O mundo é um lugar cheio de aventuras, de coisas fantásticas, de muitos amores. Temos que viver com toda a intensidade que podemos, correto? Não para todos. E principalmente não para Harvey Pekar, o idealizador dos quadrinhos “American Splendor”, cultuado entre os fãs da nona arte, assim como pessoas normais ou nerds em geral.
Harvey Pekar construiu histórias tendo a sua vida como pano de fundo, onde ele e seus amigos são o prato principal. Nada demais, a não ser pelo fato de que a sua vida é chata, monótona, normal e até mesmo sonolenta. Trabalha como arquivista em um órgão do governo, é fanático por discos de jazz, tem estratégias para conseguir um dólar dos amigos ou simplesmente como ficar na melhor fila no supermercado.
Essas cenas tão cotidianas de um cara meio paranóico morando em uma cidade onde quase nada acontece, são o tema do recente lançamento da Conrad, “Bob & Harv” que narra o encontro entre Harvey Pekar e o mestre do quadrinhos Robert Crumb (“Blues” e “Fritz The Cat”, entre outros).
Os dois se conheceram nos idos das décadas de 60/70 e produziram entre 1976-1983, dentro da revista “American Splendor”, uma obra fascinante, repleta de humor negro, sarcasmo, critica social e comportamental e principalmente um culto à contracultura.
O cartunista Laerte diz no prefácio do livro uma coisa bem interessante, pois nos últimos anos estamos dando tanto de cara com esse EUA tão arrogante e imbecil, que esquecemos o quanto esse país tem de artistas contestadores e inovadores. O movimento cultural dos anos 50/60/70 gerou nomes do porte de Gilbert Sheldon, Lenny Bruce, Jack Kerouac, William Borroughs e Robert Crumb. Nomes que influenciaram gerações.
“Bob & Harv” é obrigatório. Não somente para os fãs de quadrinhos, mas para todos que apreciam a arte em geral. O encontro de dois gênios. Pekar o anti-herói que tanto fascina, o cronista de um cotidiano sem graça, sem emoção, mas ao mesmo tempo cheio de coisas pequenas que dão um toque especial. Crumb, talvez o maior autor de quadrinhos da história e sem dúvida um dos maiores desenhistas de toda sua geração. Um duelo de palavras e traços calcados um uma amizade singular.
“Bob & Harv” é humor inteligente. Crítica não obsessiva. É arte. É a vida de um cara ranzinza, repleto de concentrações egomaníacas que de forma independente ficou “famoso”, criou uma admiração sobre seu nome, ganhou filme (muito bom por sinal, com Paul Giamatti no seu papel), que aliado a um mestre daqueles que só pintam de tempos em tempos, nos brinda com suas histórias e um retrato mais que fiel da nossa vida tão normal.
“Bob & Harv” é para deixar na cabeceira da cama. Nunca emprestar. Sempre reler. E principalmente sempre admirar.
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