O mundo gira fazendo as coisas mudarem de lugar, o que hoje era certeza amanhã pode não ser mais. Calma. Isso não é um papo de filosofia barata de livros de auto-ajuda. É apenas para começar a entender o conceito do novo disco da banda mineira Skank, intitulado “Carrossel”.
Já são quinze anos de estrada desde o primeiro disco independente e a mistura de reggae, ska, pop e dancehall que conquistou o país e fez a banda ser um sucesso estrondoso tendo seu nome gravado nos maiores da nossa música nos últimos anos. E dentro desse carrossel, Samuel Rosa (Guitarra e Voz), Haroldo Ferretti (Bateria), Lelo Zaneti (Baixo) e Henrique Portugal (Teclados) foram mudando e deixando seu som com uma cara inversa aquela dos primeiros anos.
O novo disco fecha um ciclo em que a banda transformou o seu som gradativamente, elaborando um pop rock, com fortes influências de Beatles, Clube da Esquina e do Britpop inglês. Esse ciclo que começou com “Maquinarama” em 2000 e continuou com o ótimo “Cosmotron” em 2003, teve diversas provações, críticas e musicalmente grande sucesso, fechando tudo com esse “Carrossel”.
No disco, o Skank dá uma guinada outra vez, mais suave é verdade, mas não menos importante. As guitarras do último álbum ficam um pouco para trás, dando lugar a muitos violões, violas e até banjo. Não tem um hit do porte de “Três Lados” ou “Vou Deixar”, a primeira música de trabalho, “Uma Canção é Para Isso” não tem a mesma força que suas antecessoras, mas ainda assim é bem melhor do que muita coisa que toca na MTV hoje em dia.
Abrindo o álbum vem uma nova parceria de Samuel Rosa e Nando Reis, “Eu e a Felicidade”, talvez a pior entre os dois dentro de todo esse tempo, a música não convence, deixando a desejar. A partir da segunda música a já citada “Uma Canção é Para Isso” é que o disco embala e ganha corpo, começando a cativar os ouvidos com suas melodias, experimentações e letras. A influência dos Beatles e do Britpop ainda estão lá, mas dão espaço também para o folk entrar como uma nova ferramenta.
O Skank está feliz, bastante feliz e isso se reflete na leveza dos arranjos e letras. “Até o Amor Virar Poeira” e “O Som da Sua Voz” dão ritmo a concepção do disco, abrindo para “Cara Nua” a primeira grande canção, feita em parceria com Humberto Effe dos Picassos Falsos. Em meio a ambientações dignas do alt-country americano, Samuel despeja palavras de uma desilusão lúdica: “Quando chega o carnaval/Mais ninguém te encontra/Pra você são só uns dias/Você quer ter a vida inteira/Com a cara toda nua/Brincar com quem quiser”
“Mil Acasos” vêm logo depois, feita com o eterno amigo Chico Amaral e mantém o nível bem acima, uma canção romântica sem soar sentimentalmente banal quando entram os versos: “Seus passos queiram se juntar aos meus/Seus braços queiram se juntar aos meus”. “Lugar” é de Samuel e César Mauricio (dos extintos grupos Virna Lisi e Radar Tantã) e apesar de ser uma balada razoável, instiga uma parada na atmosfera do álbum que retorna na bela “Noticia”, outra com Humberto Effe.
“Garrafas” do Lelo Zaneti é sem dúvida a mais fraca de todas as músicas e poderia muito bem ter ficado de fora, apesar das experimentações não consegue se sobressair. Depois vem “Panorâmica” e após essa outro grande momento em “Balada para João e Joana” ficando os pés em Minas Gerais com um pouco de Mutantes para engrossar o caldo. “Trancoso” que vem a seguir é a primeira parceria entre Samuel e Arnaldo Antunes e apesar de ser bacana, fica aquele gosto de poderia ter ficado melhor.
Em seqüência “Antitelejornal” solta as frases: “Hoje eu vou inventar/O antitelejornal/Pra passar só o que é belo /Pra passar o essencial”, de Samuel e Rodrigo Leão empolga pelo ritmo e também pela concepção. “Seus Passos” e “Um Homem Solitário” desligam o “Carrossel” da energia sem empolgar muito, soando um pouco repetitivo no seu final.
Com a produção de Chico Neves e Carlos Eduardo Miranda, o “Carrossel” mineiro é sempre bom de se escutar, apesar da inconstância de alguns momentos e de ter 15 faixas, (quando 12 seria a conta perfeita), ficando um gosto de que a banda poderia ter feito algo melhor, dando a impressão de que driblou todo o time e na hora de concluir chutou para fora.
Ainda assim, o Skank mostra toda a sua importância como músicos em um disco que ganha força a medida que vai tocando mais, continuando uma carreira com pouquíssimos erros e sempre calcada na qualidade e na renovação. A música precisa tanto de bandas como o Skank, quanto a banda precisa da música.
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