Não sei quem disse certa vez, que sempre que lemos novamente um livro, temos um novo livro, uma nova história. Além de concordar plenamente com tal assertiva, sempre que posso faço isso, o mais recente caso foi com "On The Road (Pé na Estrada)" do Jack Kerouac. Li esse livro pela primeira vez quando tinha 11,12 anos, relendo aos 15 anos mais ou menos. Nessa época era a minha espécie de livro predileto, compondo a minha tríade sagrada e pessoal ao lado de "Outsiders - Vidas sem rumo" de S.E. Hilton e de "A Clocwork Orange (Laranja Mecânica)" de Anthony Burgess.
Com o tempo fui relendo essas obras, mas nada de encontrar o livro de Kerouac para comprar, li outros livros seus, peguei trechos pela internet, conheci outros autores da sua geração, mas nunca achei novamente o tal livro. Eis que mês passado, encontro em uma vitrine qualquer com a tradução competente de Eduardo Bueno, o "Peninha" e lá fui novamente cair aos delírios de Neil Cassady/Dean Moriatty, anos depois, com outra visão de vida aos 26 anos, bem mais cético e com menos sonhos e mais frustrações na bagagem. E Sal Paradise entrava novamente na minha vida, pela janela feito no livro, que para quem não conhece, como dizem "a bíblia do movimento beat", é questão de ordem conhecer.
Lançado em 1957 nos USA (o livro se passa na segunda metade dos anos 40), após a geração perdida como foi chamado aqueles jovens, em meio a guerra fria e toda a hipocrisia de uma sociedade que deslumbrava seu modelo de vida ao mundo, o livro foi um tremendo sucesso, justamente por ir contra tudo isso, contra os moldes, costumes e outros tipos de literatura como a de Ernest Hemingway. No universo de Kerouac não havia espaço para heróis, mocinhas, ou algo do tipo, seus personagens eram reais, eram vagabundos, prostitutas, desenganados, desempregados, delinqüentes juvenis, escritores fracassados (como ele próprio), loucos e alucinados de todo tipo que viviam espalhados pela "Bela América", em seus guetos, submundos, em seus bares imundos, praças e rodoviárias sem graça.
No livro, Sal Paradise narra suas aventuras e desventuras pela América ao lado de seu amigo Dean Moriatty, cinco anos mais jovem que ele e completamente louco, demonstrando suas teorias pelos quatro cantos, suas teses de vida e suas satisfações. Com amigos espalhados em toda a América, Sal e Dean partem em busca de algo que nem mesmo eles sabem o que é, em meio a efervescência do jazz, descoberta e consumo de drogas, caronas de beira de estrada e mulheres, fazendo assim um retrato de toda uma geração americana que não era demonstrada, ficando no gueto, multifacetados na sua própria essência.
Lendo agora, apesar de não ter a mesma idade de outrora e não possuir os mesmos sonhos, consolido em minha mente, "On The Road" como um livro básico, um retrato de uma geração. Contra-literatura, literatura marginal, ou como todos chamam a "beat generation" foi fundamental para o mundo das artes contemporâneas, impossível imaginar a obra sem ela e com a mesma desenvoltura de Bob Dylan, Jim Morrison, Lou Reed, Andy Warhol, entre outros tantos. Simplesmente fundamental. Guardarei o livro para posteriores leituras no decorrer da vida e algumas outras singularidades a serem descobertas através de Sal Paradise e Dean Moriatty.
Um comentário:
Oie Adriano,
Qnt tempo menino! Nunca mais te vi pessoalmente e nem virtualmente. Vais ao show da "Stress" amanhã ou ao Café no sábado? Estarei por lá.
Me deixaste instigada para ler esse livro.
Beijinhos
Postar um comentário