A infância e a adolescência podem ser fases bem difíceis, com poder para definir tudo o que virá pela vida adulta. Os fantasmas dessa época são capazes de perdurar eternamente se não forem exorcizados com o tempo. O americano Craig Thompson, passou por momentos bem complicados nesses períodos e através de “Retalhos”, faz sua psicanálise pessoal e tenta colocar para fora certos sentimentos.
“Retalhos” saiu originalmente em 2003 e abocanhou os prêmios mais importantes da indústria dos quadrinhos (Harvey e Eisner por exemplo). No Brasil ganha luz nesse ano pela Companhia das Letras, que inaugura uma linha editorial voltada só para a nona arte (“Quadrinhos na Cia”), sendo uma das quatro obras iniciais do projeto. A obra tem quase 600 páginas e passa bem longe das histórias tradicionais do gênero.
“Retalhos” é um trabalho que se direciona muito mais para o campo da literatura tradicional do que para o que se costuma ver freqüentemente nos quadrinhos. É um relato sobre os primeiros anos da vida de uma pessoa, um relato que em muitas vezes não tem ação nenhuma, são quadros e mais quadros sem frases ou reações, o que dá um tom especialíssimo a obra, não a situando no lugar comum.
O trabalho é praticamente autobiográfico, o próprio autor disse em entrevista que “Tudo que está nas páginas do livro realmente aconteceu. A ficção está nos detalhes que eu escolhi omitir.” Craig Thompson foi criado em uma comunidade rural do estado de Wisconsin, embaixo de uma forte pressão religiosa, uma relação conflituosa com os outros alunos da escola e com seu irmão, além de incompreensão e abusos sexuais.
Com traços em preto e branco que conseguem transmitir a sensação do momento, Craig usa de metáforas visuais para contar sua história que depois dos relatos iniciais acaba por desaguar em um amor juvenil, com todas as descobertas, sensações, medos e delírios envolvidos nessa idade. “Retalhos” é na sua essência uma história de descobrimento, mas também é sobre amar e ser amado, sendo que para conseguir fazer esse sentimento perdurar, as vezes é preciso partir e deixar partir.
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