quarta-feira, 26 de julho de 2006

Superman - O Retorno

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Sempre que fazemos um trabalho com paixão, o que estamos produzindo se torna prazeroso, mas ao mesmo tempo carrega uma carga de responsabilidade muito grande. Esse é o caso do diretor Bryan Singer e seu “Superman – O Retorno” que estreou pelo mundo há alguns dias. O retorno do Homem de Aço, talvez o maior herói da história dos quadrinhos aconteceu pelas mãos de um apaixonado pelo personagem, um devoto de carteirinha. Synger é um grande diretor sem sombra de dúvida, ao lado de bons filmes como “Os Suspeitos” e “O aprendiz” em que roteiro e a direção cheia de estilo impressionaram, conseguiu também dar vida de forma espetacular ao universo dos X-Men nos dois seus primeiros filmes, agradando tanto público quanto crítica. Lógico se esperava o mesmo para o filme do último filho de Krypton. E Synger quase conseguiu. O “quase” fica por conta da demasiada preocupação em alongar fatos meio chatos de um roteiro que por si só já não representava grande admiração e também pela Lois Lane da atriz Kate Bosworth (ok, ela é muita mais bonita que a dos primeiros filmes, mas...) ser digamos assim “insossa”, não ter a força que a personagem sempre teve. No mais, U$ 200 milhões de orçamento ajudam muito. Os méritos de Synger foram apostar em um desconhecido para viver o Superman, o ator Brandon Routh além de segurar a barra, lembra bastante o Cristopher Reeve o que dá um sentimento nostálgico ao longa. Também seguiu basicamente os efeitos produzidos nos dois primeiros “Superman” do diretor Richard Donner (esqueça os outros dois), chamou um grande ator para o papel de Lex Luthor (Kevin Spacey está magistral) e investiu mais no lado humano do herói. Aliás, esse lado humano do herói fica responsável pela grande teia condutora do filme. Depois de uma busca pelo espaço por resquícios de Krypton que durou 5 anos terrestres, o Superman volta para o mundo em que ele não tinha deixado, onde muita coisa mudou, inclusive sua amada Lois Lane que se encontra casada e tem um filho (com suspeitíssimos 5 anos de idade) e acaba de ganhar o “Pullitzer” pelo artigo “Por que o mundo não precisa do Superman”, o que é uma facada no coração e na estima do grande herói. A partir disso, Kal-El tenta se acostumar em um mundo que deixou de acreditar nele e que diz não precisar mais de Deuses, ao contrário de tudo que o mesmo vê em todos os lados. Quando mais uma vez Lex Luthor joga sua loucura, inteligência e ódio em cima do mundo, Superman precisa mais uma vez botar tudo no seu devido lugar. Brian Synger produziu um bom filme, honesto, sincero, uma grande homenagem ao personagem e sua história, atualizados para o mundo moderno, deixando o caminho aberto para outras boas seqüências. No entanto quando a sessão acaba parece que ficou faltando um algo mais, um algo mais que o diretor conseguiu colocar em seus X-Men. Um algo mais que deixasse a trama mais surpreendente. Mais espetacular como o seu personagem é.

sábado, 22 de julho de 2006

Mãos de Cavalo - Daniel Galera

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Consciente ou inconscientemente sempre buscamos no decorrer das nossas vidas consertar alguma atitude do passado ou no mínimo pensamos em como seria “se” (o maldito “se”) tivessemos feito diferente. Nesse tipo de eventos que marcam nossa caminhada e são lembrados de tempos em tempos, o passado se torna algo frequente, meio obsessivo em determinados casos, em busca de uma redenção, perdão ou amor perdido. “Mãos de Cavalo”, terceiro livro do escrito gaúcho Daniel Galera, primeiro pela Companhia das Letras lançado neste ano, tenta abordar esse tema de uma forma mais concreta, baseada mais em atitudes do que nas premissas de seus personagens. A narrativa em terceira pessoa tem ritmo forte, acelerado e convence muito bem. O livro entrelaça a formação de Hermano contando sua história entre dois momentos de sua vida: Primeiro na fase dos 10 aos 15 anos, onde é um adolescente que busca conhecer o mundo do seu jeito aliado a todas as descobertas inerentes a essa época, sejam elas de busca de carater ou descobertas sexuais, sempre tendo como pano de fundo uma violência explícita ao personagem que o torna bastante estranho, por assim dizer. No segunda narrativa Hermano já aparece com algo em torno de 30 anos (o autor tem 27, o que colabora bastante com sua intimidade dos fatos), médico de sucesso, em crescente ascensão, mas vivendo como o próprio autor define “no piloto automático”, principalmente no que tange ao seu casamento e sua vida social. A partir do momento que as duas histórias paralelas começam a se encontrar, o autor mostra de forma competente a formação do carater de uma pessoa diante de todas as coisas que a vida arremesa em sua frente. O único senão fica por conta da preocupação em definir determinadas passagens com demasiada inserção de detalhes, que quebram um pouco o ritmo, mas não atrapalham o resultado final. Uma boa surpresa que merece ser apreciada. Recomendamos.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Era uma vez o amor, mas tive que matá-lo (Música de Sex Pistols e Nirvana) - Efraim Medina Reyes


Ah, o amor...coisa bela, sublime, que nos eleva a um patamar de felicidade eterna. Ou não. Na opinião de Rep, personagem de “Era uma vez o amor, mais tive que matá-lo (Música de Sex Pistols e Nirvana)” do escritor colombiano Efraim Medina Reyes o amor “bate mais forte que o Tyson, se mexe melhor que o Ali e é mais rápido que o Ben Johnson dopado”. 

Lançado pela Editora Planeta nesse ano, com 176 páginas o livro traz uma narrativa nervosa, visceral, crua, tendo o amor como mola principal, assim como o sexo. Sendo um arremedo de contos e de histórias curtas, fazendo paralelos e subversões da vida de ídolos do rock como Kurt Cobain e Sid Vicius em certos momentos, usando como uma forma de analogia, o autor concebe uma história recortada, dividida, mas um romance verdadeiro que vai subitamente sendo devorado pelo leitor. 

Grande aposta da literatura colombiana, Efraim Medina foge da fantasia, das tradições que outros autores consagraram como o grande Gabriel Garcia Márquez (que vez ou outra é detonado por Rep em suas crônicas) e volta seus olhos para um mundo globalizado, antenado em todos os lados, abusando da cultura pop. 

Escritor, músico, cineasta, entre outras coisas, o autor se sente bem a vontade de abandonar toda essa antiga verborragia e adentrar em mundo mais real, mais cru e sendo assim mais honesto com a vida que levamos. O personagem principal de seu livro é Rep (diminutivo de Réptil) que divide sua vida entre as cidades de Cartagena (ou Cidade Imóvel) e Bogotá tentando superar através das suas maneiras um amor perdido. 

Só que essa superação nas mãos de Rep vem através de insultos com a vida, bebidas, mulheres, porrada e outras coisas nada sutis, onde a ambivalência do seu personagem se torna primordial, pois ao mesmo tempo em que é apaixonado por essa mulher de aura meio pura ele não consegue sair das ruas e se deparar com todas suas idiossincrasias nada nobres. 

Nos pequenos contos que formam a história, valores se perdem, pequenas coisas ganham demasiada importância, caminhos são perdidos em busca de uma redenção que parece não chegar nunca, pois na verdade o mundo real não abre mais espaço para elas. Tudo isso tratado com cinismo e humor negro. Dentro desse contexto, a concepção de amor é dilacerada, estrangulada, revertida e intensificada até seu grau máximo, convertendo em algumas definições vistas pelo personagem que instigam bastante. 

Vale a pena ler. Recomendo.

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domingo, 16 de julho de 2006

Superguidis

"Superguidis" segundo disco da banda gaúcha do mesmo nome, que tem como integrantes Andrio Maquenzi (voz e guitarra), Lucas Pocamacha (guitarra e vocais), Marco Pecker (bateria) e Diogo Macueldi (baixo) é um dos grandes lançamentos de 2006 até o momento. Lançado pelo Senhor F e apostando em uma sonoridade típica do indie americano de Sonic Youth, Pavement e Guided By Voices, sem esquecer a pegada pop e as melodias assobiáveis.
O disco é para se escutar com um sorriso no rosto do começo ao fim, seja pela primeira música que já nasceu clássica "O Raio que o Parta", cantando as desgraças e desapegos do amor de forma bastante peculiar ou pela última "O Coraçãozinho" com sua índole meio juvenil, meio nosense.
Apostando em guitarras distorcidas e tocadas em um volume alto contrapondo com melodias açucaradas despejadas através de letras às vezes sinceras demais, outras bem humoradas, mas com um frescor de novo insuperável. As composições de Maquenzi e Pocamacha fazem diversão em grande nível.
"Manual de Instruções" talvez a melhor canção do disco traz uma saborosa levada a Teenage Fanclub, enquanto o vocal vai no embalo do "...ah, se as pessoas viessem com manual de instruções...". Destaques ainda para "O Banana", super bem humorada, "Bolo de Casamento" e "Spiral Arco Íris", essa simplesmente impagável.
Como tantas outras bandas legais o Superguidis merecia estar tocando no rádio, na MTV, em qualquer lugar, músicas como "As Coisas que Crescem na Minha Mão", tem uma pegada pop 100% mais justa e honesta do que grande parte das coisas que estão por aí.
Um grande disco, meio leve, meio moleque, mas muito rock n´r roll para ser desgutado diariamente e repassado para os amigos urgentemente. Pode ir sem medo. E com muita vontade. Entre no site deles aqui.

terça-feira, 4 de julho de 2006

Canções de Bolso - Telesonic



Os filósofos antigos, assim como os novos “gurus” de auto-ajuda sempre afirmaram que a perseverança é fundamental na vida. Sem querer concordar com eles, leio perseverança como nunca desistir de seus sonhos, acreditar que poderás fazer algo. Que o diga Klebe Martins. Castanhalense. Músico de longa data, depois de tantos anos e tantos projetos, finalmente conseguiu colocar no mercado um disco próprio, como o projeto Telesonic. Só isso já valeria muito. Vale muito mais quando o disco é muito bom. Realmente bom. 

“Canções de Bolso” do Telesonic, lançado pela Ná Records mês passado, reúne oito composições de Klebe Martins, gravadas no período de Novembro de 2005 a Março de 2006 no Live Estúdio em Castanhal. Como ex-integrante da banda Super 8 e Suzana Flag, entre outras, o músico convidou os amigos para tocarem no trabalho. Elder Effe (Suzana Flag) ficou com a responsabilidade pelo baixo e vocais de apoio, Eliezer Andrade (Ex-Eletrola) pelas guitarras, deixando os violões, guitarras e vocais com o próprio músico. Há ainda a participação de Joel Melo (Suzana Flag), Nathanael Andrade(Ex-Eletrola) e Mizael Crispin (Guitarras), além de André Paiva nos teclados e Júnior Souza na bateria. 

Um grande time para um grande disco. 

A sonoridade é calcada no folk e no rock alternativo, com ecos de Belle and Sebastian, R.E.M, Lemonheads, Nando Reis, Lou Reed, o movimento Alt-Country e outras coisinhas mais escondidas no grande baú de referências do músico. Algumas composições já vinham sendo trabalhadas há algum tempo, enquanto outras são mais recentes, contudo o resultado de todas é um disco bem coeso, interligado entre si, o que acentua um dos seus méritos. 

“Canção de Bolso” abre o álbum, com a frase “eu posso ver a luz do sol...” e já cativa o ouvinte logo de entrada, uma meio canção de amor escondida a frases como “sou mais forte do que a dor...”. Em seguida temos uma das melhores canções do álbum, “Lembre-se”, que soa como um anti-hino para seguir em frente, “lembre nem tudo pode ser como você sempre sonhou...”, mas poderá ser, exemplo próprio do autor. “Mr. Bones” vem em seguida, com um toque de Lemonheads no andamento da canção e na concepção da letra que também remete um pouco aos grande cantadores de folk como Dylan.

“Manhã de Agosto” segue o mesmo caminho trovador e mantém o nível. “Nostalgia” tem uma das mais belas letras que ouvi nos últimos tempos, uma canção de amor (outra!) em que olha o passado com magia e beleza, sem culpas, sem motivos. “Manifesto” vem em seguida dando um pequeno tom de virada, com uma melodia agradável. “Hoje é o dia” é outro grande destaque, vamos em frente, ok?, “hoje é o dia de não pensar mais, de correr atrás do que nos sobrou...”, beira a perfeição. “Outsider” fecha o álbum de forma mais que competente, culminando em uma das mais agradáveis meia hora dos meus últimos meses. 

Klebe Martins através do seu Telesonic, hoje não tem mais o desejo de mudar o mundo, suas músicas não tem o intuito de revolucionar nada, são somente canções, canções belas. Canções para se guardar no bolso e sair escutando em casa, no trabalho, com os amigos, no carro, canções para sair cantando sem se tocar no meio do dia, canções para se entender como a música pode ser tão interessante. Posted by Picasa