Um livro que tem uma pata como um dos personagens principais. Uma pata que é criada como animal doméstico e tem uma personalidade forte, incisiva. Uma pata acima de tudo mal humorada, obesa e alcoólatra. Some-se a isso um velho ancião que se julga imortal, viciado em jogos e uísque que solta perolas hippies vez ou outra. E coloque no bolo um jovem que tem como maiores projetos de vida, fazer cercas e matar um porco.
O resumo (ou quase isso) dessa mistura inesperada, para não dizer assustadora é o pequeno romance “Fup” do escritor americano Jim Dodge, cultuado por muita gente ao redor do mundo com a tão preocupante acunha de cult. O livro foi lançado em 1983 e ganha segunda edição nacional pela editora José olympio este ano. Faz alguns meses que o li pela primeira vez, por conta da vinda do escritor ao país para a festa Literária de Paraty no Rio de Janeiro, o que trouxe sua obra a tona.
Confesso que ao ler o prefácio do Marçal Aquino dizendo que “Fup é um daqueles livros que, em lugar de leitores, conquistam devotos”, fiquei desconfiado. Não conseguia imaginar tudo isso com as sinopses que dispunha. Para a minha grata e prazerosa surpresa, “Fup” superou minha desconfiança e imaginação. O escritor Jim Dodge constrói um universo peculiar amarrado de maneira tão simples, que chega a parecer óbvio. O que não passa nem perto de ser.
"Fup" conta a história do vovô Jake, que no seu rancho vive de maneira solitária a consumir seu tempo destilando o “Velho Sussurro da Morte”, uísque que fabrica e confere poderes de imortalidade (segundo ele). Completamente desbocado, Jake leva a vida entre algumas filosofias que poderiam muito bem constar no ideário hippie e sua maneira simples de resolver as coisas.
“Miúdo” (apesar do 1,92m e 135 quilos) é seu neto que tem como razão de ser o ato de construir cercas e mais cercas, como se isso fosse a única coisa que importasse no mundo. Sua personalidade é calada e quieta o que contrapõe sua quase obsessão em capturar o mítico porco “Cerra-Dente”, que insiste em arrebentar suas cercas. No meio disso, entra “Fup”, a pata que falamos acima, que passa a fazer parte dessa inesperada família, com todas suas manias e jeitos.
O livro de Jim Dodge além de ser daquelas leituras que pedem para ser consumidas urgentemente é um belo tratado sobre a vida, sobre o coração de cada um, sobre a liberdade. Mostra o quanto figuras tão diferentes podem se dar tão bem convivendo juntos desde que se respeitem (parece fácil né?), falando em como a vida pode ser livre de formas e contornos pré-definidos, dependendo apenas de cada um.
Quando acabei de ler “Fup” (e já relendo duas vezes), concordei plenamente com o prefácio do Marçal Aquino e me tornei mais um devoto destes anti herois e do seu pequeno e envolvente libelo sobre a vida.
4 comentários:
Égua! tu acreditas que ontem tive esse livro na mão, e só não comprei por que lembrei que só tinha tangerina em casa (a farinha de rosca e a mostarda acabaram misteriosamente) kkkkkkkkkkkkkkkkk Mas já está na lista dos que eu vou comprar com toda certeza! quinto dia do mês que me espere kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
acabei de ler esse livro ontem.... quero dizer, comecei e terminei :-)... e gostei muito tb, assino embaixo do seu blá blá bla´ :-)
Realmente vale a pena Sue e Naomi...:))
Xico Sá indicou e vim saber um pouco mais.
Postar um comentário