Chama-se “4” o tão aguardado novo disco dos Los Hermanos, ainda sobre a batuta do produtor Kassin e elaborado novamente no sitio, longe de tudo e de todos, tudo mais ou menos como o processo dos últimos discos, mas com uma diferença vital, os caras abandonaram de vez o rock. Calma, isso não é ruim, pelo contrário é bom demais. "Bloco do Eu Sozinho” ainda é a obra prima dos caras, mas o som de “4” é extremamente delicioso de ser ouvido, disco para deixar tocando horas e horas no cd player, simplesmente fascinante. “4” é um passo a frente na trajetória musical da banda, novos horizontes se encontram com antigas idéias, produzindo um resultado ímpar. “Dois Barcos” abre o disco com uma melodia cativante, harmonia arrebatadora, lembrando Lô Borges e Milton Nascimento, com uma letra que vai ecoando dizendo “Só eu sei nos mares por onde andei...”, sendo impossível não se emocionar. Depois vem “O Primeiro Andar”, uma baladinha suave que podia estar plenamente em “Ventura”, com aquele andamento que só os Hermanos sabem dar, com uma letrinha esperançosa e ao mesmo tempo nostálgica. “Fez-se mar” chega de mansinho, com sua melodia singela e os vocais erguindo uma montanha de emoções, ecoando vagas lembranças de bossa nova e das canções do inicio dos anos 50...Ah...o amor...e lá vai “Parece que o amor chegou ai...”, fazendo os mais duros corações lembrarem de algo no passado. Chega um quase ritmo latino em “Paquetá”, sem paródias fracas, da vontade de estar tomando uma boa cerveja, vendo um belo por do sol, e exorcizando alguns demônios internos, afinal “Eu zanguei numa cisma eu sei...”. O disco começa a tomar aquela idéia de “cara, isso ta muito bom...”, quando a formatação quebrada de “Os Pássaros” vem dar uma nova cara, com um pouco de “cool jazz” e o tradicional desleixo vem com uma letra que chamar de melancólica é pouca, a cabeça começa a girar mesmo. “Morena” chega com um ritmo um pouco mais animado (mas nem tanto), lembrando Gonzaguinha e jogando a conquista e declarações no ar: “Prefiro assim com você, juntinho sem caber de imaginar...”, podendo até parecer brega, mas em uma canção dos caras, dificilmente algo fica assim. “O Vento” transforma lirismo em nostalgia, melodia em melancolia e vem arrebatadora, reinventando seu estilo dentro da sua própria ousadia, incrível como as passagens vão se alternando devagar, sem pressa, sossegadas, construindo o cenário deprê perfeito. Já sentindo faltas das guitarras chega “Horizonte Distante”, um rock pequeno (sim, eles ainda existem!!) em andamento menor, com direito a até um solo de guitarra.
Chega a vez de talvez a grande canção desse disco, "Condicional” com uma letra que chega a dar vontade de sair vomitando impropérios ao mundo, única canção do disco capaz de levantar uma provável alegria (no ritmo, não me entendam mal), com um arranjo canalha aparecendo pelo meio da melodia. E pode deixar que lá vem: “Quis nunca te perder....”, haja coração, haja coração. “Sapato novo” entra diminuindo o clima totalmente, com efeitos de teclado e acordes de violão, letra emocionante, uma das melhores do disco pela simplicidade e delicadeza. “Eu só levo a saudade....”, pode deixar comigo, digo eu. O final do disco vem chegando assim com “Pois é” do Marcelo Camelo, também em andamento menor, com guitarras ecoando vez ou outra, dando uma dramaticidade cinematográfica para a letra. Canção que ficaria muito bem num filme, em uma cena com um cara seguindo sozinho em uma estrada deixando o passado e seus amores para trás. A última música “É de lágrima” chega tranqüila, finalizando o clima do disco, até cair em distorções no final para voltar ao seu andamento e sair de cena, mansinha, mansinha. Os Hermanos produziram um grande álbum sem duvida, se reinventado o que é primordial e compondo canções com uma absurda carga de emoção. “4” não tem uma canção acima das demais e nem no nível de “Retrato pra Ia Ia”, “Sentimental”, ou “Vencedor”, mas na boa, acho que essa era exatamente a idéia dos caras. Disco extremante indicado para quem acredita no amor, para quem não acredita, para quem já amou alguém, para quem não amou ninguém, ou para simplesmente quem gosta de boa música, feita com criatividade e qualidade. É deixar rolar as canções, pegar uma boa bebida e começar a pensar na vida...
3 comentários:
Lindo, lindo, lindo, não? Como diria a Susuia, eu "me envolvi" completamente com esse disco. O pessoal lá no laboratório não agüenta mais escutar, rs. As minhas prediletas são "Os Pássaros", "O Vento" e "Condicional” - todas do Rodrigo Amarante. Se bem que a cada dia encontro qualidade em uma das outras faixas, é impressionante.
Qnt ao post de ontem, eu não lembro bem o que havia escrito. Mas posso dizer que gostei bastante dos seus últimos textos e principalmente de “Como os Demais”.
Ahn... tbm havia falado que é uma boa surpresa saber que gostas de “Mojave 3”. Eu tenho um único álbum deles, que realmente adoro, o “Excuse for Travelers”.
Beijinhos p ti =*
A primeira vez que ouvi o cd não sabia se tinha gostado ou não. Pensei: "caramba, são poesias musicadas! mas tá faltando alguma coisa mais de música aqui." Na segunda, comecei a lagrimar (que mentira, chorei de verdade!) com condicional e sapato velho. Dai em diante, escutei várias vezes sem parar. Já tem uns dois dias que dei um tempo no cd, não quero saber as músicas de cor... só pra ter o prazer de ir descobrindo novamente... Vida longa ao los! E Drico, qq informação sobre o show de outubro, divulgue no cultura direta. :)
Suspeitíssima eu pra falar de Los Hermanos, imagina, a abanda predileta de uma garota passional? Bem, desde de quando tive acesso a essa maravilha não paro de escutar, e quando não to escutando estou cantando... Concordo, nada é comparável a retrato pra Iaiá (que sempre me leva a lágrimas) mas o que é, condicional? ENVOLVIDISSÍMA eu fiquei com essa música... Tenho que tirar o chapéu pros arranjos e as melodias muitas leituras do mesmo, a cara da banda mas com diferenças que só me fazem cada vez mais afirmar que LOS HERMANOS É MINHA BANDA PREDILETA!
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