu depois, mas tirei sua apresentação para descansar um pouco e comer alguma coisa para revigorar.
Os gaúchos da Comunidade Nin-Jitsu fizeram todo mundo dançar. O funk com guitarras altas do grupo funcionou e até B Negão apareceu para dar canja. O final com “Melô do Analfabeto” e “Detetive” foi bem recebido. O projeto Música Magneta foi bastante comentado depois, mas também optei por descansar devido ao avançado da hora e esperar pelo Pato Fu. Com duas horas de atraso, Fernanda Takai, John Ulhoa, Ricardo Koctus, Xande Tiametti e Lulu Camargo subiam para encerrar a segunda noite.
O Pato Fu fez um ótimo show, apesar de o público ter curtido mais tranquilamente, sem se empolgar tanto, afinal o cansaço já era predominante. Fernanda brincou, dançou, tocou e brindou o público com sua habitual simpatia. Em músicas como “Canção Para Você Viver Mais” emocionou bastante. A banda até tocou “Mamãe Ama é o Meu Revolver” do seu longínquo segundo disco, “Gol de Quem?”. O final teve “Sobre o Tempo” e “O Filho Predileto do Rajneesh”. Era cinco da manhã quando acabou e o público migrava para o seu merecido descanso.
O Clube da Vanguarda Celestial, elogiada banda do Natanael (que já havia tocado no festival com o Ataque Fantasma, Johny Rockstar e Eletrola) abriu o último dia em uma apresentação pouquíssimo inspirada, principalmente do baixista Bob Stone. Os amapaenses do Godzilla também não conseguiram convencer. Apesar do som vigoroso, pareceu meio confuso na maioria das vezes. Os paraenses do Sincera chegaram na seqüência e agradaram os fãs que pulavam na frente do palco com seu rock mais adolescente.
O Inverso Falante, outra banda paraense, fez um show mais interessante logo depois. Os músicos são bons instrumentalmente e convencem bem. O Amp de Pernambuco trouxe as guitarras em primeiro plano. Apesar de não fazerem nada de novo, o grupo agradou com uma forte energia. Ótimo show. Os uruguaios do Hablan Por La Espalda traziam uma boa expectativa por tudo que se comentara antes, mas só conseguiu agradar em alguns momentos. A herança progressiva da banda, acaba soando chata as vezes. Quando atiram no hard rock, acertam mais.
Jayme Katarro subiu com o seu Delinqüentes para comandar o primeiro grande show de domingo. Não sei quantas vezes já vi o grupo em ação, mas nunca vi uma apresentação ruim. Dessa vez não foi diferente. Hardcore na alma, com entrega e perfeita comunhão entre artista e público. Em canções como “Planeta dos Macacos” a roda de pogo tomou conta. Os cariocas do Matanza seriam a próxima banda. O grupo do vocalista Jimmy tem um público fiel em Belém e por conta disso o seu show foi outro dos grandes do festival.
O público pulava, cantava e jogava cerveja uns nos outros, tudo como reza o espírito do Matanza. Palmas eram escutadas com grande freqüência. O Stress, lendária banda paraense que remonta ao final dos anos 70, foi o penúltimo show da noite. Roosevelt Bala e seu baixo agenciaram outro bom show, com o público cantando junto clássicos como “Mate O Reú”. De responsa. A ultima banda a se apresentar e assim encerrar a maratona musical dos três dias do festival foi o Velhas Virgens.
Seminal banda da putaria do rock nacional, o grupo comandado por Paulão tocou seu hard rock com muita propriedade. Showzaço. O melhor da noite. As guitarras em primeiro plano introduziam músicas como “Abre Suas Pernas” para delírio dos fãs que cantavam junto. A banda brincava, frescava e incitava enquanto o público envergava as últimas cervejas do Se Rasgum de 2009. A vocalista Juliana Kosso toda vez que subia causava alvoroço. O Velhas Virgens é rock da mais alta estirpe, bagaceiro e sem a mínima frescura.
A quarta edição do Festival Se Rasgum foi a melhor estruturada de todas. O único senão ficou por conta dos atrasos que permearam todo o evento e que em dias como sábado foram relevantes. O cancelamento dos shows do Trio Manari do Pará e dos baianos do Retrofoguetes também devem ser mencionados. No entanto, nada disso tira o brilho do evento. Shows memoráveis passaram por essa edição, que acabou por ser a melhor até agora. Um banho de ecletismo musical e bom gosto. Que venha 2010.
P.S: Para não deixar de dar uma de Rob Fleming, segue abaixo um Top 5 dos melhores shows dessa edição:
1-Pinduca (PA)
2-Velhas Virgens (SP)
3-Johny Rockstar (PA)
4-Gork (SP)
5-Pato Fu (MG)
Mais fotos do Festival? Passe aqui.
2 comentários:
Tá, eu sei que estou em falta contigo e só cheguei aqui por causa da citação feita pelo Jaime, confesso. Gostei do texto sobre o festival, apesar de discordar em algumas coisinhas (sánooooova!).
A minha listinha de os melhores e/ou mais divertidos, não necessariamente em ordem, está sendo postada no fotolog (beeeeem parcimoniosamente, em decorrência da preguiça, obviamente). No entanto, insisto em afirmar que apesar de todos os prós que esse festival teve, ele não teve a capacidade de superar os dois melhores shows que ocorreram nessa cidade no último ano: Dead Rocks e Macaco Bong. A apresentação dos meninos de Cuiabá foi uma das coisas mais viscerais e lindas que eu já tive a sorte de presenciar. E ninguém conseguirá me convencer que o Kayapy não é uma reencarnação do Jimmy Hendrix, ahahaha
Beijão, cara de mamão
Laura, é claro que o cara do Macaco Bong é uma reencarnação "parcial" digamos do Jimmy Hendrix...eeheh :) Bjos.
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