quarta-feira, 28 de dezembro de 2005
Feliz Ano Velho - Marcelo Rubens Paiva
King Kong
Sinceramente eu não tava a fim de ver “King Kong”, sei lá, quando saísse em DVD, dava uma espiada, mas não tava com muito tesão de ir para o cinema conferir a nova refilmagem do Gorilão, que faz de tudo por um amor e que virou um ícone pop. Acho que clássicos não devem ser mexidos e na maioria das vezes o remake sai bem pior que o original. Ok, tá certo que dessa vez era um remake de responsa, pois ficou nas mãos do diretor Peter Jackson, o mesmo que mostrou ao mundo que pode se unir fantasia, bilheteria e arte quando contou a trilogia de um certo anel. Jackson sempre quis essa refilmagem, pois segundo ele, foi o original de 1933 que o levou a decidir fazer cinema. Ponto para ele então. Mas mesmo assim só fui ao cinema, pois tava perto e tava começando uma sessão. Jackson convidou uma grande equipe, colocou Naomi Watts de “21 Gramas” para viver a atriz e paixão de Kong, Ann Darrow, Adrien Brody de “O Pianista” como o roteirista Jack Driscoll e Jack Black de “Alta Fidelidade” no papel do insano e obcecado diretor Carl Denham que faz de tudo para se mandar para a Ilha da Caveira, gravar seu filme que é a última saída para seus consecutivos fracassos. Daí o resto da história acho que todo mundo sabe, eles encontram um mundo primitivo, brigam pra burro, Kong se apaixona por Ann, é aprisionado, levado para Nova York, onde termina o filme em cima do Empire State. Primeiro os méritos de Jackson. A paixão com que o filme se desenvolve realmente impressiona. Os efeitos especiais e a produção sonora estão impecáveis, nota 10 com louvor para a parte técnica. O Kong foi muito mais realista e fiel aos seus ancestrais símios por assim dizer. O filme se passa no mesmo ano do original, ou seja, em 1933, sendo que a reconstituição de época ficou exemplar, digna de parabéns. Até a grave depressão que o mundo vivia depois da Crise de 29 (lembram da aula de história?) está bem retratada, vinculando bem o desespero do período e até mesmo justificando alguns atos. As cenas de ação são muito mais bem feitas (é lógico também né!) e deixam o telespectador na melhor parte do filme, que é quando estão na selva descobrindo esse novo mundo, no meio de um triller de terror e suspense, regado a muita aventura. As locações também são até um pouco surreais, Jackson utilizou de novo sua amada Nova Zelândia, escolha que foi mais do acertada dentro do resultado final. Adrien Brody como uma espécie de anti-herói se saiu muito bem. Dito isso, vamos as inúmeras falhas da película do Sr. Jackson. Jack Black no papel de Carl Denham até que acerta às vezes, mas na maioria seus braços, gestos e sobrancelhas, não dão a dimensão necessária, sendo um caricato de si mesmo como nos piores momentos de Jim Carrey. Naomi Watts não convence com Ann Darrow, apesar de ser linda, não me parece ser o tipo de mulher que faria um gorilão perder a cabeça, sem contar o enredo que faz em determinado momento do filme parecer que ela quer levar Kong para casa, ter um monte de Kongzinhos e ser felizes para sempre, simplesmente não dá, a mulher ta um xarope só. A briga de Kong com os T. Rex é simplesmente fantástica, isso não dá para negar, agora que em certas horas ele parece o Neo de Matrix, ah, isso parece. O passeio que Kong faz com Ann em pleno gelo, dançando como em um balé é no mínimo, insuperável em termos de besteirol dentro dos últimos anos de cinema. A Ilha da Caveira parece uma mistura da cidade de Itu (onde tudo é grande) com A Fantástica Ilha do Dr. Moreau, onde toda desgraça pouca é bobagem, ficando até divertido de tão azarados que parecem os personagens. No mais, não se preocupem. Tem a cena do Empire State, Kong batendo no peito, nativos na Ilha da Caveira e tudo que se tem direito. Sinceramente? Essa refilmagem só vale mesmo para Peter Jackson satisfazer seu ego (e hoje ele pode) e encher mais a conta bancária dos envolvidos, pois a original apesar de tosca, continua essencial. Ah, vale ir para o cinema? Hum.....sei lá, vá lá, vá..
domingo, 25 de dezembro de 2005
"E hoje o dia da alegria e a tristeza..."
25 de dezembro de 2005. Quase um ano de blog e ainda não sei o que fazer com ele, estranho? Para mim isso é absolutamente normal, dentro das minhas percepções. Hoje é Natal. Apesar da leve melancolia, gosto da data. Dia normal, tranqüilo, passei o dia em casa lendo, vendo tv, ouvindo musica, dormindo. Não necessariamente nessa ordem. Ontem teve a ceia em casa, depois fui para uma festa de amigo invisível com amigos, nada demais, tudo na paz, tomei umas cervas, poucas na verdade. Esses dias têm servido mesmo é para me deixar descansado, principalmente diminuir o ritmo do corpo, que tava precisando mais do que as habituais seis, sete horas de sono. Dia começando, família chegando, em casa sempre tem parte da família no dia 25, virou meio que rotina, todas minhas tias, primas e primos que passo boa parte do ano sem ver, reencontro nessa data, o natal deve ser isso também eu acho, reencontro. Se bem que nesse ano a maioria não veio. No mais tudo indo, a mãe fazendo comida, as manas limpando a casa, a doce rotina de um lar, como preciso disso, para me tirar um pouco do corre corre e pressões do dia a dia. Entre telefonemas de feliz natal, nada melhor para começar do que o DVD do Erasmo no talo, todos cantando juntos, enquanto o tremendao emenda antigas e novas como a bela “Sou mais um na multidão”, depois nada melhor que dar uma agitada, ganhei um DVD chamado “Time Capsule 1982-1993” do 10.000 Maniacs, fase da Natalie Merchant, pows...como isso é bom, tinha me esquecido daquela voz maravilhosa e de canções como “Candy Everbody Wants” e “These Are Days”, boas recordações invadem a mente. Depois minha irmã coloca o “MTV Especial – Aborto Elétrico” do Capital Inicial, nada demais, mas é natal, então canto junto. Hora do almoço. Lasanha, peru, salada, farofa, tudo que se tem direito, para o merecido sono da tarde, acordando com uma priminha quebrando tudo, como é bom à inconseqüência das crianças, podes crer. Mais alguns filmes na tv, como “Simplesmente Amor”, “Aconteceu no Natal”, alguns desenhos ao lado do meu sobrinho e o dia vai passando entre uma castanha e outra e um abraço aqui, acolá. Dou um tempo e começo a reler “Feliz Ano Velho” do Marcelo Rubens Paiva que comprei a alguns poucos dias, esse livro que tanto me fez a cabeça na adolescência desce um pouco diferente depois de tantos anos, mas ainda continua cativante. Fecho a noite com “Cidade dos Anjos” a versão que Hollywood fez para “Asas do Desejo” do mestre Win Wenders. O filme é legalzinho, o que me faz ate ter uma certa lembrança de amores e vidas passadas, que ainda bem não chegam a perturbar muito. Sabe aqueles caras que não acreditam mais no amor? Muito prazer, eu sou um deles. Enfim, mais um pouco de sono, não antes de um forte abraço na minha mãe, obrigado por existir sempre minha velha. E que venha o ano novo. Paz. ;)
sexta-feira, 23 de dezembro de 2005
Má Educação
O enredo basicamente (é dificil resumir toda o obra) trata de Ignacio (Gael Garcia Bernal), que quando criança estudou em um colégio interno católico. Lá ele sofreu abusos sexuais por parte de seu professor de Literatura, o padre Manolo (Daniel Gimenez Cacho), que marcaram sua vida para sempre. Ignacio se apaixona por um colega do colégio, Enrique (Fele Martínez), que termina sendo expulso. Vinte anos mais tarde, Ignacio é agora um travesti chamado Zahara. Ele reencontra Enrique, com quem relembra várias histórias do passado de ambos no colégio.
O filme é repleto de referências. Em dado momento, dois personagens decidem matar o tempo depois de um assassinato e entram num cinema...que exibe uma mostra de filmes noir. (No caso, duas jóias do noir francês, “A Besta Humana”, de Renoir, e “Thérèse Raquin”, de Marcel Camé).
Teve muito critico dizendo por aí que o filme não é tão bom assim, pura ranhice. O filme é sim muito bom e se não pode ser comparado com "Mulheres a ...", consiste no filme mais sincero do diretor e por isso o mais emocionante, além de ser um chute na hipocrisia da sociedade em geral e na própia igreja.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2005
As Bicicletas de Belleville
Andei revendo a animaçao francesa "As Bicicletas de Belleville". O filme foi indicado ao Oscar de "Melhor Filme de Animação" e "Melhor Canção Original", além de ter feito parte da seleção oficial de Cannes e ser indicado ao Bafta de "Melhor Filme Estrangeiro".
O enredo reside em Champion, um menino solitário e tristonho que mora com sua avó, que tenta de todas as formas faze-lo feliz, no entanto só consegue quando descobre o gosto do garoto por bicicletas e lhe dá uma de presente. Dai em diante, sobre um rigoroso treinamento comandado por sua avó, Champion se torna um atleta de verdade, participando inclusive do "Tour de France". É quando ele é raptado, para atender interesses nada humanitários da Máfia de Belleville, e para lá é levado.
Sua avó, com a ajuda do seu cachorro Bruno e das três cantoras de cabaré de Belleville, parte para a missão de salvá-lo. Esse filme é muito bom. É como se o Tim Burton tivesse dirigido. Há personagens de um universo totalmente incrivel como nos filmes de Burton. A máfia, a avó manca, o cachorro gordo, as cantoras e por aí vai.
A cidade de Belleville é uma mistura de Paris e Nova York. Tendo sido retratada perfeitamente pela direção de arte. Um filme que emociona e diverte ao mesmo tempo. Dirigido e Roteirizado por Sylvain Chomet. O DVD ainda traz um pequeno Making Of de 15 minutos que vale a pena ver, para entender melhor o processo de criação.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
Bicho de Sete Cabeças
Essa semana eu estava revendo “Bicho de Sete Cabeças” em DVD e cada vez que isso acontece percebemos o quão é fundamental esse filme. Baseado em fatos reais e que foi premiadíssimo em festivais da Itália, França e Suíça, o filme conta com uma grande atuação de Rodrigo Santoro (assim como em “Abril Despedaçado”), despachando de vez a historia que era apenas mais um rostinho bonito e com a excelente direção da estreante Laís Bodanski. É um verdadeiro tiro na cara da hipocrisia da nossa sociedade, um verdadeiro assassinato a demagogia que ainda toma conta do pensamento em geral.
Rodrigo, vive Neto um adolescente normal , que vive em Santos e que como outros da sua idade comete alguns pequenos delitos, nada grave demais, como usar brincos, pichar muros e fumar um cigarro de maconha de vez em quando. Isso é o bastante para que a sua família o interne em um manicômio, o que mudará sua vida pra sempre.
Não que concordemos que pichar muros seja bacana, pelo contrario achamos um completo desperdício de tempo, e nem que digamos que usar Drogas não faz mal, é claro que faz, mas existem outras drogas que também matam muito mais e são consumidas sem restrição alguma ,como o álcool. O que nos deixa indignados é um jovem que fuma um cigarro de maconha ser considerado louco, nocivo a sociedade ou coisas do tipo, essa hipocrisia sinceramente é demais. Já está provado que o diálogo em família, é a melhor saída nesses casos, que rende melhores frutos do que acabar com a vida de uma pessoa assim.
Depois que é internado e começa a sofrer tratamentos de choque e tomar mil e um remédios, Neto realmente enlouquece e passa a não ter mais vontades, não ter mais discernimento sobre as coisas e vê sua vida cada vez mais sentido e sem razão de existir. Filmaço pra você refletir bastante, pensar bem a respeito de alguns conceitos. Além de tudo o filme ainda conta com a trilha sonora competentissima do Arnaldo Antunes ( já pensou alguém melhor pra esse filme? ).
terça-feira, 13 de dezembro de 2005
Clube da Esquina
Oriundo de Minas Gerais, o Clube da Esquina foi um dos grandes movimentos musicais brasileiros, tendo sua importância no mesmo patamar da Bossa Nova e da Tropicália. Movimento que fundiu culturas, abriu horizontes, pavimentou ideologias e se fez relevante até os dias de hoje pelo mundo afora. Tudo começou mais ou menos pelos idos de 1963, quando um certo Milton Nascimento chegou da cidade de Três Pontas e foi morar em Belo Horizonte, no mesmo prédio que os irmãos Borges moravam. Fez amizade com Márcio Borges, seu parceiro de vida e de tantas canções e com o mais novo dos irmãos (eram doze ao todo), um garotinho de talento chamado Lô Borges. Os ensaios eram sempre realizados na casa dos Borges, moldando uma forte amizade que se tornaria fundamental e agregando ainda outros jovens músicos como Toninho Horta e Beto Guedes, que seriam mais ou menos o núcleo central do clube. Influenciados pela música negra, brasileira, jazz e principalmente pela mais recém descoberta, uma banda inglesa chamada The Beatles (conhecem?), moldaram um som único de uma beleza visceral. Milton se revelava como o grande músico do grupo que cada vez crescia mais, agregando nomes como Flavio Venturini, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e Tavinho Moura. Eram tempos difíceis, a ditadura instalada no país depois do golpe de 1964, se ainda não era escancarada já anunciava seus primeiros sinais de repressão e de censura, esboçando todo o drama que a liberdade de expressão e a cidadania do país sofreriam do decorrer dos anos. No entanto, faltava a esse grupo ser batizado, essa reunião precisava ser identificada por um nome e eis que na esquina da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis no bairro de Santa Teresa, em uma tarde bucólica, foi fundado o Clube da Esquina. Em 1972, entraram em estúdio juntos para gravar “Clube da Esquina”, que tinha na capa apenas um menino branco junto com um negro sentados na capa, já antecipando o que poderia se esperar. São desse álbum canções como “Tudo que você poderia ser” (Um anti-hino contra a ditadura), “O Trem azul”, “Um girassol da cor de seu cabelo” e “Nada será como antes”. Os músicos lançaram-se em carreiras solo, mas em 1978, Milton que já gozava de prestígio (vide “Travessia”) lançava o duplo “Clube da Esquina 2”, reunindo a velha turma e novos integrantes, com canções do porte de “Maria, Maria”, “Nascente” e “Tanto”. Por mais que o grupo nunca mais se reunisse totalmente, eles nunca deixaram de participar dos discos uns dos outros. O Clube da Esquina deixou um legado fundamental para a nossa música, um legado de criatividade e beleza, um legado de como se fazer boa música. Não é a toa que sua influência está evidente hoje em trabalhos de bandas do porte de Skank e Los Hermanos. Discos fundamentais: 1967- Travessia – Milton Nascimento. 1972- Clube da Esquina – Milton Nascimento, Lô Borges, entre outros. 1972- Lô Borges – Lô Borges. 1978- Clube da Esquina 2 – Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, entre outros. 1978- Amor de Índio – Beto Guedes. Para maiores informações sobre o assunto é sempre bom ler o livro escrito pelo Márcio Borges, “Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”, que estava no olho do furacão, uma verdadeira aula de história, recheado de grandes e pitorescos momentos.
Ou acesse o site: http://www.museuclubedaesquina.org.br, onde existem informações mil.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2005
Cidade Baixa
O amor existe. E verdade. Agora, assim como todos os sentimentos do mundo, ele pode ser belo, maravilhoso, mas ao mesmo tempo pode ser sujo, feio, traidor, e nem por isso ser menos sincero. Talvez seja essa a premissa que o diretor baiano Sergio Machado tente passar com seu novo filme. Contar uma historia de amor, sem muitos melodramas, cenas bonitas e sim recheadas de desejo e tesão. Contar uma historia de amor que acontece diariamente nos guetos desse enorme pais e suas metrópoles. “Cidade Baixa”, lançado agora nos cinemas reflete tudo isso. Rodado em Salvador, nas suas favelas e subúrbios sujos, Sergio Machado apresenta como pano de fundo da sua historia o poço sem fundo em que boa parte do povo foi parar, um lugar sem muita chance, repleto de prostituição, roubos, mentiras, drogas e tudo mais. Ao mesmo tempo ele nos faz perceber que na verdade, tudo isso esta em todo lugar, não tão longe assim, só que no caso de seus personagens a glorificação e uma situação que passa a quilômetros de distancia. Contando com a ajuda do cineasta e roteirista Karim Ainouz (“Madame Sata”,) calcado nas atuações do seu trio de protagonistas, Sergio Machado fez de uma historia universal de amor e amizade, um conto de um cotidiano real e visceral. De longe, podemos traçar um paralelo com o clássico “Jules e Jim” do mestre François Truffaut, tendo em vista o seu triangulo amoroso. No filme, Vagner Moura, impecável e versátil como sempre, vive Naldinho, amigo de infância e parceiro de “negócios” de Deco (um soberbo trabalho de Lazaro Ramos) no barco que possuem e onde ganham a vida fazendo fretes. Em uma de suas viagens eles conhecem Karinna (a surpreendente Alice Braga), uma stripper que vai a Salvador a fim de descolar um gringo rico no carnaval. Os dois resolvem leva-la que como pagamento tem que transar com eles. Após isso e de uma quase tragédia a moça se envolve cada vez mais com os dois, não sabendo ao certo de quem gosta mais, mesmo sem abandonar seu ganha pão na casa noturna onde dança e se prostitui. Enquanto isso a relação dos eternos amigos, vai enfraquecendo ate o limite de toda a razão dos dois. Sendo o desejo mais forte que a sua consciência, o diretor Sergio Machado, navega em um clima forte, com cenas de sexo que se não chegam a ser explicitas, mostram de forma seca o relacionamento entre os três, baseados principalmente em: “Desejo, necessidade e vontade...” como cantariam os Titãs, ou seja, sexo. Apesar de toda essa mascara montada e do pano de fundo utilizado, na verdade o que resiste basicamente e a paixão entre uma das mais eternas brigas do ser humano, o limiar entre amor e amizade.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2005
Tudo Acontece em Elizabethtown
Quase não escrevo essa coluna, sei lá porquê, mas a verdade é que acho que o filme que quero comentar me atingiu de uma forma tão peculiar, que acabei por não querer escrever apenas algumas linhas mal traçadas. Já faz um tempo que assisti “Elizabethtown”(o “Tudo Acontece Em” é por conta dos cinemas brazucas) do diretor Cameron Crowe. Crowe fez filmes como “Jerry Maguire”, “Singles – Vida de Solteiro” e “Quase Famosos” e em seus longas já ficou instituído como marcas, a grande preocupação com a trilha sonora e a participação da música na vida das pessoas, além de seus romances que para terminarem no “felizes para sempre”, passam por situações até as vezes irreais. Há de considerar-se também a constante presença da derrota, do fracasso na vida dos seus personagens, e a suposta volta por cima. Dito isso, Crowe mantém a sua mão como autor em seu novo longa. Orlando Bloom (livre de espadas e armas de todo o tipo) é Drew Baylor, um cara que passou oito anos trabalhando em uma grande empresa no design de um super tênis, que na verdade se revela um grande fracasso, levando o seu nome ao ridículo e a empresa a quase falência. A única saída possível para sua vida (na sua concepção) seria o suicídio, que quando está para ser realizado é cortado por uma ligação da sua irmã, dizendo que seu pai faleceu e que ele tem que voltar a cidade natal, a distante “Elizabethtown” do título, para cuidar do enterro. Em sua viagem, Drew conhece uma divertida e falante aeromoça, Claire Colburn (a sempre competente Kirsten Dunst), que repassa a ele um mapa para a pequena cidade e também o seu telefone (lógico!). Ao chegar na cidade, Drew se vê agraciado por todos, que adoravam seu pai e que já está toda preparada para o enterro do mesmo. Dentre essa confusão danada, Drew liga para quem, para quem?? Claro. Liga para Claire e começa o romance do filme. Ao longo disso Crowe dispõe todo seu arsenal sonoro, que vai de U2 e Simple Minds, passando por Neil Diamond, Tom Petty e Ryan Adams. Trilha mais do que perfeita e plenamente recomendada. O diretor também expõe a tradicional cultura americana, através dos personagens da cidade, do casamento que acontecerá no hotel. Para Crowe tudo é motivo para uma boa tirada. Não pense que um filme é um melodrama danado, apesar de ter esses momentos. O romance transforma-se em um autêntico road-movie, traçando uma história de redenção, redescoberta e mudança de prioridades no mundo, que precisa sempre ser algo novo. É um filme em que o fracasso, se torna uma coisa cotidiana, na qual todos estamos induzidos a ter um dia, em que a solidão e a tristeza estão presentes, mas não muito distantes da alegria e da felicidade. Crowe não fez um filme que vá mudar o mundo, fez sim um longa capaz de fazer o telespectador pensar para onde está caminhando com sua vida, um filme com a marca “Cameron Crowe” de qualidade, o que é sempre relevante e vale bastante o ingresso.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2005
Quase Dois Irmãos
sábado, 3 de dezembro de 2005
MTV Especial Aborto Elétrico - Capital Inicial
Depois de anos, falando, especulando, o Capital Inicial finalmente lançou o tão prometido disco em homenagem ao Aborto Elétrico, banda que foi fundamental no ínicio do Rock de Brasília e que tinha os irmão Flávio e Fê Lemos do Capital e um jovem chamado Renato Russo, que depois criou a maior banda da história do Brasil, a Legião Urbana. O disco “MTV Especial Aborto Elétrico” ganhou o selo da emissora, o que indica uma chance de comercialização bem grande, o que na verdade encaro até de bom grado, pelo simples fato de poder se conhecer um pouco mais da história de um movimento que mudou nossa juventude e fundamentou um ídolo sem precedentes. Das dezoito músicas contidas no disco, apenas nove são realmente "novas", sendo que o problema reside basicamente nas regravações. As versões de “Tédio (com um T bem grande pra você” e "Fátima", até que são corretinhas, mas “Geração Coca-Cola”, “Que País é este?”, “Química” e “Conexão Amazônica”, não alcançam nem um décimo do poder que tinham com o vocal do Renato. Pobre Dinho, a intenção é muito boa, mas não dá para comparar. Até “Música Urbana” regravada pelo Capital, perde muito. A melhor parte fica por conta das digamos assim, “inéditas”. Destaques para a ótima “Heroína”, o refrãozinho bacana de “Love Song One”, “Baader Meinhof Blues No. 1", que nada tem a ver com a música que a Legião gravou, “Submissa”, mais punk impossível e “Construção Civil”, que a frase de inicio é mesma contida em “Riding Song” do disco póstumo da Legião, “Uma Outra Estação”, “...o que você vai ser quando você crescer”. Destaques maiores para a guitarra ao fundo, enquanto Dinho canta “Anúncios de Refrigerantes”, ou para os despejos verbais de “Despertar dos Mortos”, citando um mundo que existiu um dia. Grande virtude da maioria das canções é que mesmo hoje tanto tempo depois, percebe-se que pouca coisa mudou nesse nosso país infelizmente. Um disco que merece ser escutado por todos que viveram os anos 80 e sempre se interessaram por essa parte da história. O resultado poderia ter ficado bem melhor se tivesse mais um pouco de ousadia e a produção não tivesse ficado tão limpa, o que às vezes deixa o disco um pouco sem sal, mas mesmo assim vale a pena botar no cd player para rolar e voltar um pouco no tempo.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2005
Revolver - The Beatles - 1966
Que os Beatles foram os maiores da historia, isso e aquilo, você já deve ter escutado milhões de vezes. E vez ou outra também você já deve ter se perguntado “Será que eles são tudo isso mesmo?” “Será que há motivo pra tanta reverência assim ?” Escute “Revolver” e perceba que eles realmente mereciam ser chamados de “Fab Four”. Na nossa opinião esse disco de 1966 é o melhor da carreira da banda, uma tarefa difícil escolher, para quem gravou álbuns como “Sargent Pepper´s Lonely Hearts Club Band”, “White Álbum”, “Beatles for Sale”, “Help”, “Rubber Soul”, entre outros. Nesse disco os Beatles que já eram um fenômeno, enlouquecendo platéias pelo mundo, resolveram abusar do experimentalismo, misturando, jazz, folk, musica indiana, blues, motown, música erudita, orquestrações, novas técnicas de estúdio, letras mais elaboradas e acabaram cometendo um disco para influenciar gerações. Vamos a um rápido passo a passo : Taxman = Composição de George, abre o disco, com um rock n´ roll meio nonsense, com músicos indianos tocando junto com eles, com direito a Paul tocando guitarra e tudo. Eleanor Rigby = Belíssima canção de Paul, com os vocais sobrepostos dele e de Harrison, cheia de orquestrações conduzidas pelo produtor George Martin, ambientam o universo de solidão de forma perfeita. I´m only Sleeping = Cantando por John, a música tem um ritmo meio lento, sendo que Harrison toca o solo de trás pra frente. Love You To = Um toque meio indiano, por culpa da citara tocada por Harrison, conduz essa canção que fala de reflexão, de mudanças, cantada por Jonh. Here, There and Everywhere = Uma balada mais do que perfeita composta por Paul, com arranjos complexos e harmonias distintas entre si. Até hoje Paul toca essa música em seus shows. Yellow Submarine = O momento de “descontração” do disco, inspirada em meio a muitas sessões “médicas” do disco, a musica é perfeitinha que só, cantada pelo Ringo, e contando com o coro de quase todos do estúdio. She Said, She Said = Feita em mais uma das “viagens” de Jonh, conta um verso maravilhoso ; “...Eu sei o que é estar morto....”,que tal? Good Day Sunshine = Com influências de jazz, essa canção foi a primeira incursão dos Beatles ao estéreo. And Your Bird Can Sing = Com vocais dobrados, mixagens ao contrário de George, essa música é uma das mais experimentais do álbum. For no One = Simplesmente uma das melhores canções compostas em todos os tempos. Feita por Paul (um grande mestre em melodias), completamente erudita e barroca, com direito a piano tocado por Paul e tudo, belíssima. Dr. Robert = O doutor do titulo dessa canção, era nada mais do que o cara que arrumava as coisas para Lennon, muito bem sacada. I Want to tell you = Nessa música tem ate pandeiro, bem romântica, fala do desejo de se ter a pessoa amada. Got to Get you Into My life = Composta por Paul, com naipe de metais vibrando, influências do som black da Motown, os Beatles demonstram toda sua versatilidade, nesse “soul de branco”. Uma de nossas prediletas. Tomorrow Never Knows = A canção mais psicodélica fecha o disco com chave de ouro. Experimentações mil, coro, letras inspiradas em Timothy Leary (Guru dos anos 60), Jonh cantando por um alto falante, fazem dessa música um clássico absoluto. Para quem ainda não escutou esse disco, não deixe que ninguém descubra esse crime e escute logo e para quem acha que os Beatles foram só quatro caras que só cantavam músicas bobas, cheias de “yeah, yeah”, ouça esse disco e mude urgentemente seus conceitos. Discoteca cem vezes básica.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2005
Harry Potter e o Cálice de Fogo
As crianças e adolescentes estão em polvorosa, estreou nos cinemas nesta última semana, o novo filme do aprendiz de bruxo Harry Potter, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, quarta aventura do mesmo na grande tela. Antes que alguém possa bradar com suas bandeiras dizendo que isso não tem nada a ver com Cultura, leve-se em consideração esse fenômeno que já atingiu milhões de fãs no mundo todo, gerando toda uma rede de produtos em torno dele. Cultura não é somente aquilo que é tradicional ou regional e sim tudo que invade a vida das pessoas. Dito isso, vamos ao filme que fomos conferir na sua estréia. Todo mundo anda falando que este filme é o melhor de todos, o que é plenamente verdade. O tarimbado diretor inglês Mike Newell (“Quatro Casamentos e um Funeral” e “O Sorriso de Mona Lisa”) manteve o crescimento da série, anunciado no bom longa anterior “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, dirigido pelo mexicano Alfonso Cuáron, que já indicava um clima mais soturno na trama. Em mais um ano em Hogwarts, Potter (Daniel Radcliffe) se vê em meio a difíceis desafios, pois além de combater Lorde Voldemort (um brilhante Ralph Fiennes), que volta do reino dos mortos, ainda tem que participar de um torneio e lidar com as dúvidas normais de sua adolescência. O filme começa com a final mundial de quadribol, assistido por Potter e seus habituais parceiros Rony Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson), sendo que após o grande evento, há um ataque dos Comensais da Morte, antigos comparsas de Voldemort, arrasando com tudo que vem pela frente. Após a situação estar controlada começa o ano letivo em Hogwarts. O “colégio” abrigará neste ano a edição do torneio Tribuxo no qual o Cálice de Fogo do titulo escolherá um participante de cada escola (são três), com idade acima de 17 anos. Inexplicavelmente o nome de Potter aparece e o mesmo se vê submetido a entrar em uma competição dura que pode inclusive levá-lo a morte, contando para isso somente com seus amigos e o novo professor de magia Alastor Olho-Tonto Moody (Brendan Gleeson, perfeito). A partir desse enredo principal desenvolve-se um trilller de suspense muito bem ambientado e repleto de revelações e reviravoltas no decorrer da trama. Muitas tramas paralelas que constam no livro não foram desenvolvidas, mas o principal está lá, envolvendo a Potter e os personagens habituais. O bruxinho se vê na crise e descobertas da adolescência, nos primeiros desejos de namoro, primeiras decepções, brigas com amigos e até mesmo a morte de um dos seus. Neste novo filme da série, tragédia pouca é bobagem, como diria o diretor Alvo Dumbledore (Michael Gambon) perto do final: “Muitas tragédias ainda estão por fim...”, o que só atesta o crescimento da série, tornando-se pela primeira vez um filme de verdade, realmente muito bom. Fãs de Hogwarts.....corram ao cinema....(menos os de estômago fraco)....
Personagem Principal: Garoto meio gordinho, tímido com 12 anos, cursando a 7ª série do primeiro grau em um colégio de freiras, católico, fascinado por futebol e que desde pequeno fora habituado ao mundo da música e da literatura, seja ela um livro de Milan Kundera ou um simples disco da Legião, por causa das suas irmãs e amigos delas.
Personagem coadjuvante: O livro "Feliz Ano Velho" de um cara chamado Marcelo Rubens Paiva, na qual narrava as desventuras de um acidente que o deixara paraplégico, assim como todas suas inquietações e dúvidas passadas em um momento delicado da nossa história, que me foi entregue com a seguinte frase "Esse é o livro que vai mudar tua vida, garoto!"
Foi desse jeito que descobri "Feliz Ano Velho" meio na surpresa, meio na desconfiança. Confesso que não fiquei lá muito empolgado, me perguntava "O que esse cara tem para me apresentar que eu não conheça?", de acordo com a minha frágil e precoce posse besta de intelectual chato. Me achava o tal pois já tinha lido "Vidas sem rumo" de SE Hilton e "On The Road" do Jack Keroauc, entre outros, e não sabia o que esse livro podia me acrescentar. Mas acrescentou muito.
Foi pelo livro do Marcelo Rubens Paiva, que identifiquei algo de político em mim, é claro que já sabia um pouco das sacanagens que a ditadura cometeu com o povo, mas quando eu li a história do desaparecimento do Deputado Federal Rubens Paiva, pai do autor, aquilo mexeu comigo. Como todos os amigos das minhas irmãs eram do PT, logo ficou estipulado que eu também seria e brigaria por um país melhor, sendo que essa idéia só teve um sério abalo quase 14 anos depois, no meio do governo Lula.
Foi quando eu percebi que a rebeldia que eu tanto adorava e sonhava, às vezes podia vir de outra forma, podia ser uma rebeldia própria, contra o mundo e as limitações que ele lhe impõe e não somente contra nada em particular. Quando lia o livro imaginava qual o sentido que Deus havia de ter para deixar um jovem com tanto talento, paraplégico de forma tão boba e quando o autor bradava no livro seus desesperos, eu silenciosamente repetia na minha cama "É isso ái!! Tô contigo!! Só tem filho da puta nesse mundo!!".
Lembro ainda que nessa época cheguei a reler muito esse livro e apesar de não ter acontecido como a profecia de que ia mudar minha vida, me tocou de uma maneira diferente, por um outro lado, de que a tragédia e as coisas difíceis também acontecem aos jovens, por mais besta que seja e que é preciso ter força para seguir em frente e principalmente não nos tornarmos imbecis. Era essa a lição que eu tirava.
Conforme o tempo vai passando, esse livro ficou para trás assim como tantos outros e os sonhos dessa época foram transformados em novos sonhos possíveis, como em um eterno balé de camaleões. Eis que semana passada comprando os presentes de natal, encontro 14 anos depois o tal livro na prateleira. É lógico que comprei. E vorazmente me conduzi para a sua leitura.
Evidente que hoje, anos depois e com alguns fracassos e decepções espalhados no caminho, as percepções são totalmente diferentes. Mas o essencial continua lá. Não seria clichê dizer que o livro hoje ainda continua fundamental ou talvez isso seja pretensão demais, mas sua leitura continua tão saborosa e contestadora quanto antes.
Marcelo Rubens Paiva contou sua vida, expôs suas duvidas, seus sentimentos, que eram os mesmos de toda uma geração, que brigava por um mundo melhor, mas que não deixava nunca de lado a diversão, o amor, as brincadeiras, a alegria. Na teia de "personagens", impossível ficar indiferente ainda hoje pelo brio da mãe do cara, pela sexualidade da Nana, pelo companheirismo do Neguinho ou pelas rodas de violão da turna e suas aventuras.