Escutar “Vagorosa”, o novo disco da cantora paulista Céu, é uma tarefa que deve ser feita de maneira cuidadosa, prestando atenção nos detalhes de cada acorde, de cada batida. Quando escuta-se o disco pela primeira vez, ele não chega a conquistar por completo e deixa só algumas boas impressões. Porém, usando um clichê tão comum, “Vagorosa” é o tipo de trabalho que vai crescendo a cada audição, envolvendo mais e mais ao deixar sua sutileza a mostra.
No seu primeiro trabalho, Céu caiu nas graças de muita gente, adquirindo elogios até certo ponto superlativos para uma carreira que então se iniciava. Esses elogios que soaram meio exagerados anos atrás, hoje parecem muito mais honestos e merecedores. “Vagarosa” é um bonito mosaico sonoro que envolve na sua composição reggae, samba, dub, pop, mpb e jazz, executados por músicos de qualidade e com uma produção certeira e ousada.
O samba aparece na abertura com “Sobre o Amor e Seu Trabalho Silencioso”, conduzida pelo cavaquinho de Rodrigo Campos e que serve de introdução para o resto do disco. Este mesmo samba volta mais lá para o meio com “Vira-Lata”, um dueto com o grande Luiz Melodia, com uma cadência de não fazer feio a sambista nenhum, e acaba por ser desvirtuado na versão arrebatadora e lisérgica de “Rosa Menina Rosa” do mestre Jorge Ben, que os Sebozos Postizos (a turma da Nação Zumbi) abrilhantam ainda mais.
Os músicos que fazem participações especiais em “Vagorosa” representam um grande plus. Além dos já citados, aparecem Bnegão, Thalma de Freitas, Anelis Assumpção, Guizado, Curumin e Fernando Catatau do Cidadão Instigado, que dá um show a parte em “Espaçonave”. A produção de Gui Amabis, Gustavo Lenza e Beto Villares, além da própria cantora, soa precisa, limpa e crua, remetendo a outras épocas como os anos 60 e 70.
Enquanto o disco passa, as músicas que tinham se destacado anteriormente dão lugar a outras sem muita lógica ou razão. Pode ser o reggae preguiçoso e quebrado de “Cangote”, “Grains de Beauté” com sua ambientação climática, vocal remetendo a Elis Regina e o baixo no centro do comando ou de repente tudo pode mudar e “Cordão da Insônia”, um reggae mais alegre, quase ensolarado, ser a canção escolhida para se repetir algumas vezes.
Em tempos de consumo tão feroz de informação, onde discos aparecem por todos os lados a cada dia, onde discos são escutados uma vez e nunca mais revisitados, Céu vai na contramão dessa marcha, lançando um trabalho que precisa de dedicação para ser apreciado. “Vagorosa” é melhor servido em doses do que de uma vez só. É para ser degustado com calma, tranquilidade e com ouvidos e mente aberta.
Site Oficial: http://www.ceumusic.com
My Space: http://www.myspace.com/ceuambulante
2 comentários:
Conheci esse CD em um blog amigo, o veiapop.blogspot.com e gostei bastante. Virou um dos que mais ando ouvindo atualmente. Céu diferencia-se das "cantoras de produtor" que tem dominado a cena musical brasileira e possibilitado uma revoada de passarinhas, todas com plumagens instrumentais caprichadíssimas e, por baixo delas, gosto de coisa nenhuma.
Antonio, otimo comentario. :)
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