Em 2017 o escritor Colson Whitehead
ganhou o Pulitzer de melhor ficção com o ótimo “The Underground Railroad” e em
2020 repetiu a dose com “O Reformatório Nickel” que tem edição nacional
pela Harper Collins Brasil com 240 páginas e tradução de Rogério Galindo. O
tamanho do feito é imenso. Ele se tornou apenas o quarto autor na história a
ganhar duas vezes o prestigiado prêmio. Antes dele somente Booth Tarkington
(1919 e 1922), William Faulkner (1955 e 1963) e John Updike (1982 e 1991)
tiveram essa honra. Mas isso não foi por menos, “O Reformatório Nickel”
é um daqueles livros de poder narrativo poderoso que apresenta uma história
inspirada em fatos reais que é extremamente relevante, ainda mais no momento em
que vivemos hoje. Ambientado na maior parte no início dos anos 60 enquanto a
marcha pelos direitos civis avança nos USA, tem Elwood Curtis como protagonista
que mesmo bem jovem é atento ao movimento e começa a participar de atos
públicos e sonhar com um futuro melhor, um futuro com mais oportunidades e
igualdade. Enquanto trilha o caminho para a desejada universidade sofre uma
injustiça absurda que o arremessa dentro do sistema penal americano onde a
brutalidade é quem dita o ritmo ferozmente. Anos e anos depois, por acaso, se
descobrem todos os crimes ocorridos na instituição que interrompeu o caminho de
centenas de jovens e a história se amarra entre presente e passado de modo
brilhante com direito a uma reviravolta de tirar o fôlego. Um livraço.
Nota: 9,0
A escritora canadense Margaret Atwood
publicou “The Handmaid’s Tale” em 1985 e desde então o livro foi angariando fãs
e mais fãs com transposição de sucesso para outras mídias, sendo a mais recente
uma série muito bem realizada. Há muito se esperava uma sequência para saber
como o futuro distópico imaginado por ela (e hoje infelizmente já não tão
distante assim da realidade) continuaria, se Gilead continuaria sua espiral de
delírio ou teria uma derrocada. Em “Os Testamentos” (“The Testaments”,
no original), a autora responde isso. Com lançamento no final de 2019 pela
editora Rocco com 447 páginas e tradução de Simone Campos, trata-se de uma
leitura daquelas que o livro insiste em ficar na mão, ainda mais para aqueles
que já conhecem a história e o seu poder de crítica social, política e de
costumes. São três narradoras nesse novo romance de Atwood: de uma tia que de
juíza de vara familiar virou um dos alicerces do regime, de uma testemunha
criada já dentro desse regime e de outra testemunha que vê e interpreta a
situação diretamente do Canadá, fiel opositor de Gilead mesmo que com algumas
peculiaridades. A partir do avanço da trama a autora cuidadosamente vai não
somente entrelaçando esses três depoimentos para contar os rumos que Gilead
toma, como também arregimenta os laços com o livro anterior. Totalitarismo,
política, opressão, misoginia, estupidez, medo e, claro, uma esperança
brilhando lá no fundo (esperança que precisamos tanto agora) faz dessa
continuação tão recomendável quanto o trabalho de 1985.
Nota: 9,0