Sempre que fazemos um trabalho com paixão, o que estamos produzindo se torna prazeroso, mas ao mesmo tempo carrega uma carga de responsabilidade muito grande. Esse é o caso do diretor Bryan Singer e seu “Superman – O Retorno” que estreou pelo mundo há alguns dias. O retorno do Homem de Aço, talvez o maior herói da história dos quadrinhos aconteceu pelas mãos de um apaixonado pelo personagem, um devoto de carteirinha. Synger é um grande diretor sem sombra de dúvida, ao lado de bons filmes como “Os Suspeitos” e “O aprendiz” em que roteiro e a direção cheia de estilo impressionaram, conseguiu também dar vida de forma espetacular ao universo dos X-Men nos dois seus primeiros filmes, agradando tanto público quanto crítica. Lógico se esperava o mesmo para o filme do último filho de Krypton. E Synger quase conseguiu. O “quase” fica por conta da demasiada preocupação em alongar fatos meio chatos de um roteiro que por si só já não representava grande admiração e também pela Lois Lane da atriz Kate Bosworth (ok, ela é muita mais bonita que a dos primeiros filmes, mas...) ser digamos assim “insossa”, não ter a força que a personagem sempre teve. No mais, U$ 200 milhões de orçamento ajudam muito. Os méritos de Synger foram apostar em um desconhecido para viver o Superman, o ator Brandon Routh além de segurar a barra, lembra bastante o Cristopher Reeve o que dá um sentimento nostálgico ao longa. Também seguiu basicamente os efeitos produzidos nos dois primeiros “Superman” do diretor Richard Donner (esqueça os outros dois), chamou um grande ator para o papel de Lex Luthor (Kevin Spacey está magistral) e investiu mais no lado humano do herói. Aliás, esse lado humano do herói fica responsável pela grande teia condutora do filme. Depois de uma busca pelo espaço por resquícios de Krypton que durou 5 anos terrestres, o Superman volta para o mundo em que ele não tinha deixado, onde muita coisa mudou, inclusive sua amada Lois Lane que se encontra casada e tem um filho (com suspeitíssimos 5 anos de idade) e acaba de ganhar o “Pullitzer” pelo artigo “Por que o mundo não precisa do Superman”, o que é uma facada no coração e na estima do grande herói. A partir disso, Kal-El tenta se acostumar em um mundo que deixou de acreditar nele e que diz não precisar mais de Deuses, ao contrário de tudo que o mesmo vê em todos os lados. Quando mais uma vez Lex Luthor joga sua loucura, inteligência e ódio em cima do mundo, Superman precisa mais uma vez botar tudo no seu devido lugar. Brian Synger produziu um bom filme, honesto, sincero, uma grande homenagem ao personagem e sua história, atualizados para o mundo moderno, deixando o caminho aberto para outras boas seqüências. No entanto quando a sessão acaba parece que ficou faltando um algo mais, um algo mais que o diretor conseguiu colocar em seus X-Men. Um algo mais que deixasse a trama mais surpreendente. Mais espetacular como o seu personagem é.
quarta-feira, 26 de julho de 2006
sábado, 22 de julho de 2006
Mãos de Cavalo - Daniel Galera
Consciente ou inconscientemente sempre buscamos no decorrer das nossas vidas consertar alguma atitude do passado ou no mínimo pensamos em como seria “se” (o maldito “se”) tivessemos feito diferente. Nesse tipo de eventos que marcam nossa caminhada e são lembrados de tempos em tempos, o passado se torna algo frequente, meio obsessivo em determinados casos, em busca de uma redenção, perdão ou amor perdido. “Mãos de Cavalo”, terceiro livro do escrito gaúcho Daniel Galera, primeiro pela Companhia das Letras lançado neste ano, tenta abordar esse tema de uma forma mais concreta, baseada mais em atitudes do que nas premissas de seus personagens. A narrativa em terceira pessoa tem ritmo forte, acelerado e convence muito bem. O livro entrelaça a formação de Hermano contando sua história entre dois momentos de sua vida: Primeiro na fase dos 10 aos 15 anos, onde é um adolescente que busca conhecer o mundo do seu jeito aliado a todas as descobertas inerentes a essa época, sejam elas de busca de carater ou descobertas sexuais, sempre tendo como pano de fundo uma violência explícita ao personagem que o torna bastante estranho, por assim dizer. No segunda narrativa Hermano já aparece com algo em torno de 30 anos (o autor tem 27, o que colabora bastante com sua intimidade dos fatos), médico de sucesso, em crescente ascensão, mas vivendo como o próprio autor define “no piloto automático”, principalmente no que tange ao seu casamento e sua vida social. A partir do momento que as duas histórias paralelas começam a se encontrar, o autor mostra de forma competente a formação do carater de uma pessoa diante de todas as coisas que a vida arremesa em sua frente. O único senão fica por conta da preocupação em definir determinadas passagens com demasiada inserção de detalhes, que quebram um pouco o ritmo, mas não atrapalham o resultado final. Uma boa surpresa que merece ser apreciada. Recomendamos.