Antonio Carlos Viana é um escritor sergipano, não muito conhecido do grande público, mas que tem um olhar bem peculiar sobre o mundo atual. É daqueles contistas que conseguem acertar o alvo na maioria das histórias, criando situações que poderiam muito bem ser mais estendidas. Sua visão de mundo traz uma falta de esperança na condição do ser humano, que apesar de cruel em determinados momentos, tem completa razão de existir.
Seu mais recente trabalho é “Cine Privê”, com 128 páginas, lançado esse ano pela Companhia Das Letras, com 20 contos, a grande maioria inéditos. Na epígrafe, logo nos deparamos com uma frase do profeta Isaías que diz que “toda cabeça está enferma e todo o coração abatido”. Essa pequena frase realmente serve para indicar uma boa parte do será visto na leitura que se apresentará nas páginas seguintes.
A maioria dos contos é narrado em primeira pessoa, trazendo crianças para a narrativa, onde a relação de “inocência x realidade” é explorada sem floreios ou fantasias. Nos contos de “Cine Privê” não há redenção em momento algum, esta não se faz presente no rol do autor. Até o humor utilizado em alguns momentos, aparece trágico, como se extraído de alguma peça grega antiga.
Em “Santana Quemo-Quemo” vemos um garoto que ao ver sua casa destruída pelo governo, por estar em uma reserva ambiental, se desespera pela comida que está no fogo e não percebe o verdadeiro problema. “Duas Coxinhas e Um Guaraná”, traz as reflexões de um jovem que após matar a mãe vai para uma lanchonete comer. O conto que dá nome ao livro é sobre um senhor que faz a limpeza de um cinema onde os homens vão ver shows eróticos e se “aliviar”.
E assim os personagens vão sucedendo seus dramas em “O Amor de Isa e Nane”, “Moonlight Serenade” ou “O Rei das Trocas”. Antonio Carlos Viana apesar de ter passado boa parte da sua vida morando em cidades como Rio de Janeiro, Porto Alegre e Paris, consegue voltar o seu olhar para realidades específicas do nordeste brasileiro de modo bem contundente. “Cine Privê” é um retrato nada glamuroso do mundo atual, que vale a pena ser lido.
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