Tem discos que precisam ser saboreados pouco a pouco, depois ganhar mais precisão e serem tocados ao extremo para que possamos prestar atenção a todos os detalhes, a todos as mínimas variantes que passam despercebidas tantas vezes. No mundo de hoje em que tudo é despejado na internet meses antes do lançamento, muitos elaboram suas críticas tão imediatamente quanto o seu vazamento, tentando ser o primeiro a contar a grande novidade.
Sempre tive por idéia só comentar algum disco ou qualquer outro trabalho, depois de seu nascimento, ou seja seu lançamento oficial, por mais tradicional que isso possa ser. Digo isso pois discos como “Sky Blue Sky” do Wilco, lançado no último dia 15 de maio não carecem de pressa, a pressa faz mal a eles, distorcendo anseios e ocultando pequenas belezas escondidas. Falar sobre “Sky Blue Sky” somente agora não é atraso, é um exercício de prazer.
Acima de tudo o novo trabalho é um disco sobre paz. Sobre céus azuis também. E sobre dias bons, dias tranqüilos e serenos, dias felizes. Entre tanta mesquinharia e falta de amor que nos invade hoje, é encantador ouvir algo assim tão bonito. Enquanto muitas bandas se repetem, ou repetem outras bandas o Wilco construiu uma carreira sólida que já passou pelo alt country (e continua com os pés lá), pelo folk, pelo experimentalismo, pelo pop e pela devoção aos Beatles sem nunca perder a maestria.
Jeff Tweedy agora chama o soul para dançar, ainda que timidamente mas bastante perceptível em várias músicas. E mantêm a maestria. “Sky Blue Sky” está apenas um nível abaixo de obras primas como “Summerteeth” de 1999 ou “A Ghost Is Born” de 2004. Tweedy e seus comparsas de tantos anos continuam tendo o dom magistral de produzir música pop como se fosse um obra de arte que encanta até quem não entende o que poderia ser arte. Complexo. Mas carregado paradoxalmente de bastante simplicidade.
Sei que o mundo passa por um processo complicado, onde tanta coisa importante perde o sentido acabando por se banalizar e depreciar. Sei que passamos por um momento de falta de fé no ser humano, de falta de crença no amor e no poder do bem. O Arcade Fire já retratou tudo isso no excelente “Neon Bible”, cabendo ao Wilco lembrar também que ainda existem dias bons, dias com céus azuis, dias de paz.
Tudo isso vem envolto em melodias geniais tendo como pano de fundo teclados, pianos e guitarras produzindo pequenos, diversos, múltiplos solos que passam a povoar a mente sem perdão. Conquistando devagar. Resumindo: música para encantar a alma embalada em uma das capas mais bonitas dos últimos tempos. Site da banda: http://www.wilcoworld.net/ Blog do chapa JW onde você encontra tudo e mais um pouco sobre a banda: http://wilcoetc.wordpress.com/
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