O tempo é senhor no que tange a mudanças, separações, novos casos, retornos e coisas do tipo. No caso da música não é diferente. Manter-se junto e fazendo um trabalho de qualidade por 20,25 anos não é para qualquer um, sendo que até mesmo essas mudanças raramente não chegam a acontecer drasticamente, como no caso da banda nova iorquina Sonic Youth. A banda que cultivou gerações de fãs influenciou meio mundo das bandas que por aí estão e continua fazendo do seu trabalho algo em que se olhe sempre com admiração, apesar de às vezes não concordar com o resultado final. Passaram-se os tempos da juventude, do experimentalismo sem concepções e das distorções baratas. Tudo passa. Passaram os tempos de “Evol (1986)” e “Sister (1987)”, clássicos dos 80. Passou também “Daydream Nation” de 1988, que ao lado de “Document” do R.E.M e “Warehouse: Songs And Stories” do Husker Du, pavimentou muita coisa do que se convencionou chamar de alternativo, underground, indie. Passou o tempo da dobradinha “Goo (1990)” e “Dirty (1992)”, dois discaços que mostraram o som da banda a uma geração que ainda não os conhecia, ensinando despretensiosamente como aliar melodia e barulho no mesmo lugar, como deixar os dois caminharem lado a lado de forma tão espetacular. Passou o tempo de provavelmente seu único hit, a canção “100%”. Nesse tempo todo, no entanto, o Sonic Youth não passou e continuou fazendo da sua música, objeto de honestidade e criatividade dentro da música pop. Depois de “Dirty” o Sonic Youth lançou apenas álbuns medianos como “Sonic Nurse (2004)”, ou totalmente difíceis como “Experimental, Jet Set, Trash And No Star (1994). A banda que nunca apostou no mainstrem, continuou fazendo seus discos, sem se vender a ninguém e mantendo a lealdade dos fãs com boas canções, mesmo que mais ou menos sempre tudo meio parecido e igual, mas não menos sincero (alguém pensou nos Ramones?). “Rather Ripped” (algo como “preferencialmente bêbado”) o novo disco da banda lançado há dois meses atrás vem para dar chacoalhada nesse cenário, sacudir a poeira e colocar na praça novamente um grande álbum. Se não tem o peso e influência de obras anteriores “Rather Ripped” figura tranqüilo num Top 5, o que no caso do Sonic Youth é muita coisa. Já de entrada temos a mezzo pop “Reena” e “Incinerate”, com um riff de guitarra lembrando os tempos de “Daydream Nation”, tendo o característico vocal de Thurston Moore. Em seguida vem “Do You Believe in Rapture”, uma quase balada, com o cinismo que sempre foi peculiar às letras da banda, falando em segunda chance. O ataque retorna com ecos dos primeiros tempos em “Sleepin Around”, chegando mais rápida, com uma bateria rosnando ao fundo, mostrando que a cozinha de Kim Gordon (que retoma o baixo, dando aquele toque especial) e Steve Shelley continua precisa como sempre. Em “What a Waste”, Kim Gordon canta calcada em Velvet Undergroun em uma das melhores faixas do disco. “Jams Run Free” vem soturna, com vocal falado, meio sussurrado, cortesia da cozinha característica da banda. “Rats”, é única cantada pelo guitarrista Lee Ranaldo, mais oitentista impossível, mostrando uma linha de melodia até meio estranha para o Sonic Youth, incluindo inclusive violões, sempre com aquela microfonia de fundo. “Turquoise Boy” é outra boa canção, em quase sete minutos, temos uma narrativa meio quebrada, ambientada na literatura beat, com muitas viradas. Arrasadora. “Lights Out” chega seguindo o ritmo desacelerado, lenta, com uma guitarra solando e ditando o ritmo. Em “The Neutral” Kim volta ao cenário, dando pique novamente, com a bateria de Steve Shelley conjugando todo o sentimento vocal no seu compasso. “Pink Steam” e “Or” fecham o disco que ainda tem o bônus track de “Helen Lundenberg” como prêmio. Depois de tanto tempo sem lançar algo realmente fundamental, “Rather Ripped” vem cobrir essa lacuna e mostrar a uma nova geração de ouvintes toda a pegada pop, aliadas a distorções, microfonias e experimentalismo de uma das bandas mais importantes dos 80 ainda em ativa. Unindo recortes de várias fases da banda, o álbum soa como o “New Adventures in Hi-Fi” foi para o R.E.M, sem grandes pretensões, mas um grande disco de rock n´roll.
2 comentários:
Discaço mesmo. Eu o escutei muito uns dois meses atrás, ou sei lá quanto tempo ao certo. ihihih =)
Para mim, "Incinerate" é a melhor faixa.
Beijinhos menininho
Disco excelente.
Incinerate é um destaque mesmo.
Mas o disco todo é alto nível.
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